Anestésicos Locais Flashcards
Definição
Toda substância capaz de bloquear os impulsos aferentes, de maneira reversível e localizada, especialmente aqueles que conduzem os estímulos dolorosos”
Estrutura Química
Os anestésicos locais são bases fracas, compostos por um anel benzênico, uma amina quaternária, e uma cadeia intermediária.
A cadeia intermediária pode ser de dois tipos: éster ou amida. Essa estrutura se relaciona com algumas propriedades importantes dos anestésicos locais, em especial seu metabolismo.
Ésteres
Amidas
Metabolização Plasmática (local, tecidual) (Hidrolise)
Metabolização Hepática (Citocromo P450)
Meia vida + curta, baixo “efeito acumulativo” sistêmico
Meia vida + prolongada
PABA (Ácido com potencial alergênico) *
A alergia a anestésicos locais não é algo muito comum. No caso de alergia a anestésicos locais do tipo éster, pode-se optar por utilizar um tipo amida com certa segurança (já que o tipo amida não contém o PABA - Ácido Paraaminobenzóico)
Ésteres
Por ter metabolização plasmática, o anestésico será metabolizado localmente, no tecido. Com isso, tem a meia vida mais curta e um menor efeito sistêmico.
Amidas
Não são metabolizados no tecido, primeiro devem ser absorvidos e chegar até o fígado. Não será metabolizado no local, mas sim a distância. Assim, é importante se atentar a difusão do anestésico.
Drogas
Éster
Amida
Benzocaína
Lidocaína
Tetracaína
Prilocaína
Cloroprocaína
Etidocaína
Procaína
Mepivacaína
Bupivacaína
Ropivacaína
Levobupivacaína
Do ponto de vista prático, a lidocaína é a mais utilizada. No ambiente cirúrgico, em especial, a bupivacaína e a ropivacaína ganham seu espaço.
Mecanismo de Ação/ Farmacocinética
O principal mecanismo é o bloqueio de canais de sódio, se ligando a receptores específicos em seu interior. Ou seja, o anestésico penetra nas fibras nervosas, e dentro delas, se liga a receptores específicos a fim de bloquear os canais de sódio.
Esse bloqueio interrompe a condução do impulso nervoso.
Como nos já vimos, todos os anestésicos são bases fracas. Qual a importância disso?
As bases fracas são aquelas que não se ionizam facilmente (ou seja, não se dissociam, são mais estáveis). O anestésico só consegue penetrar o epineuro e as fibras na sua forma não-ionizada. Sendo uma base fraca, o anestésico local tende a manter sua forma não ionizada, o que possibilita sua penetração nas células nervosas.
Depois de aplicado o anestésico é necessário que ele se difunda e penetre nas fibras nervosas. Isso leva algum tempo, que varia de acordo com as propriedades químico-físicas de cada anestésico. Esse tempo é chamado de latência, e corresponde ao tempo do início da ação dos anestésicos (cada anestésico tem o seu tempo de latência).
Obs: o anestésico é aplicado próximo as células nervosas, não dentro delas (devido ao risco de lesar as células). Por isso, é preciso que ele difunda e penetre nas células.
Abscessos
Abscessos: em abscessos vamos ter macrófagos, radicais livres e muito H+. Tudo contribuindo para um ambiente de pH muito baixo. As bases se dissociam mais em pH baixo, e é o que vai ocorrer no caso de aplicação de anestésicos em abscessos. Na sua forma dissociada o anestésico não consegue penetrar nas fibras nervosas e exercer sua ação na parte interior dos canais de sódio.
Em casos de pH baixo é possível que o anestésico funcione, mas demore muito para agir (demora muito para conseguir penetrar nas células). Também é possível alcalinizar (aumentar) o pH artificialmente (usando, por exemplo, bicarbonato de sódio).
Nervos e Fibras Nervosas
Os nervos não devem ser entendidos simplesmente como “fios que transmitem o impulso elétrico”. Existem vários tipos diferentes de fibras nervosas dentro do nervo, organizadas com ajuda de diversas estruturas, como o perineuro, endoneuro e epineuro.
Dessa forma, é possível bloquear tipos diferentes de fibras. Por exemplo, fazendo bloqueio aferente da dor, mas sem bloquear as fibras eferentes motoras (por exemplo, quando o paciente é anestesiado na perna e não sente mais dor, mas consegue mexer a perna). Isso pode ocorrer de forma semelhante para bloqueios simpáticos, parassimpáticos, somáticos, proprioceptivos, etc.
Temos diferentes tipos de fibras nervosas (A, B, C), algumas são mielinizadas e outras não. Temos fibras para dor, outras para temperatura, tato, propriocepção, tônus muscular, etc. É importante lembrar que existe essa diferenciação entre vários tipos de fibras nervosas
A-alfa
Motora, Propriocepção
Mielinizadas
A-beta
Motora, Propriocepção
Mielinizadas
A-x
Tônus Muscular
Mielinizadas
A-delta
Dor, Temperatura, Tato
Mielinizadas
B
Sistema Nervoso Autônomo
Finamente Mielinizadas
C
Dor, Temperatura, Tato
Amielínicas
As principais fibras que levam estímulos dolorosos são as do tipo C, que são amielínicas. Também temos fibras mielinizadas que são responsáveis por estímulos aferentes de nervos periféricos, por exemplo, as fibras A-delta (mielinizadas). Então, a dor é aferida principalmente por fibras C e fibras A (delta).
Algumas são mais relacionadas a dor imediata, como quando você coloca a mão na chapa quente: vem a dor rápida e quando parece que a dor vai embora, volta a doer mais (as outras fibras agora começaram a trazer a aferência).
Sequencia de Bloqueio
Essas diferenças nas estruturas e mielinização das fibras faz com que sejam penetradas pelos anestésicos em tempos diferentes, como que em uma sequência: as fibras simpáticas do tipo B (finamente mielinizadas) são penetradas de forma relativamente rápida (o que causa vasodilatação evidente, devido ao bloqueio simpático); depois vem a perda de sensibilidade térmica e dolorosa; depois sensibilidade de tato e pressão; somente depois as fibras motoras serão bloqueadas.
É possível fazer uma anestesia e bloquear apenas até as fibras de sensibilidade térmica e dolorosa (por exemplo), mantendo as fibras de tato, pressão e motoras funcionando normalmente.
Propriedades Físico-Químicas
Propriedades Físico-Químicas
Essas propriedades se relacionam diretamente com a ação dos diferentes anestésicos locais.
I. Lipossolubilidade
Diretamente relacionado com a potência do anestésico, e consequentemente, com a toxicidade (enquanto maior for a lipossolubilidade, maior será a potência e a toxicidade).
II. pKa
Diretamente relacionado com o início da ação.
III. Ligação Protéica
Diretamente relacionada com o tempo de ação.
IV. Peso Molecular
Diretamente relacionado com a difusão.
Anestésico
pKa
% Ionização
Lipossolubilidade
%Lig Protéica
Bupivacaína
8.1
83
3420
95
Etidocaína
7.7
66
7317
94
Lidocaína
7.9
76
366
64
Mepivacaína
7.6
61
130
77
Prilocaína
7.9
76
129
55
Ropivacaína
8.1
83
775
94
Cloroprocaína
8.7
95
810
-
Procaína
8.9
97
100
6
Tetracaína
8.5
93
58
94
De acordo com a tabela (que não precisa decorar) podemos relacionar as propriedades dos anestésicos com a sua ação.
Qual anestésico é mais potente: a bupivacaína ou a lidocaína?
A propriedade que melhor se relaciona com a potência é a lipossolubilidade, dessa forma, a bupivacaína é mais potente que a lidocaína. Essa propriedade também se relaciona com a toxicidade de um ponto de vista sistêmico, então a bupivcaína é também mais tóxica do que a lidocaína.
Qual dos anestésicos tem maior duração da ação: a lidocaína ou a ropivacaína?
A propriedade que melhor se relaciona ao tempo de ação é a ligação proteica, e por isso, a ropivacaína tem maior tempo de ação do que a lidocaína.
Propriedades da lidocaína
A lidocaína ganhou muito espaço devido a suas propriedades:
Tem um tempo de duração do efeito intermediário (~ligação proteica)
Possui o pKa mais próximo do fisiológico, o que faz com que a lidocaína comece a agir mais rápido, ou seja, uma latência menor (leva menos tempo para começar a agir).
Tem uma potência relativamente baixa, o que também se relaciona com baixa toxicidade (principal motivo para seu uso frequente).
Todas essas características tornaram a lidocaína a droga de escolha, principalmente em procedimentos ambulatoriais e cirurgias menores.
A prilocaína e a procaína também tem uma potência (e toxicidade) menor, o que torna possível seu uso mais frequente.
No caso de grandes cirurgias, onde se objetiva fazer um bloqueio profundo (incluindo fibras motoras), a lidocaína já não é a melhor opção, já que tem potência relativamente baixa.
Vias de Administração
Vias de Administração
Tópica
Pode ser feito também em mucosas.
Infiltrativa
Infiltração direta nos tecidos (pequenas cirurgias)
Venosa
“Anestesia de Bier”.
Troncular
Raquianestesia, peridural, combinada, peridural sacra, plexos
Absorção dos Anestésicos
Absorção dos Anestésicos
Os anestésicos locais são utilizados para agir localmente (onde foi administrado), e não a distância. Quando ocorre anestesia a distância com o uso de anestésicos locais, duas causas devem ser analisadas: o anestésico pode ter sido injetado acidentalmente dentro de um vaso sanguíneo ou está sendo rapidamente absorvido do tecido para o sangue.
Quando é absorvido de forma rápida, pode causar toxicidade sistêmica, que é o grande receio do uso de anestésicos. Os canais de sódio estão presentes em muitas células, e a absorção e difusão do anestésico pelo organismo pode causar efeitos indesejáveis, por exemplo, nas células do SNC (paciente pode convulsionar, perder a consciência), células miocárdicas (podem ocorrer assistolias), etc.
A absorção (sistêmica) do anestésico diminui sua ação local (já que ele está deixando o tecido em que foi injetado e caindo na circulação sanguínea do organismo).
Está relacionada principalmente com o local da injeção e o fluxo sanguíneo local (enquanto maior o fluxo sanguíneo no local, maior a absorção do anestésico para a circulação). As estruturas do corpo mais ricamente vascularizadas terão uma absorção maior do anestésico.
Então, de acordo com o local da aplicação, podemos dizer que a absorção é maior seguindo a ordem (de acordo com a vascularização das estruturas em que o anestésico foi aplicado):
Intravenoso > Traqueal > Intercostal > Caudal > Paracervical (colo do útero) > Peridural > Plexo braquial > Ciático > Subcutâneo.