Insuficiência cardíaca Flashcards
Definição e IC
insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa, sendo a via final de diversas outras condições
que afetam o coração. Nela, o coração é incapaz de bombear o sangue de forma a atender às necessidades
metabólicas tissulares ou pode fazê-lo somente com elevadas pressões de enchimento. Tal síndrome pode ser
causada por alterações estruturais ou funcionais cardíacas e caracteriza-se por sinais e sintomas típicos, os
quais resultam da redução no DC e / ou das elevadas pressões de enchimento no repouso ou no esforço
Sinais clássicos daIC associados à redução do DC ou às elevadas presões de enchimento
- Edema
- Síncope
- Cansaço
- Dispneia
- Ortopneia
classificação NYHA e ACC
NYHA: 1 a 4, baseado em sintomas (assintomático, sintomas leves, sintomas moderados, sintomas graves)
ACC: A a D
A: Ainda não tem IC, mas tem fatores de risco predisponentes (DM, obesidade, dislipidemia, HAS) → A
abordagem é o controle dos fatores de risco
📌 ICFEp: Algumas comorbidades estão mais classicamente associadas à disfunção diastólica, como DM, obesidade, maior prevalência em mulheres e em idosas →
Comprometimento estrutural que afeta o relaxamento (aumento da rigidez de VE e vascular)
- B: Já existe a iC e deve-se pensar em medicamentos que evitem a progressão da doença
- C: Pode não estar tão bem responsivo ao tratamento, de forma que outras abordagens
não-medicamentosas devem estar em mente
- D: Paciente refratário. Considerar transplante e dispositivos mecânicos de assistência ventricular ou até
mesmo cuidados paliativos
Objetivos do tratamento farmacológico
Evitar a progressão da doença e o agravamento dos sintomas
- A cura não é possível, apesar de poder ter aumento da fração de ejeção (IC com fração de
ejeção melhorada - Era reduzida e, com o tratamento, há melhora da FE) e reversão do
remodelamento cardíaco
- Redução da mortalidade
- Evitar interações recorrentes por piora clínica
- Melhorar o estado clínico, funcional e a qualidade
As diretrizes de tratameto são semelhantes na recomendação:
- iECA
- Beta-Bloqueadores
- Antagonistas de receptores mineralocorticoides
- Inibidores do cotransportador sódio-glicose (Glifosinas)
O que oganismo faz de maneira compensatória na IC
- aumenta resposta simpática e ativa SRAA
inicialmnte é benéfico, mas a exposição crônica a niveis elevados e sustentdos de catecolaminas, ANG 2 e aldosterona é prejudicial (catecolaminas em excesso provovam uma diminuição da sinalização adrenérgica e redução no número de receptores). Ainda, há ativação de um padrão genético na IC nos cardiomiócitos-> alterações fenotípicas e metabólicas (reprogramação de morte do cardiomiócito) -> hipertrofia do cardiomiócito, com proliferação de fibroblastos e aumento da deposição de colágeno (enrijecimento cardíaco e predisposição à arritmias)
catecolaminas, ANG 2 e aldosterona -> os 3 induzem morte celular dos cardiomiócitos por ativações de vias da apoptose e necrose dos cardiomiócitos, ocasionando remodelamento cardíaco adverso. Quando o coração hipertrofia, não aumenta proporcionalmente a vascularização, ocorrendo déficit energético -> ativa vias que resultam em morte celular devido à isquemia
Todo padrão de despolarização fica alterado, havendo predisposição a arritmias - A hiperativação do SRAA provoca aumento da retenção de fluidos, que ocasiona aumento do retorno venoso → Aumento de pré-carga
- O aumento da pré-carga aumenta o volume diastólico final e uma maior dimensão do VE
- Em condições não-patológicas, se há um aumento do estiramento das fibras cardíacas, haverá maior força de ejeção ventricular (mecanismo de Frank-Starling), mas na IC isso não ocorre. Se aumenta o estiramento, não
consegue ejetar adequadamente, o que ocasiona congestão sanguínea no coração - Aumento da pré-carga → Aumento do estresse sobre a parede ventricular →
Aumento do consumo de O2 pelo miocárdio - O remodelamento não se restringe ao coração, ele também ocorre nos vasos sanguíneos,
provocando aumento da pós-carga
Peptídeos natriuréticos
⭐️ Se contrapõem à ativação neuro-humoral
ANP (Atrial - secretado pelo átrio)
BNP (Cerebral - secretado pelo ventrículo)
- São liberados na distensão mecânica da musculatura cardíaca, o que ocorre na IC devido à sobrecarga
de volume
- São natriuréticos → Natriurese e diurese
- Vasodilatadores anti-hipertróficos e anti-fibróticos que melhoram a complacência do VE
Objetivos do tratamento e principal fármaco usado
📈 Objetivos do tratamento
- Principal: Cessar a ativação humoral excessiva (reduz progressão da doença)
- Reduzir pré-carga
- Reduzir pós-carga
✔️ B-Bloqueadores – NA → Bloqueio das ações excessivas mediadas pelas catecolaminas
✔️ iECA – Ang II
- Há uma superioridade dos iECA aos BRA no tratamento da IC, provavelmente pela ação da bradicinina
✔️ ARM (Antagonista de Receptor de Mineralocorticoides) – Aldosterona
- Base do tratamento da IC
✔️ iSGLT2 → Reduzem pré-carga por redução da reabsorção de glicose, provocando diurese
Bases para o uso de Bets bloqueadores
IC é caracterizada por hiperativação sustentada do SN Simpático, o que tem efeitos deletérios sobre o
coração, rins e vasos
- Hipertrofia, necrose, apoptose de cardiomiócitos
- Fibrose miocárdica
- Retenção de sódio e água, ativação de SRAA
- Remodelamento vascular, vasoconstrição neurogênica
- Um vaso não complacente aumenta a PAS e reduz a PAD: Se reduz PAD, reduz a perfusão
coronariana
👉 Há associação entre a ativação do sistema simpático e mortalidade em pacientes com ICFEr
- Pacientes com hiperatividade adrenérgica têm maior risco de morrer por IC
Quais beta bloqueadores tem maior eficácia na iC?
- carvedilol
- bisoprolol
- metoprolol
Consequencias finais do uso de beta bloqueadores
📌 Redução da mortalidade, internações, melhoria dos sintomas e reversão do remodelamento cardíaco com
aumento da fração de ejeção → Redução da progressão da doença
- Todos eles são de liberação prolongada, permitindo um bloqueio adrenérgico contínuo
- Não resultam em flutuações muito grandes de concentrações plasmáticas
Mecanismo de ação e efeitos farmacológicos dos BB
Antagonismo de receptores beta-adrenérgicos
- Efeitos antiarrítmicos e bradicárdicos
📌 Diminuição da FC é um alvo terapêutico na IC:
- Proporciona maior tempo diastólico (melhora da perfusão coronariana)
- Reduz a demanda de O2
- Melhora a força de contração (inotropismo)
- Pacientes com IC têm relação Força x FC inversa: Em hígidos, no aumento
da FC, aumenta a força de contração. Na IC, o aumento da FC reduz a força
de contração
- Tentativa de manter a FC menor que 70 bpm em pacientes com IC
- Normalização da expressão de receptores adrenérgicos (“reset” no coração)
- Redução do mVO2 (consumo de O2 pelo miocárdio)
- Efeitos antiapoptóticos, necróticos e antifibróticos → Evita o remodelamento cardíaco
- Atenuação da ativação do SRAA
Considerações terapêuticas do uso de BB
Diferenças entre os beta-bloqueadores (carvedilol, bisoprolol e metoprolol)
Biso e metoprolol – Seletividade B1
Carvedilol – Não seletivo beta, antagonista alfa 1
Iniciar com doses baixas (menor dose possível, cerca de ⅛ da dose) – Suspensão abrupta do suporte
adrenérgico pode levar à bradicardia excessiva e descompensação
Não iniciar durante IC Ag
Bases para o uso de iECA
Hiperativação do SRAA é central na fisiopatologia da IC, causando
- Remodelamento cardíaco e vascular
- Vasoconstrição excessiva e retenção de sódio
- Disfunção endotelial
- Estresse oxidativo e inflamação
- Ativa o sistema nervoso simpático
Eficácia dos inibidores da ECA
enalapril e captopril
Mecanismo de ação iECA
Inibição da enzima conversora de angiotensina II
- Redução da síntese de Ang II
- Redução da liberação de Aldosterona
- Redução da degradação de Bradicinina → Efeito farmacológico da Bradicinina favorável na IC
📌 Por isso que os iECA são mais recomendados que os BRA, que não promovem redução da
degradação da Bradicinina (efeito cardioprotetor)
Considerações terapêuticas do uso de iECA
Antes de iniciar a terapia, deve-se avaliar:
- PA
📌 Não se deve iniciar o tratamento com iECA se o paciente estiver hipotenso → Se a PA cair ainda
mais, haverá ativação do SN Simpático
- Função renal (creatinina)
- Ang II faz vasoconstrição da arteríola eferente numa tentativa de preservar a filtração
glomerular. Se entrar agressivamente com iECA e redução de Ang II, há perda desse
mecanismo de autorregulação, podendo promover insuficiência renal aguda, que cursa com os
aumentos dos níveis de creatinina
- iECA provoca aumento de creatinina → Aumento de até 20% é tolerável; de 20 a 50% acende
um alerta e acima de 50% deve suspender
- Eletrólitos (Potássio – DM, IR, efeitos sinérgicos com MRA e poupadores de K+)
- MRA: Antagonista de receptor de mineralocorticoide
- iECA provoca hipercalemia como efeito adverso → Deletério para o sistema de condução
- Se houver predisposição à hipercalemia (DM, insuficiência renal crônica, uso de
medicações que causam hipercalemia, como Espironolactona e outros diuréticos
poupadores de potássio), o risco de hipercalemia é aumentado
Iniciar com doses baixas e progredir lentamente, com monitoração
- Evitar internações desnecessárias
Em caso de intolerância, optar por iNRA (inibidor de neprilisina e receptor de angiotensina) ou BRA
- A principal causa de intolerância aos iECA é a tosse seca (causada pela Bradicinina)
- O melhor é optar por iNRA, mas BRA é mais barato
Bases para o uso de iNRA
Neprilisina: Degrada os Peptídeos Natriuréticos e a Bradicinina
- AMP e BNP: Se cotrapõem à hiperativação adrenérgica do SRAA
iNRA: Impedem a degradação dos peptídeos natriuréticos, os quais são um contraponto à ativação
adrenérgica pelo SRAA, de forma que a degradação seria prejudicial. Esses medicamentos, então, sustentam os
efeitos de ANP e BNP:
- Aumento da excreção urinária de sódio e consequente de água
- Vasodilatação → Redução da pós-carga
A eficácia da medicação reduz com a progressão da IC (Redução da biodisponibilidade, da responsividade e
superativação das demais vias)
- A atuação medicamentosa depende da presença dos peptídeos no sistema e, quanto mais avançada a
IC, menor a quantidade de peptídeos
- Com a progressão da doença, há uma maior ativação simpática do SRAA
Eficácia iNRA
Redução da mortalidade, internações, melhoria dos sintomas e reversão do remodelamento cardíaco
👉 Estudos demonstram superioridade em comparação ao Enalapril em relação ao desfecho primário principal
(morte cardiovascular e hospitalização por IC)
Infelizmente, os iNRA são menos acessíveis financeiramente do que os iECA
Mecanismo de ação e efeitos farmacológicos iNRA
Entresto → Sacubitril/Valsartana
Sacubitril / Valsartana
- Valsartana: BRA
- Sacubitril: Pró-fármaco que inibe a Neprilisina (Peptidase que degrada os Peptídeos Natriuréticos e a
Bradicinina)
Efeitos farmacológicos
- Natriurese → Diminui pré-carga
- Diurese → Diminui pré-carga
- Vasodilatação → Diminui pré e pós-carga
- Inibição da trombose, fibrose, hipertrofia de cardiomiócitos e liberação de aldosterona (Ang II induz a
liberação de Aldosterona, se os receptores de Angiotensina estão inibidos, a Aldosterona não é
liberada)
Efeitos adversos inibidores da neprilisina e do receptor de angiotnsina
Hipotensão
- Bradicinina e Peptídeos Natriuréticos são vasodilatadores (BPN e APN são diuréticos)
- Ajustar a dose de diuréticos, corrigir volume antes do início e iniciar com a menor dose possível
Hipercalemia e disfunção renal
- Avaliação basal e cuidadosa da taxa de filtração glomerular e eletrólitos
- Monitorar durante o tratamento
Neprilisina impede a degradação de peptídeos beta-amiloides no cérebro → Acúmulo de peptídeos
beta-amiloides
- Prejuízo da função cognitiva e pode levar à demência em teoria
- Faltam estudos a longo prazo
Teratogênico
- Contraindicado na gestação → Classe X
Base para o uso de antagonistas dos receptores mineraloorticoides
Propriedades mineralocorticoides clássicas
- Retenção de Na e água
- Aumento da excreção de K e H
A aldosterona também:
- É pró-inflamatória
- Promove rigidez vascular
- Promove deposição de colágeno → Rigidez vascular e ventricular como consequência
- Promove necrose miocárdica
⭐️ Excesso de Aldosterona resulta no remodelamento adverso cardíaco e vascular
Eficácia dos antagonistas de receptores mineralocorticoide
Redução da mortalidade, internação, melhoria dos sintomas e reversão do remodelamento cardíaco
Mecanismo de ação e efeitos farmacológicos dos antagonistas de receptores mineralocorticoides
Normalmente, a aldosterona age da seguinte forma:
Aldosterona é um hormônio esteroidal
- Age sobre receptores intracelulares
- A ligação com o receptor mineralocorticoide será translocada para o núcleo, onde aumenta a expressão
de transportadores de sódio (ENaC) e da bomba sódio-potássio-ATPase
- ENaC promove reabsorção de sódio na membrana luminal
- Bomba Na/K/ATPase promove a saída do sódio da célula tubular para o capilar peritubular na
membrana basolateral
Espironolactona impede a ligação da Aldosterona ao seu receptor mineralocorticoide
- Reduz a expressão de proteínas responsáveis pela reabsorção de Na, de forma que o Na será
eliminado na urina
- A menor reabsorção de Na+ resulta em menor excreção de K+ e H+ → Hipercalemia* e acidose
metabólica
- Atenua os outros efeitos da Aldosterona: Fibrose (remodelamento cardíaco e arritmias)