Texto 5: Educação inclusiva: De quem e de que práticas estamos falando? (Adriana Marcondes Machado) Flashcards
1 - REDUZIR O SOCIAL AO CORPO DO SUJEITO:
Paulo foi diagnosticado como tendo distúrbios globais de desenvolvimento.
Em seu prontuário escolar está registrado que é uma criança _________.
Tem 9 anos, ficou dois anos em uma classe especial para deficientes mentais em uma Escola Estadual de Ensino Fundamental.
Em 2003, foi para a sala regular respaldado pela legislação que defende a educação inclusiva.
Depois de três meses na sala regular, Maria, sua professora, está desanimada e chora muito.
Na escola, Paulo é considerado “problema de Maria”.
Ela se sente sozinha e fracassada.
Os técnicos da secretaria de educação haviam lhe entregado um texto intitulado “Como trabalhar com psicóticos”.
A mãe de Paulo reza todo dia, pedindo a Deus que ela não escute novamente a frase: “aqui não vai dar para ficar com seu filho”, pois, se isso acontecer, seu filho estará condenado a conviver apenas com a família.
psicótica
1 - REDUZIR O SOCIAL AO CORPO DO SUJEITO:
Aqui temos práticas que desconsideram que a inclusão não se dá incluindo os corpos das
crianças nas classes regulares.
A inclusão se dá quando se devolve ao ________ aquilo que foi individualizado no corpo do sujeito.
O grito que se ouve e que surge da boca da criança
com transtornos, ecoa e atravessa a todos produzindo efeitos diversificados em relação à produção do gritar.
Dependendo da maneira como se implanta o processo de inclusão, Paulo ficará segregado na escola, à mercê dos esforços, das angústias e da força de Maria.
Como responsabilizar o coletivo da escola por essa produção?
coletivo
2 - DESIGUALDADES CAMUFLADAS:
Pedro, 6 anos de idade, aluno de uma Escola Municipal de Educação Infantil, não queria
realizar as atividades em sala de aula naquele dia.
_______ em vários colegas, provocava e se
justificava dizendo que havia sido provocado pelos outros.
Pela manhã, a professora pediu
que as crianças desenhassem um dos animais que tinham visto no zoológico no dia anterior.
Pedro não havia ido, pois sua mãe não pôde pagar os três reais para o passeio e não aceitou
que uma das professoras pagasse por ela.
Batia
2 - DESIGUALDADES CAMUFLADAS:
Aqui temos os passeios pagos em escolas públicas.
Muitos alunos não podem ir a esses passeios por não terem dinheiro para isso.
Existirem atividades pedagógicas pagas em instituições Educativas Públicas produz processos de subjetivação nos quais os alunos, cujas famílias não podem pagar, aprendem que eles não têm o mesmo ________ à educação daqueles que podem pagar.
E, os alunos cujas famílias podem pagar aprendem que, na Escola Pública, apenas pode participar de todas as atividades pedagógicas quem tiver condições financeiras para isso.
Esses processos de subjetivação são desconsiderados por educadores e especialistas.
direito
3 - OS FALSOS DIREITOS:
Em uma reunião semanal de professoras de uma Escola Municipal de Ensino Infantil, uma das professoras relatou que ela ainda tinha quatro abonos para tirar naquele ano e que, portanto, não poderia participar de algumas atividades que estavam sendo pensadas por aquela equipe.
Estávamos no fim do ano, no dia 23 de novembro e as preocupações giravam em torno da ___________ ou não de se beneficiar do direito de abonar.
possibilidade
3 - OS FALSOS DIREITOS:
Aqui temos os falsos direitos engendrados na legislação educacional.
Esses falsos direitos são utilizados para descarregar a ________ e a desvalorização do trabalho que muitos
educadores sentem e, por isso, buscam formas individualizadas compensatórias (como as
faltas).
Muitos horários coletivos escolares são utilizados para se resolver emergências, para pensar atividades para a semana seguinte, sem tempo e sem possibilidade de refletir os acontecimentos e os objetivos da escola como um coletivo com contradições,
divergências e diferentes relações de poder.
tensão
4 - OS SUJEITOS QUE TRILHAM OS ENCAMINHAMENTOS:
A professora de Gabriel estava preocupada e sensibilizada com ele.
Ele era muito calado, não deixava ninguém chegar perto, não fazia as atividades e chorava muito.
Ela então sugeriu que se fizesse uma avaliação psicológica.
O setor de convênios da Secretaria de Educação foi acionado e Gabriel foi encaminhado para uma instituição conveniada que realiza avaliação psicológica de alunos encaminhados pela rede pública.
Depois de seis meses, Gabriel foi atendido.
A psicóloga do convênio teve alguns encontros com ele e enviou um relatório dizendo que ele precisava de atenção ______________ e que lhe faltavam concentração e uma relação mais próxima com a mãe e com o pai.
Ela não entrou em contato com os profissionais da escola, que não se beneficiaram desse trabalho.
A criança continuou agindo da mesma maneira na escola.
individualizada
4 - OS SUJEITOS QUE TRILHAM OS ENCAMINHAMENTOS:
Aqui temos a produção de trabalhos de psicólogos que desconsideram o território no qual os encaminhamentos são produzidos e uma política das secretarias de educação nas quais os encaminhamentos escolares são desconhecidos pela rede pública de saúde – são enviados diretamente para clínicas conveniadas .
A trama institucional na qual o encaminhamento é engendrado não é analisado e nem escutado, reforçando a depositação de saberes nos especialistas e denunciando uma psicologia __________ (no sentido de entender os sintomas como fenômenos engendrados apenas pelo corpo do sujeito).
individualista
5 – O HOMEM “DE BEM” SEMI-ANALFABETO
João tem hoje 18 anos.
Quando era criança, consideravam-no um aluno terrível na escola.
Um dia a diretora lhe disse que ele, da maneira como agia, iria virar ladrão.
Na terceira série, com 13 anos de idade, analfabeto, foi para a classe de aceleração.
Lá conheceu o professor Antônio que o escutou, o ensinou e que não entendia como pessoais suas atitudes agressivas, achando que ele precisava de ajuda.
João aprendeu a ler e a escrever, saiu da classe de aceleração aos 16 anos e voltou para sala regular (na quinta série) na qual não encontrou outros Antônios.
Sentia-se incapaz e discriminado.
Desistiu de estudar.
Aos 18 anos estava desempregado e teve um filho com sua namorada.
Depois de se tornar pai, vestiu-se arrumado e foi para a escola levando sua esposa e carregando seu filho no colo.
Foi à sala da diretora e afirmou: “A senhora precisa ver que eu sou um homem ‘de bem’, não sou ladrão, não”.
Todos se emocionaram e choraram. Ficaram _______.
felizes
Aqui temos a escola visando aos homens “de bem”, cujo foco é “tirar os meninos da rua”,
a “Febem-dia ”, cuja meta é disciplinar.
Ninguém estava indignado por João não ter
terminado seus estudos.
A relação com o professor Antônio é relatada como uma exceção, na qual João experimentou ser ouvido e respeitado.
Nela ele conseguiu provar que “não era aquilo que falavam dele”.
Não era ladrão, nem malandro. Realizou outras produções.
Essa maneira de viver na qual é necessário provar que “não se é” revela a força do aprisionamento produzido em processos de estigmatização.
Um aprisionamento que exige provas cujo preço é o assujeitamento.
Essa desvalorização da aprendizagem não se limita,
porém, aos usuários da escola pública fundamental; os próprios critérios institucionais
estão impregnados dela – é capaz de terminar os estudos e obter o diploma quem tem bom
comportamento.
A disciplina como critério de boa escolarização passou a ser o critério por excelência de aprovação.
E um dos grandes objetivos da escola (quando não o único para muitos) é a ____________ do diploma.
obtenção
6 - A CRIAÇÃO DE SUJEITOS CULPADOS:
Reginaldo está na quinta série, com 12 anos.
Sua professora relata que ele é muito _________ e provocador desde que ingressou nesta escola, há três anos.
Ela e a coordenadora da escola se queixam que já é a terceira vez (e estávamos no mês de maio), que chamavam a mãe e que nada adiantava.
Nas conversas com a mãe relatavam a ela as atitudes
inconvenientes de Reginaldo e pediam que ela não batesse nele, pois sabiam que, normalmente, era isso que ocorria.
A mãe saiu da escola sentindo-se pior do que havia
entrado.
Desanimada, impotente e com raiva de Reginaldo.
agressivo
6 - A CRIAÇÃO DE SUJEITOS CULPADOS:
Essa cena nos remete à relação que os profissionais da escola costumam estabelecer com a comunidade.
Chamar pais para conversar na escola, dar orientações desconsiderando o lugar de poder que os educadores ocupam, produzir efeitos _______ nos quais as mães e os pais chamados se sentem mais e mais impotentes; são práticas que nos revelam a intensa culpabilização depositada nos familiares, cuja severidade na relação com os filhos é diretamente proporcional à tristeza e à humilhação vividas em suas vidas.
É por essa via que tentam, como único recurso que lhes resta, desenvolver nos filhos algum controle
sobre suas vidas, pelo exercício do controle individual.
Como se a falta de limite individual fosse a causa das situações de fracasso.
Muitas mães nos revelam o peso, o sentimento de
impotência e os efeitos subjetivos devastadores da atribuição, aos usuários da escola pública, daquilo que é produção coletiva em um sistema escolar.
subjetivos
Algumas considerações sobre essas cenas:
A prática inclusiva é educação para __________, para cada um e para qualquer um.
Problematizamos um funcionamento institucional são necessárias rupturas.
A educação inclusiva apresenta desafios e perigos.
todos
Algumas considerações sobre essas cenas:
O desafio de podermos, ao afirmar o __________ da educação pública em nosso país, produzir reinvenções, aproveitando práticas diferenciadas que hoje existem.
O perigo das palavras novas que escondem aquilo que se repete criando uma ilusão de mudança (crianças especiais, portadores de necessidades educacionais especiais).
fracasso
Algumas considerações sobre essas cenas:
Dura realidade do despreparo geral da educação e da saúde para todos.
Produzimos fracasso, exclusão social, ___________ naqueles que frequentam a escola.
Temos visto os critérios de disciplinarização e a conquista do diploma como mercadoria fetichizada (carregado de ilusões) dominando as práticas cotidianas em detrimento da produção de saber.
Ter uma criança com comprometimentos circulando pelo cotidiano escolar intensificará a produção de preconceito, receio, medo e estigmas no interior da escola.
Como se os efeitos da desigualdade social ficassem mais nítidos.
patologias