Os Estados Unidos pós 11 de setembro de 2001: implicações para a ordem mundial e para o Brasil Flashcards

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Q

Geopolítica da Guerra Fria

A

Uma análise preliminar e introdutória aos problemas do 11 de setembro e de seu status na política americana e mundial confirmaria que, como quaisquer outros fenômenos históricos, estes possuem, ao mesmo tempo, elementos de ruptura e de continuidade. O mundo pós-11 de setembro não mudou, mas a agenda da política mundial modificou-se, não tanto pela ação em si dos terroristas como pela demonstração da vontade de poder da maior potência de nossa época.

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Q
  1. O contexto do 11 de setembro: novo “Império”, novos “bárbaros”
A

Os atentados de 11 de setembro ocorrem no momento em que os EUA, superados os obstáculos da Guerra Fria e somado o crescimento acumulado ao longo dos últimos 10 anos de boom econômico, atingem a plena maturidade de seu poderio e ocupam um lugar no panteão das potências mundiais só comparável à Roma imperial.
O exercício de poder dos EUA se dá no contexto do que denominam o “Império”, conceito definido como a nova forma global de economia, que não deve ser confundido com a desgastada noção de imperialismo. O Império não dispõe de um contorno territorial definido, na medida em que constitui, ele mesmo, um processo de “desterritorialização”, que incorpora gradualmente o mundo inteiro dentro de suas fronteiras abertas. O poder exercido pelo Império não tem limites e representa um regime que, efetivamente, abrange a totalidade do espaço. O Império governa todo o mundo “civilizado” (conceito que, neste contexto, tende a confundir-se com “globalizado”), não como um regime histórico nascido da conquista, mas como uma ordem que, na realidade, suspende a história, determinando, dessa forma, o estado de coisas existente.
atural, nesse contexto, que os EUA, império dentro do “Império”, tenham logrado alçar-se, nos últimos anos, a uma situação de incontrastável superioridade em todos os campos do poder: econômico, tecnológico e militar. O poderio político, que nada mais é do que o exercício dessa superioridade no campo da relação entre os Estados, decorre direta e naturalmente dessa situação, que os EUA procurarão manter por todos os meios.5
O mais significativo, no entanto, é que esse impressionante desempenho foi sustentado, entre outros aspectos, por uma verdadeira (e, até certo ponto, genuinamente americana) “nova revolução industrial” que, através dos avanços tecnológicos alcançados nas áreas da comunicação e do conhecimento (Internet, por exemplo), gerou transformações sem paralelo na operação das empresas americanas. é o principal responsável pela evolução sem precedentes de seu poderio, que elevou os EUA à condição de única verdadeira superpotência.
A superioridade tecnológica e militar dos EUA é igualmente evidente e revela-se num simples fato: os EUA são o único ator global da história da humanidade que consegue projetar poder militar simultaneamente em diferentes terrenos estratégicos em pontos distantes de seu próprio território.
a construção de alianças pelos EUA para responder ao 11 de setembro corresponde mais a um ato de “corroboração” de seu sistema de valores, do qual esperavam que os demais membros do “Império” comungassem, do que propriamente à preocupação de legitimar ou apoiar ações contra seus atacantes

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3
Q
  1. O 11 de setembro e a reação dos EUA: velhos demônios, novas prioridades
A

O poderio incontestado dos Estados Unidos depois da Guerra Fria tornou arraigado o sentimento de invulnerabilidade do pais à violência que cresce e se desenvolve em outras regiões.A rapidez e a dimensão da resposta aos ataques, considerados desde o início como “atos de guerra”, dão a dimensão exata da comoção por eles provocada.
As conseqüências imediatas dos ataques e dessa reação são analisadas sucintamente a seguir.
Economia:
as conseqüências econômicas do terror revelaram-se menos graves do que havia sido imaginado, com escassas repercussões globais, ainda que efeitos setoriais importantes, em especial nas indústrias ou serviços mais diretamente vinculados ao centro do capitalismo financeiro nova-iorquino.
os atentados podem ter servido para justificar politicamente uma nova série de gastos militares que representarão uma notável impulsão em determinadas áreas ligadas ao chamado “complexo industrial-militar”, assim como às indústrias e serviços de segurança e de monitoramento eletrônico
ressão para o investimento e a inovação em todas as áreas consideradas como estratégicas, assim como, secundariamente, em setores como o de saúde pública, posto à prova pelo episódio do antraz. O próprio programa de capacitação missilística e de prevenção de ataques-surpresa surgimento de um novo ambiente regulatório e normativo no campo das transações financeiras, com a aceleração dos esforços de cooperação internacional nesse terreno, algo que era necessário para combater práticas nem sempre imediatamente associadas ao terrorismo, como a corrupção, a lavagem de dinheiro, os fluxos utilizados pelas redes de narcotraficantes e outros ilícitos financeiros de caráter mais político.

Segurança:

No campo da segurança, a defesa interna e a vigilância nas fronteiras e aeroportos tendem a assumir espaço relevante na agenda americana e, por extensão, na da cooperação política internacional.
novo plano nacional de segurança que, entre outras duras medidas, prevê a criação de organismo responsável pela defesa civil (Homeland Defense), de um corpo de defesa militar voltado para a própria América do Norte, o recurso a tribunais militares – que reduzem consideravelmente os instrumentos de defesa dos réus – para julgamentos de estrangeiros acusados de crimes de terrorismo
as bases de dados de todos os sistemas policiais dos países envolvidos de perto ou de longe na luta contra o terrorismo serão chamadas a cooperar, voluntária ou “involuntariamente”, com essas mesmas autoridades.FBI e CIA

Política Externa:

“eixo do mal” As ações americanas no campo político, militar, econômico e diplomático, que se seguiram aos ataques, refletem essa ambivalência, deixando transparecer uma tendência crescentemente unilateral temperada pela busca de entendimentos e alianças pontuais (“à la carte”) com a comunidade internacional em fóruns específicos, como as Nações Unidas e a OTAN.14 O relacionamento entre os EUA e as instituições multilaterais passa, nesse contexto, por uma fase de maiores conflitos.preeminência do interesse nacional norte-americano
a aversão em aceitar constrangimentos em áreas consideradas como sensíveis do ponto de vista de Washington.Exemplos marcantes disso são as posições do governo americano em relação ao Tribunal Penal Internacional, ao Protocolo de Quioto e aos entendimentos sobre desarmamento

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4
Q
  1. Efeitos do 11 de setembro sobre a ordem internacional: rupturas e continuidades
A

Os atentados de 11 de setembro trouxeram o item “terrorismo” para o centro da agenda internacional.Subsiste a mesma “velha” ordem, ainda que com uma nova agenda e um novo conjunto de prioridades. Uma eventual e hipotética “nova ordem” dependeria, não de qualquer mudança introduzida pelo terrorismo ou pela luta contra ele, mas basicamente de um novo arranjo global entre as principais potências militares, o que se dá, normalmente, como resultado de mudanças estruturais de longa duração.
O que está mudando é a relação dos EUA com o mundo. O 11 de setembro e a alteração de prioridades da agenda mundial levaram os EUA ampliar o número de “parcerias” em todo o planeta.Em conseqüência disso, os EUA, que elevaram o terrorismo à mais alta prioridade em sua política externa, vão influenciar, no futuro previsível, os esforços internacionais em prol da coordenação em matéria de segurança, na medida em que vão continuar pressionando os demais estados e as Nações Unidas a atuar decisivamente contra os grupos terroristas e os estados que os abrigam.

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5
Q
  1. O 11 de setembro e a globalização
A

É fato, no entanto, que os ataques ao WTC e ao Pentágono, que têm origem em uma clara rejeição a valores e desdobramentos desse fenômeno (vale frisar que os dois alvos eram, respectivamente, os maiores símbolos do poderio econômico e militar da maior potência do mundo globalizado), têm afetado, através das mudanças que provocaram na condução da política externa americana – e da reação a essas mudanças –, o seu desenvolvimento.
A superestrutura política do direito internacional público vem sendo penosamente construída por atores – Estados, organizações, indivíduos – engajados na tarefa de substituir o direito da força pela força do Direito e a solução pacífica das controvérsias pela justiça algo arbitrária dos mais fortes.

Essa lenta construção do multilateralismo contemporâneo vem sendo ameaçada por atitudes sucessivas dos EUA, especialmente após o 11 de setembro, que confirmam uma relutância de princípio e uma recusa de fato em assumir novos compromissos que redundariam, direta ou indiretamente, na diminuição da margem de liberdade alocada aos EUA como grande potência que aceita o Direito Internacional na medida em que o seu interesse nacional não é afetado.

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6
Q
  1. O Brasil e a nova ordem mundial pós-11 de setembro
A

A reação inicial do governo brasileiro, nos dias subseqüentes aos atentados, foi rápida, não apenas na mera manifestação de solidariedade, mas na significativa invocação do TIAR, o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, (instrumento que precedeu e inspirou formal e substantivamente o próprio tratado de Washington, que criou a OTAN) sobre a base dos mecanismos de defesa coletiva e de solidariedade hemisférica que caracterizam esse acordo. O Brasil também acolheu de imediato as resoluções relevantes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, como passou a atuar através de mecanismos informais no esforço anti-terrorista, inclusive no que se refere ao controle dos fluxos financeiros que poderiam estar servindo a organizações criminosas.
Nenhum dos países da América do Sul, entre eles o Brasil, desempenha ou desempenhará papel preponderante nesse grande jogo de luta contra o terrorismo mundial. Eles podem, no entanto, ajudar nesse processo, contribuindo para o reforço de sua própria segurança, assegurando a estabilidade democrática na região e dando sua contribuição para o que se poderia chamar de um “programa global” de combate ao terrorismo.
O verdadeiro desafio de política interna neste Brasil do início do século XXI – o que equivaleria, no caso americano, ao terrorismo – é a injustiça social, a educação, a melhoria do sistema de saúde, o combate ao tráfico de drogas e à violência e o amparo à uma população marginalizada e entregue ao espectro de uma existência sem futuro e sem esperança.

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