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Questão (12/08/2024)
Os problemas urbanos se caracterizam como aqueles que acontecem dentro das cidades por conta de fatores relacionados, de maneira geral, com o crescimento desordenado destes espaços e com uma gestão pública desorganizada.
Neste sentido, produza um texto dissertativo a partir de alguns problemas sociais que interferem no cotidiano das populações urbanas, em especial dos conjuntos populacionais residentes nas metrópoles brasileiras. Leve em consideração os seguintes problemas sociais urbanos: I) a macrocefalia urbana; II) o processo de favelização; e III) a gentrificação.
Extensão máxima: 60 linhas.
I) Macrocefalia Urbana:
* Em termos gerais, a macrocefalia urbana pode ser entendida como o crescimento rápido e exagerado que um determinado centro urbano apresenta em relação a outros. No Brasil, é possível afirmar que diversas cidades, sobretudo aquelas que hoje se caracterizam como cidades grandes e metrópoles, vivenciaram este processo; contudo, é notório que os casos mais intensos de macrocefalia urbana no território nacional estão relacionados ao crescimento acelerado das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
* Em sua obra “O Espaço Dividido”, Milton Santos caracteriza a macrocefalia urbana da seguinte forma: “A macrocefalia urbana é a massiva concentração das atividades econômicas em algumas metrópoles que propicia o desencadeamento de processos descompassados:
redirecionamento e convergência de fluxos migratórios, déficit no número de empregos, ocupação desordenada de determinadas regiões da cidade e estigmatização de estratos sociais, que comprometem substancialmente a segurança pública urbana.”
* Dessa forma, observa-se que a excessiva densidade populacional que esses centros urbanos adquirem é capaz de gerar impactos de diversas ordens na vida de seus habitantes.
* Um dos impactos visíveis está relacionado com a dificuldade de se realizar um planejamento urbano mais efetivo em cidades cujas população e área de expansão horizontal sejam muito extensas – e que tenham passado por um crescimento exageradamente rápido. Assim, essa expansão pouco harmoniosa reduz a possibilidade da realização de políticas públicas efetivas, que, por sua vez, tornam-se defasadas, muitas vezes mesmo antes do seu lançamento.
* É exatamente por isso que, nos espaços urbanos macrocéfalos, os equipamentos públicos tendem a ser precarizados (sistemas de saúde e educação insuficientes, infraestruturas de transporte, comunicação, energia, saneamento pouco eficientes - sobretudo em bairros mais populosos e/ou mais carentes).
* Além disso, em áreas macrocéfalas, o desemprego e o subemprego tendem a ser mais elevados, uma vez que o excesso populacional dificulta a criação de uma rede qualificação profissional e de empregos que atenda de maneira mais adequada estes conjuntos demográficos.
* Verifica-se também o crescimento dos problemas ambientais relacionados com o excesso de produção de lixo – e a dificuldade de descartá-los adequadamente -, com a contaminação dos mananciais de água (quer seja pelo próprio lixo, pelo chorume ou pelo esgoto sem tratamento), com a poluição atmosférica e com a formação das ilhas de calor.
II) O processo de favelização:
* O processo de favelização se refere a um sério problema de ordem espacial relacionado com a expansão de áreas que se caracterizam pela predominância de ocupações irregulares dentro dos espaços urbanos.
* Em regiões macrocéfalas é uma tendência que parte da população não tenha condições econômicas para a aquisição de moradias estruturadas, em áreas estruturadas; dessa forma, conjuntos de indivíduos passam a habitar regiões impróprias ou que são desestruturadas para receber moradias.
* É notório que a favelização é um processo que envolve fatores de diversas ordens
(históricos, econômicos, sociais e geográficos), em que todos eles refletem uma carência – ou até mesmo uma ausência – de políticas públicas de acesso à moradia adequada. Esta condição denota claramente não só os problemas relacionados com as carências estruturais presentes nos espaços urbanos subdesenvolvidos, mas também a profunda desigualdade social a qual estes espaços estão submetidos.
III) Gentrificação:
* Refere-se ao processo de mudança dentro das paisagens urbanas a partir do momento em que o uso e o significado de regiões de ocupações antigas, populares e/ou marginalizadas – que se apresentam como desgastadas fisicamente – começam a mudar, atraindo moradores de renda mais elevada, o que acaba provocando um processo de ressignificação urbana.
* Nesse sentindo, os chamados “gentrificadores” (gentrifiers) mudam-se, de maneira
gradual, para estes locais, promovendo uma grande mudança na paisagem urbana. Isto pode ocorrer devido a diversas situações, contudo, questões como baixo custo dos imóveis, localização central e características arquitetônicas históricas acabam sendo os aspectos de maior relevância.
* Com a concentração destes novos moradores, estes espaços vivenciam uma espécie de “revolução urbana”, que tende a provocar a valorização econômica da região, a elevação dos preços dos imóveis e o aumento do custo de vida. Assim, os antigos residentes e comerciantes locais tornam-se vulneráveis a este processo e acabam sendo expulsos, já que não conseguem acompanhar a alta dos preços dos imóveis.
* Os moradores e comerciantes deslocados acabam sendo obrigados a se transferir para regiões urbanas mais periféricas e distantes do centro, o que gera profundas dificuldades, tais como a perda da clientela destes comerciantes e maiores transtornos para o deslocamento dos antigos moradores (que passam, em regra, a morar a maiores distâncias dos seus trabalhos).
* Apesar de a gentrificação ser vista como um processo natural dentro das grandes
cidades, é inegável que esta forma de reestruturação do espaço urbano impacta
negativamente, sobretudo na vida da população de mais baixa renda.
* Dentre alguns dos casos mais importantes de gentrificação ocorridos - ou que estão
curso - em metrópoles brasileiras estão: I) a reestruturação da zona portuária do Rio de Janeiro – sob a justificativa da realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 -; II) os casos do bairro da Vila Madalena e da região da Santa Cecília, em São Paulo; III) o “Projeto Novo Recife”, na capital pernambucana; IV) a revitalização do “4º Distrito”, em Porto Alegre; e V) o “Programa Salvador 360º”, na capital baiana.