2ºSim_grac Flashcards
Driblando os maus momentos
Marina Colasanti
1 Se você estivesse agora muito triste, o mais provável é que quisesse fugir dessa tris- teza bem depressa, antes do aprofundar-se da ferida. Talvez telefonasse para alguma ami-
5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
Considerando-se os sentidos construídos ao longo do texto e as suas estruturas linguísticas, julgue os itens subsequentes.
1. Ao exemplificar que comumente a tristeza é compartilhada, dividida, e a felicidade é resguardada, protegida, o texto opõe os significados desses dois conceitos.
Errado.
O texto opõe os comportamentos geralmente seguidos pelas pessoas ao lidarem com a tristeza e com a felicidade, o que rigorosamente não significa que essa oposição de comportamentos seja o meio que o texto emprega para opor os conceitos de tristeza e felicidade.
Driblando os maus momentos
Marina Colasanti
1 Se você estivesse agora muito triste, o mais provável é que quisesse fugir dessa tris- teza bem depressa, antes do aprofundar-se da ferida. Talvez telefonasse para alguma ami-
5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- Apontando comportamentos comumente seguidos pelas pessoas em relação à tristeza e à felicidade, o texto enquadra-se na tipologia injuntiva, em virtude de implicitamente aconselhar como se deve lidar com esses dois estados emocionais.
Errado.
A tipologia predominante no texto é a argumentativa, uma vez que a autora apresenta e sustenta seu ponto de vista acerca da maneira de lidar com momentos difíceis na vida.
Driblando os maus momentos
Marina Colasanti
1 Se você estivesse agora muito triste, o mais provável é que quisesse fugir dessa tris- teza bem depressa, antes do aprofundar-se da ferida. Talvez telefonasse para alguma ami-
5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- São exemplos de expressões com linguagem figurada no texto: “…aprofundar-se da ferida.” (l. 3-4), “…evitar a fossa…” (l. 13) e “…metendo os pés pelas mãos.” (l. 48-49).
Certo.
A expressão “aprofundar-se da ferida” significa a piora da tristeza; “evitar a fossa”, fugir da tristeza intensa; “metendo os pés pelas mãos”, cometer erros. São expressões em que se empre- ga linguagem figurada porque os sentidos dos vocábulos “aprofundar”, “fossa”, “pés” e “mãos” são conotativos, não literais, nesse contexto.
Driblando os maus momentos
Marina Colasanti
1 Se você estivesse agora muito triste, o mais provável é que quisesse fugir dessa tris- teza bem depressa, antes do aprofundar-se da ferida. Talvez telefonasse para alguma ami-
5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- No texto, o vocábulo “beatitude” (l. 19) foi empregado como sinônimo de “felicidade”.
Certo.
De fato, “beatitude” significa “felicidade” no texto.
Driblando os maus momentos
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5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- A forma verbal “faz” (l. 32) pode ser substituída por “age”, sem alteração semântica do sentido original.
Certo.
De fato, o verbo “fazer” nesse contexto equivale semanticamente a “agir”.
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1 Se você estivesse agora muito triste, o mais provável é que quisesse fugir dessa tris- teza bem depressa, antes do aprofundar-se da ferida. Talvez telefonasse para alguma ami-
5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- A expressão “ex namorado” (l. 9) segue as regras ortográficas atualmente vigen- tes na Língua Portuguesa.
Errado.
Nas expressões em que aparece o prefixo “ex”, sempre ocorre o emprego de hífen. Assim, a forma correta da grafia da expressão é “ex-namorado”, com hífen.
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5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- Os vocábulos “artifícios” (l. 39) e “ânsia” (l. 84) são acentuados pela mesma razão
Certo.
As duas palavras são acentuadas em virtude de serem paroxítonas terminadas em ditongo oral.
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1 Se você estivesse agora muito triste, o mais provável é que quisesse fugir dessa tris- teza bem depressa, antes do aprofundar-se da ferida. Talvez telefonasse para alguma ami-
5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- Os sinais indicativos de crase nas expressões “à custa de” (l. 39) e “às vezes” (l. 48) são empregados em virtude de elas serem exemplos de locuções adverbiais cujo núcleo é palavra do gênero feminino.
Errado.
O sinal indicativo de crase em “à custa de” ocorre por se tratar de uma locução prepositiva cujo núcleo é palavra do gênero feminino (“custa”). Em “às vezes”, o sinal indicativo de crase ocorre por se tratar de uma locução adverbial cujo núcleo é palavra do gênero feminino (“vezes”).
Driblando os maus momentos
Marina Colasanti
1 Se você estivesse agora muito triste, o mais provável é que quisesse fugir dessa tris- teza bem depressa, antes do aprofundar-se da ferida. Talvez telefonasse para alguma ami-
5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- O texto emprega locuções verbais, a exemplo de “quisesse fugir” (l. 2) e “deixasse pensar” (l. 7).
Errado.
Em “quisesse fugir”, tem-se exemplo de locução verbal, com o verbo “querer” funcionando como verbo modal, indicando desejo. Em “deixasse pensar”, não há locução verbal, apesar da semelhança estrutural, uma vez que os verbos “deixar” e “pensar” constituem orações distintas. Veja-se a reescrita do trecho, com as orações desenvolvidas:
que não deixasse: oração subordinada adjetiva que ela pensasse na sua tristeza: oração subordinada substantiva objetiva direta
Driblando os maus momentos
Marina Colasanti
1 Se você estivesse agora muito triste, o mais provável é que quisesse fugir dessa tris- teza bem depressa, antes do aprofundar-se da ferida. Talvez telefonasse para alguma ami-
5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- As duas ocorrências do vocábulo “que”, às linhas 14 e 18, exemplificam a mesma classe morfológica.
Errado.
O primeiro “que” é parte da expressão de realce “é… que”, não pertencendo a nenhuma das dez classes morfológicas. O segundo é conjunção integrante, estabelecendo relação sintática de subordinação entre orações.
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5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- Predomina no texto a função emotiva da linguagem, uma vez que se discutem ideias relativas às emoções humanas.
Errado.
A função da linguagem predominante no texto é a função referencial ou denotativa, uma vez que se apresentam ideias objetivamente, analisando-se aspectos que constituem a realidade.
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5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- São exemplos de recursos coesivos textuais o advérbio “assim” (l. 14) e o pronome “ela” (l. 84).
Certo.
O advérbio “assim” retoma toda a ideia contida no primeiro parágrafo. Já o pronome “ela” retoma “felicidade”.
Driblando os maus momentos
Marina Colasanti
1 Se você estivesse agora muito triste, o mais provável é que quisesse fugir dessa tris- teza bem depressa, antes do aprofundar-se da ferida. Talvez telefonasse para alguma ami-
5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- Nas linhas 33 (primeira ocorrência) e 51, o vocábulo “que” desempenha idênticas funções sintáticas.
Errado.
Na linha 33, primeira ocorrência, o vocábulo “que” é pronome relativo em função sintática de sujeito; na linha 51, é pronome relativo com fun- ção sintática de objeto direto.
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10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- A seguinte reescritura do trecho “O outro lado da questão também é verdadeiro: se você hoje estivesse feliz, extravasando o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude.” (l. 16-19) preserva seu sentido original: O outro lado da questão também é verdadeiro: se você hoje estivesse feliz, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude extravasando o sorriso nos olhos.
Errado.
No trecho original, a expressão “extravasando o sorriso nos olhos” caracteriza o vocábulo “você”. Na reescritura, o deslocamento da ex- pressão fez que ela se referira a “quisesse sair” (funcionando como oração adverbial modal). Assim,altera-se o sentido original.
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1 Se você estivesse agora muito triste, o mais provável é que quisesse fugir dessa tris- teza bem depressa, antes do aprofundar-se da ferida. Talvez telefonasse para alguma ami-
5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- As orações “Se você estivesse agora muito triste…” (l. 1) e “…querer esquivar-se da tristeza…” (l. 36-37) desempenham funções sintáticas acessórias nos perío- dos que integram.
Errado.
A oração “Se você estivesse agora muito triste…” é subordinada adverbial condicional, exercendo função sintática de adjunto adverbial, termo sin- taticamente acessório na estrutura da oração. Já a oração “…querer esquivar-se da tristeza…” é subordinada substantiva subjetiva, desempenhando função sintática de sujeito, termo sintaticamente essencial na estrutura da oração.
Driblando os maus momentos
Marina Colasanti
1 Se você estivesse agora muito triste, o mais provável é que quisesse fugir dessa tris- teza bem depressa, antes do aprofundar-se da ferida. Talvez telefonasse para alguma ami-
5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- As seguintes reescrituras dos fragmentos “…que não a deixasse pensar…” (l. 7) e “…confessando-a somente a amigos íntimos…” (l. 27-28) preservam sua correção gramatical original: que não deixasse-a pensar e a confessando somente a amigos íntimos.
Errado.
No primeiro fragmento, a ênclise é proibida, uma vez que a palavra “não” é fator de próclise. Já no segundo fragmento, é ilícita a próclise em orações reduzidas de gerúndio.
Driblando os maus momentos
Marina Colasanti
1 Se você estivesse agora muito triste, o mais provável é que quisesse fugir dessa tris- teza bem depressa, antes do aprofundar-se da ferida. Talvez telefonasse para alguma ami-
5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- As vírgulas imediatamente após os vocábulos “triste” (l. 1) e “masculina” (l. 11) são ambas de emprego facultativo.
Errado.
A vírgula imediatamente após “triste” isola ora- ção subordinada adverbial deslocada ao início do período, sendo obrigatória. Já a vírgula imediatamente após “masculina” antecede oração subordinada adverbial ao final do período, sendo facultativa.
Driblando os maus momentos
Marina Colasanti
1 Se você estivesse agora muito triste, o mais provável é que quisesse fugir dessa tris- teza bem depressa, antes do aprofundar-se da ferida. Talvez telefonasse para alguma ami-
5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- No trecho “…tememos seu efeito, recomendamos aos outros…” (l. 61-62), as duas orações possuem idêntica função sintática.
Errado.
As orações são sintaticamente coordenadas entre si, não desempenhando qualquer função sintática no período.
Driblando os maus momentos
Marina Colasanti
1 Se você estivesse agora muito triste, o mais provável é que quisesse fugir dessa tris- teza bem depressa, antes do aprofundar-se da ferida. Talvez telefonasse para alguma ami-
5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- Em “abate-se” (l. 59), o verbo foi flexionado no singular porque seu sujeito é indeterminado.
Errado.
O sujeito de “abate-se” é “um olho grande mesmo, imenso e persecutório”, cujo núcleo é “olho”, substantivo singular. Daí vem que o verbo desse sujeito deve ser flexionado no singular para haver a concordância.
Driblando os maus momentos
Marina Colasanti
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5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- A preposição “para” (l. 4) é regida pela locução verbal “tentasse desencavar” (l. 5).
Errado.
A preposição “para” não é empregada em razão da regência da locução verbal “tentasse desencavar”, mas sim porque encabeça locução adverbial de finalidade.
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Marina Colasanti
1 Se você estivesse agora muito triste, o mais provável é que quisesse fugir dessa tris- teza bem depressa, antes do aprofundar-se da ferida. Talvez telefonasse para alguma ami-
5 ga e tentasse desencavar um programa para a noite, coisa bem alegre, barulhenta, movimentada, que não a deixasse pensar na sua tristeza. Ou talvez telefonasse para um amigo, conhecido, ex namorado, enfim, alguém
10 do sexo oposto, garantindo logo uma companhia masculina, ainda que não decididamente romântica. Fosse qual fosse a opção, você ia tentar evitar a fossa, a solidão em casa, o remoer da mágoa. Pois não é assim que todo
15 mundo faz?
O outro lado da questão também é verda-
deiro: se você hoje estivesse feliz, extravasan do o sorriso nos olhos, o mais provável é que não quisesse sair nunca dessa beatitude. Se
20 a sua felicidade vem de um amor, correspondido e bem sucedido, você evitaria, talvez, os lugares de muita agitação, os grupos numerosos, e ficaria, a sós ou quase, resguardando esse amor de qualquer ameaça, de qualquer
25 possibilidade de dano. Seja qual for, no entanto, o motivo da felicidade, o certo é que você a protegeria tanto quanto pudesse, confessando-a somente a amigos íntimos e procurando custodiá-la dentro de você, conservá-la
30 ao máximo. Pois, afinal, não é assim que todo mundo faz?
É assim, de fato, que todo mundo faz. O que não significa que é assim que deva ser feito, pois, assim como a felicidade, também a
35 tristeza é uma etapa da vida, um momento. E,
embora seja reflexo natural querer esquivar-
-se da tristeza e manter-se na felicidade, a
verdade é que dificilmente isso pode ser obti-
do à custa de artifícios. Na maioria dos casos,
40 os artifícios apenas disfarçam a realidade, recalcando os sentimentos para um segundo plano em que nos seja permitido negá-los, ainda que temporariamente.
Lidar com a felicidade é, em princípio,
45 bem mais fácil do que lidar com o sofrimento. Mas a verdade é que, até mesmo por uma certa falta de costume, quando ela aparece radiosa, acabamos às vezes metendo os pés pelas mãos.
50 Basicamente, queremos conservar a felicidade. É o tesouro mais precioso, o que, por trás de tudo, todo mundo procura. Quando nos sentimos felizes, vemos em tudo uma ameaça à nossa felicidade. É a hora de temer
55 o olho grande.
O que vem a ser ele, afinal? É um olho grande mesmo, imenso e persecutório, que, tendo vislumbrado ao longe nossa alegria, abate-se sobre ela carregado de inveja, pron-
60 to a apagar qualquer sorriso. A todos e a ninguém. Acreditamos que existe, tememos seu efeito, recomendamos aos outros que tenham cuidado, fechamos as gelosias da nossa vida, mas saber de onde vem não sabemos.
65 Vem, em grande parte, de nós mesmos, configuração simbólica dos nossos medos. Por trás do “olho” está nosso inevitável sentimento de culpa: não somos perfeitos, erra- mos, então não merecemos essa felicidade e,
70 mais cedo ou mais tarde, ela nos será toma- da em pagamento de dívidas não resgatadas. Ansiosos, tentamos protegê-la.
No entanto, protegendo demais a felicidade, estamos decretando sua sentença de mor-
75 te. Estamos ratificando uma fragilidade que é nossa, pois colocar fora de nós a responsabilidade pela duração da nossa felicidade equivale a dizer que nós somos incapazes de conservá-la e até mesmo de vivê-la plenamente.
80 Sabemos que, como a tristeza, a felicida- de não pode ser eterna. Mas nos recusamos a aceitar essa verdade. Negamos à felicidade seu direito de existir pelo que é, uma etapa da vida. E apegando-nos a ela em ânsia, ne-
85 gando sua essência, perdemos muitas vezes a naturalidade necessária para usufruir de sua alegria e quem sabe prolongar realmente sua duração.
- O texto, apesar de predominantemente empregar a modalidade culta da Língua Portuguesa, por vezes emprega nível coloquial de linguagem, a exemplo de “… você ia tentar evitar a fossa…” (l. 12-13) e “…metendo os pés pelas mãos.” (l. 48-49).
Certo.
Como o texto é escrito por uma mulher para outras mulheres, é comum e esperado a autora empregar linguagem coloquial para aproximar-se de suas leitoras, o que intensifica a eficiência da sua mensagem.
Segundo os preceitos normativos da redação de documentos oficiais contidos no Manual de Redação da Presidência da República (3a edição, revista, atualizada e ampliada), responda aos itens de números 22 a 25.
- Os e-mails oficiais devem ser redigidos formalmente, uma vez que são textos de comunicação do âmbito da administração pública.
Certo.
Os e-mails oficiais, sendo textos veiculados na administração pública, seguem o preceito geral da formalidade na redação da mensagem.
Segundo os preceitos normativos da redação de documentos oficiais contidos no Manual de Redação da Presidência da República (3a edição, revista, atualizada e ampliada), responda aos itens de números 22 a 25.
- Na elaboração de um documento no padrão ofício, a seção que indica o destinatário é o desenvolvimento.
Errado.
No endereçamento é que ocorre a indicação do destinatário do documento padrão ofício.
Segundo os preceitos normativos da redação de documentos oficiais contidos no Manual de Redação da Presidência da República (3a edição, revista, atualizada e ampliada), responda aos itens de números 22 a 25.
- As expressões em língua estrangeira nos textos oficiais devem ser grafadas entre aspas, a fim de obterem destaque.
Errado.
Segundo o Manual de Redação da Presidência da República, as expressões de língua estrangeira devem ser grafadas em itálico, não entre aspas.