Neonatologia - Icterícia e infecções congênitas Flashcards
O que é icterícia?
A icterícia é marcada por coloração amarelada de pele e mucosas, como resultado do acúmulo de bilirrubina no organismo, seja de sua fração direta (menos comum) ou de sua fração indireta.
Quando ocorre icterícia neonatal?
Destaca-se que, para que haja manifestação de icterícia neonatal, são necessários níveis de bilirrubina superiores a 5mg/dL.
Qual a principal causa de icterícia neonatal? Quando ela se manifesta?
A grande maioria dos recém-nascidos, sobretudo a termo ou pré-termo, apresentam icterícia neonatal fisiológica, que se manifesta, em geral, cerca de 2 a 3 dias após o nascimento (ou 3 a 4 dias, nos RN pré-termo).
Como é produzida a BI?
De fato, quanto ao metabolismo da bilirrubina, destaca-se que a bilirrubina indireta (BI) é proveniente da degradação do grupo heme da molécula de hemoglobina no sistema retículo-endotelial.
Como é excretada a BI?
A BI é tóxica para o organismo, de modo que, para sua excreção, é transformada a nível hepático em bilirrubina direta (BD); nesse processo, ocorre inicialmente captação das moléculas de BI pelos hepatócitos, seguida então de sua conjugação a uma ou duas moléculas de ácido glicurônico, por ação da enzima glicuroniltransferase, levando à formação de BD. A bilirrubina direta ou conjugada é uma substância hidrossolúvel, facilmente excretada pelo intestino através da bile.
O que ocorre no metabolismo na bilirrubina durante o período fetal?
Todavia, na vida fetal, esse processo fisiológico se processa de forma diferente. Durante esse período, a bilirrubina indireta produzida pela degradação da hemoglobina é excretada através da placenta, de modo que há pouca captação e conjugação de bilirrubina pelo fígado para formação de bilirrubina direta.
O que ocorre nos níveis de bilirrubina em recém-nascidos? Por quê?
No recém-nascido, há um aumento do fisiológico de bilirrubina indireta nos primeiros dias de vida pelo somatório de três mecanismos, influenciados pelo metabolismo da bilirrubina durante o período fetal: (a) produção exagerada de BI, como resultado da degradação intensa de hemácias justificada por hematócrito muito elevado (importante para manutenção da oxigenação tecidual durante a vida fetal, visto que o útero é um ambiente de relativa hipóxia) e hemácias de meia-vida mais curta, constituídas de Hb fetal; (b) imaturidade hepática, com processos de captação e conjugação débeis associados à baixa atividade da enzima glicuroniltransferase; e (c) aumento da circulação êntero-hepática de bilirrubina, devido ao transito intestinal lentificado no RN e à ação intensa da enzima beta-glicuronidase, a qual atua desconjugando a BD e favorecendo a reabsorção de BI.
Qual o resultado das particulares do metabolismo da bilirrubina durante o período neonatal?
Por essas razões, há frequentemente acúmulo de bilirrubina indireta universalmente em todos os recém-nascidos e desenvolvimento de icterícia fisiológica na maioria deles nos primeiros dias de vida.
O que justifica o período específico de desenvolvimento de icterícia neonatal fisiológica?
De fato, os fatores fisiológicos elevam a bilirrubina em cerca de 3mg/dL a cada dia, de modo que a icterícia fisiológica no RN a termo se manifesta entre o segundo e o terceiro dias de vida. Em RN pré-termo, o início do quadro de icterícia fisiológica ocorre entre o terceiro e o quarto dias de vida.
Por que o tema icterícia neonatal é tão importante, dado que sua principal causa é fisiológica?
Embora muitos quadros de icterícia neonatal sejam fisiológicos, esse assunto merece destaque e atenção pela neurotoxicidade da BI e pelo fato de que manifestações ictéricas, em determinados contextos, podem indicar doenças.
O que causa encefalopatia bilirrubínica e quais suas consequências?
Assim, quando em níveis elevados, a BI, por ser uma substância neurotóxica, pode cursar com encefalopatia bilirrubínica, a qual é capaz de causar óbito ou se instalar cronicamente, com sequelas clínicas permanentes, como um quadro de kernicterus.
Quais os fatores de risco para encefalopatia bilirrubínica?
Existem diversos fatores de risco para o desenvolvimento de encefalopatia bilirrubínica, sendo o principal deles a prematuridade, por cursar com aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica à passagem de BI. Há, ainda, outros importantes fatores de risco, como asfixia perinatal, hipoalbuminemia, antibioticoterapia com ceftriaxone, jejum prolongado, entre outros.
Quais fatores apontam para a possibilidade de icterícia neonatal patológica?
(a) icterícia precoce, com início < 24 a 36 horas de vida; (b) velocidade de aumento de bilirrubina > 5mg/dL/dia; (c) nível elevado de bilirrubina, superior a 12mg/dL em RN a termo, o que pode ser identificado ao exame físico a partir de uma icterícia que alcança a zona 3 de Kramer; (d) outras alterações clínicas associadas; (e) icterícia persistente, definida como icterícia superior a 7 a 10 dias em RN a termo e superior a 10 a 14 dias em RN pré-termo; (f) presença de sinais de colestase ou níveis elevados de BD; (g) história familiar de anemia hemolítica (exceção feita à anemia falciforme, que começa a se manifestar a partir de 6 meses de vida, geralmente através de dactilite falcêmica), este último fator bastante controverso.
Como se dá a progressão de icterícia no período neonatal? Como se avalia isso ao exame físico e qual a correlação com os níveis de bilirrubina?
No período neonatal, a icterícia tem progressão craniocaudal, sendo que quando a icterícia alcança a zona 3 de Kramer (abaixo da cicatriz umbilical), a icterícia provavelmente não é fisiológica (níveis acima de 12). “Passou do umbigo, sinal de perigo!”. A zona 1, na face, está associada a níveis de Hb próximos a 5mg/dL e a zona 5, nas extremidades, a valores próximos de 20mg/dL.
O que fazer diante de indícios de icterícia patológica?
Na presença de sinais indicativos de icterícia patológica, a investigação diagnóstica é mandatória, devendo ser iniciada a partir da análise do momento de avaliação do recém-nascido.
Qual o primeiro passo na avaliação de icterícia patológica?
Análise do momento de avaliação do recém-nascido.
Em qual diagnóstico deve-se pensar em casos de icterícia neonatal precoce?
Sendo assim, em casos de icterícia precoce (< 24h de vida), deve-se considerar a possibilidade de anemia hemolítica, sendo que as principais causas de hemólise nesse contexto são as incompatibilidades materno-fetais.
Qual a causa das incompatibilidades materno-fetais?
O processo de isoimunização: anticorpos maternos, ao atravessarem a barreira hematoplacentária, tornam-se capazes de identificar antígenos da superfície de hemácias do feto, resultando em destruição eritrocitária fetal. Tal processo se inicia durante a vida fetal, podendo se prolongar no período neonatal.
Como identificar a ocorrência de isoimunização?
A isoimunização é identificada a partir dos testes de Coombs direto, os quais são capazes de identificar a presença de anticorpos ligados às hemácias
Como identificar a ocorrência de sensibilização materna?
Testes de Coombs indireto, que detectam a presença de anticorpos séricos.
Qual o tipo mais grave de incompatibilidade materno-fetal?
Existem diferentes formas de incompatibilidade materno-fetal, sendo a mais grave a incompatibilidade Rh
Como ocorre a incompatibilidade Rh?
Incompatibilidade Rh é marcada por mãe Rh negativo (com anticorpos IgG anti-Rh ou anti-D) e RN Rh positivo; nesses casos, os anticorpos anti-Rh maternos atravessam a placenta e se ligam a antígenos Rh de hemácias fetais, resultando em hemólise.
A incompatibilidade Rh ocorre em todos os contextos de mãe Rh negativo e feto Rh positivo?
Não. Destaca-se que nem todas as mulheres Rh negativas apresentam anticorpos anti-D. Assim, somente aquelas submetidas aos processos de sensibilização (contato com sangue Rh positivo) apresentam anticorpos séricos anti-D, que podem ser identificados por testes de Coombs indireto positivo.
Qual a principal causa de sensibilização materna?
A sensibilização prévia pode ocorrer por gestação prévia com feto Rh positivo, em que não foram adotadas medidas para evitar a sensibilização (administração de imunoglobulina pós-parto ou pós-aborto).
Como se observam os exames complementares do RN e da mãe na incompatibilidade Rh?
Assim, nos quadros de incompatibilidade Rh, os recém-nascidos apresentam testes de Coombs direto positivo, além de anemia e contagem de reticulócitos elevada. A mulher, por sua vez, é marcada por teste de Coombs indireto positivo.
Qual a forma mais comum de incompatibilidade materno-fetal?
Por outro lado, a forma mais comum de anemia neonatal hemolítica, embora não grave, corresponde à incompatibilidade ABO
Em que contexto ocorre a incompatibilidade ABO?
Geralmente mãe do grupo O (com anticorpos anti-A e anti-B) e RN do grupo A ou B. É importante ressaltar que outras combinações sanguíneas associadas à incompatibilidade podem ocorrer (como mãe A e filho B; mãe A e feto AB), mas, em geral, não são comuns.
Qual a fisiopatologia da incompatibilidade ABO?
Nessas situações, anticorpos maternos atravessam a placenta e atacam hemácias fetais, resultando em hemólise.
Como estão os exames complementares do RB na incompatibilidade ABO?
Nesses casos, o teste de Coombs direto no RN nem sempre será positivo, de modo que Coombs negativo não afasta diagnóstico de incompatibilidade ABO. Além disso, ao esfregaço de sangue periférico, pode-se observar esferocitose.
Qual a relação entre incompatibilidade ABO e Rh?
Destaca-se que a incompatibilidade ABO é fator de proteção contra a incompatibilidade Rh.
Além da incompatibilidade materno-fetal, quais outros diagnósticos diferenciais de icterícia neonatal precoce? Como está o teste de Coombs direto nesses casos?
Outros quadros não imunomediados podem levar à icterícia precoce neonatal, como esferocitose (um defeito de membrana eritrocitária) e a deficiência de G6PD, embora não costumem cursar com icterícia ao longo do primeiro dia. Nesses casos, os testes de Coombs direto fetal são sempre negativos.
Como deve ser feita a investigação diagnóstica inicial de icterícia neonatal precoce?
Na avaliação diagnóstica de icterícia precoce, é fundamental dosagem de bilirrubina total e frações, hematócrito e reticulócitos.
Como se apresentam as doenças hemolíticas na investigação diagnóstica inicial de icterícia neonatal precoce?
Nas doenças hemolíticas, há elevação apenas de BI, com hematócrito diminuído e contagem de reticulócitos aumentado.
Quais outros exames, além da investigação inicial, devem ser realizados na icterícia neonatal precoce?
. Além disso, é importante ainda identificar tipagem sanguínea e fator RH no recém-nascido, comparando-os com os da mãe, bem como realizar o teste de Coombs direto no RN. Por fim, deve-se solicitar também hematoscopia.
Quais possíveis diagnósticos em achados de esferócitos à hematoscopia na investigação de icterícia neonatal precoce? Como diferenciá-los?
A presença de esferócitos indica duas possibilidades diagnósticas principais: esferocitose ou incompatibilidade ABO; nesses casos, a diferenciação entre ambas é feita pela avaliação da possibilidade de ocorrência de incompatibilidade pela tipagem sanguínea e o Coombs direto; se puder ocorrer a incompatibilidade ABO, mesmo com teste de Coombs negativo, aposta-se neste diagnóstico por ser o mais frequente.
O que indica a presença de hemoglobina precipitada à hemotoscopia?
Ainda, nos quadros de hemoglobina precipitada à hematoscopia, confirma-se o diagnóstico de deficiência de G6PD.
Qual o primeiro passo na investigação de icterícia neonatal tardia ou persistente?
Nos casos de icterícia persistente ou tardia, a investigação diagnóstica deve incluir avaliação de bilirrubina total e frações, visto que determinar se a icterícia ocorreu às custas de elevação de BI ou BD é fundamental e o primeiro passo da investigação nesses casos.
Quais condições cursam com aumento da BI na icterícia neonatal tardia ou persistente?
Ressalta-se que aumento neonatal da BI pode ser decorrente de diversas condições, como doenças endócrinas, processos metabólicos e doenças hemolíticas, contextos em que haverá outras manifestações condizentes com a doença além da icterícia
Como se manifesta o hipotireoidismo congênito?
hipotireoidismo congênito, que, além de icterícia, cursa frequentemente com hérnia umbilical e macroglossia, além de níveis normais de hematócrito.
Qual diagnóstico deve ser considerado em caso de icterícia neonatal persistente às custas de BI isolada?
Dessa forma, em quadros de icterícia isolada com aumento exclusivo de BI, deve-se pensar no diagnóstico de icterícia do leite materno.
O que é a icterícia do leite materno?
Esta é uma das formas de icterícia relacionadas à amamentação, sendo característica de bebes em aleitamento materno exclusivo, com a presença de alguma substância no leite que interfere no metabolismo da bilirrubina, mais especificamente na atividade enzimática da betaglicuronidase, resultando em icterícia persistente.
Qual a relação da icterícia do leite materno com a icterícia neonatal fisiológica?
Essa condição é uma exacerbação dos quadros de icterícia fisiológica, podendo persistir por até quatro a doze semanas.
Como e quando confirmar o diagnóstico de icterícia do leite materno?
Em alguns casos de elevação muito grande de bilirrubina, há indicação de suspensão do leite materno por 24 a 48 horas como prova terapêutica para confirmação diagnóstica; nesse teste, há queda de BI pela metade, com retorno a níveis elevados, porém inferiores aos prévios, após reintrodução da amamentação.
Além da icterícia do leite materno, qual outro importante tipo de icterícia associado à amamentação?
Icterícia do aleitamento materno.
O que é a icterícia do aleitamento materno?
Uma forma precoce de icterícia característica de RN em aleitamento materno exclusivo nos primeiros dias de vida, devido à redução da ingesta láctea (por algum problema na amamentação), e lentificação intensa do trânsito intestinal (com redução da eliminação de mecônio), o que promove aumento da circulação êntero-hepática.
Qual o quadro clínico de icterícia do aleitamento materno, além de icterícia?
Como consequência, tais bebês apresentam perda ponderal muito superior ao esperado nos primeiros dias de vida.
Qual a conduta na icterícia do aleitamento materno?
A conduta, nesses casos, envolve correção da técnica de amamentação e estímulo ao aleitamento materno.
Cite três causas de icterícia neonatal que cursam com hematócrito normal.
A icterícia do leite materno e a icterícia do aleitamento materno, assim como o hipotireoidismo congênito, cursam com níveis normais de hematócrito.
Quadros de icterícia neonatal às custas de BD podem ser fisiológicos?
Não! Sempre patológicos.
Quadros de icterícia neonatal às custas de BI podem ser fisiológicos?
Sim! Na maioria das vezes o são.
Por que a icterícia associada a elevação de BD é fonte de grande preocupação?
Sobretudo pela possibilidade de atresia de vias biliares.
Quais os principais diagnósticos diferenciais de icterícia com elevação de BD?
Atresia de vias biliares e hepatites neonatais
Quais as principais causas de hepatites neonatais?
Estas podem ser idiopáticas ou ainda apresentar causas infecciosas (herpes simples, CMV, HBV, entre outros), metabólicas ou genéticas.
O que é atresia de vias biliares?
A atresia de vias biliares, por sua vez, é marcada pela obliteração de toda a árvore biliar extra-hepática em decorrência de fibrose das vias biliares
Qual o quadro clínico de atresia de vias biliares?
Manifestações de icterícia tardia associada a sinais de colestase (como colúria e acolia fetal). Todavia, os quadros de colestase podem se manifestar de forma tardia, de modo que a primeira manifestação dessa criança pode corresponder apenas a icterícia.
Por que o diagnóstico de atresia de vias biliares deve ser feito o mais rápido possível?
O diagnóstico deve ser feito o mais rápido possível, pela necessidade urgente de desobstrução do trato biliar: interrupção do fluxo de bile por tempo prolongado leva a quadros graves de acúmulo biliar intra-hepático, com necessidade de transplante hepático.
Qual o tratamento de atresia de vias biliares?
. O tratamento dos quadros é cirúrgico, a partir da cirurgia de Kasai, uma portoenterostomia, a qual assegura o reestabelecimento da drenagem biliar, pela junção entre os ductos biliares da região porta-hepática e alças intestinais. Todavia, para ser bem-sucedida, a cirurgia deve ser realizada nas primeiras 8 semanas de vida.
Qual o tratamento padrão de quadros de icterícia com elevação de BI? Quais suas indicações?
Independentemente da causa de icterícia, o tratamento de quadros de aumento de BI deve ser feito com fototerapia em espectro azul. A fototerapia é indicada de acordo com curvas de um gráfico determinado pela idade gestacional, mas, em geral, pode-se indica-la por icterícia nas primeiras 24 horas de vida ou níveis de bilirrubina > 17 (esta indicação controversa).
Qual o objetivo da fototerapia no tratamento da icterícia e qual seu principal efeito adverso?
Objetiva a transformação da bilirrubina em substâncias solúveis que podem ser eliminadas na urina ou na bile; seu principal efeito adverso corresponde à ocorrência de diarreia.
O que fazer nos quadros de icterícia refratários à fototerapia?
Pode ser realizada ainda exsanguíneotransfusão nos casos refratários à fototerapia, sendo pouco usada nos dias atuais por seus importantes efeitos adversos.
Qual a importância do banho de sol no tratamento da icterícia neonatal?
O uso de banho de sol para icterícia neonatal não apresenta evidências de benefícios para RN.
O que são infecções congênitas?
As infecções congênitas são infecções de transmissão hematogênica por via transplacentária, estabelecendo-se ainda durante a vida intrauterina.
Qual o padrão de transmissibilidade e de gravidade das infecções congênitas em geral?
Em geral, nas infecções congênitas, a transmissibilidade tende a ser diretamente proporcional à idade gestacional, de modo que a maior parte das transmissões verticais ocorrem ao longo do terceiro trimestre da gestação, quando o feto já se encontra praticamente todo formado. Por outro lado, a gravidade dos quadros frequentemente apresenta comportamento inversamente proporcional à idade gestacional, sendo que infecções no primeiro trimestre da gestação podem cursar com graves malformações ou até mesmo abortamento; as infecções no terceiro trimestre, por sua vez, não apresentam repercussões clínicas significativas para o feto na maioria das situações.
Quais as principais manifestações clínicas neonatais de infecções congênitas?
Ainda, a maior parte das vezes, as infecções congênitas são assintomáticas ao nascimento; todavia, com o crescimento, ao longo dos meses e dos anos, pode haver desenvolvimento de sequelas. Quando presentes, as manifestações neonatais de infecções congênitas são inespecíficas, como RN PIG ou pré-termo, manifestações cutâneas diversas (petéquias, icterícia), hepatomegalia, alterações visuais e auditivas, entre outros.
Como é feita avaliação diagnóstica de infecções congênitas, em geral?
Como as crianças são, em geral, assintomáticas durante o período neonatal, a investigação de infecções congênitas pode ser motivada por sorologias ou pela presença de doença materna durante a gestação, de que depende a realização de um pré-natal adequado.
De modo geral, como se deve interpretar as sorologias de infecções congênitas?
Nesse contexto, destaca-se que anticorpos IgG atravessam a barreira placentária, de modo que as imunoglobulinas IgG detectadas na sorologia do RN podem ser de origem materna; porém, a presença de anticorpos IgM indica infecção do RN, uma vez que tais imunoglobulinas não atravessam a barreia placentária.
Qual a principal infecção neonatal, que constitui problema de saúde pública no Brasil?
Sífilis congênita
Qual o agente etiológico da sífilis congênita?
Treponema pallidum
Qual o padrão de transmissibilidade da sífilis congênita?
O risco de transmissão transplacentária pode ocorrer em qualquer estágio da doença materna, mas guarda grande relação com o tempo de evolução, sendo maior nas fases primária e secundária da doença. Ainda, a transmissibilidade tende a aumentar com o avanço da idade gestacional.
Qual o papel da sífilis congênita na avaliação da saúde de uma região?
Os níveis de sífilis congênita são importantes marcadores da qualidade de pré-natal de um país, por ser uma condição perfeitamente evitável quando adequadamente detectado seu risco durante a gestação.
O que pode ocorrer com fetos com sífilis congênita?
Cerca de 40% dos quadros de sífilis congênita resultam em abortamentos ou natimortos. Contudo, entre os nascidos vivos, a maioria tende a ser assintomática ao nascer, de modo que as manifestações neonatais da sífilis ocorrem em apenas 20% dos recém-nascidos.
Quando o quadro clínico tende a se manifestar em casos de sífilis congênita?
Entre cinco semanas e três meses de vida.
Como pode ser dividido o quadro clínico de sífilis congênita?
pode ser dividido em sífilis congênita precoce (com manifestações até 2 anos) e sífilis congênita tardia (com manifestações a partir de 2 anos)
Quais são as principais manifestações de sífilis congênita tardia?
Geralmente são sequelas das alterações da sífilis precoce, como fronte olímpica, nariz em sela, tíbia em sabre, articulações de Clutton, hidrocefalia, surdez e dentes de Hutchinson.
Quais são as manifestações principais da sífilis congênita precoce?
Na sífilis congênita precoce, além de manifestações inespecíficas, pode haver rinite sifilítica (por infecção e lesão da mucosa nasal pelo treponema) com secreção nasal sero-sanguinolenta; lesões cutaneomucosas (como placas mucosas, condilomas planos e pênfigo palmo-plantar – lesões vesicobolhosas, que se rompem com a formação de áreas de pele descobertas); lesões ósseas (como periostite – inflamação do periósteo, com a formação de sinal do duplo contorno no periósteo – e osteocondrite ou metafisite – lesão na metáfise de ossos longos).
Qual a principal lesão óssea na sífilis congênita precoce?
Osteocondrite.
Como se manifesta a osteocondrite?
Quadro extremamente doloroso e agravado pela manipulação e movimentação, de modo que os RN com esse quadro tendem a apresentar redução de mobilidade no local acometido, condição conhecida como pseudoparalisia de Parrot.
O que é a pseudoparalisia de Parrot?
Redução da mobilidade no local acometido por osteocondrite devido à dor intensa agravada por mobilização ou movimentação em pacientes com sífilis congênita precoce.
Qual importante cuidado em pacientes com sífilis congênita precoce que manifestam lesões de pênfigo?
As lesões de pênfigo na sífilis são ricas em treponema, de modo que tais crianças devem ser mantidas em precaução de contato antes de serem devidamente tratadas.
Como deve ser iniciada a investigação diagnóstica na sífilis congênita?
A avaliação diagnóstica do RN é feita a partir da suspeita de sífilis congênita por quadro clínico condizente ou mãe com diagnóstico de sífilis durante a gestação. Tal investigação inicia-se com a dosagem de VDRL, um teste não treponêmico que detecta a presença de anticorpos não específicos contra o treponema
Como deve ser feito o VDRL na investigação diagnóstica na sífilis congênita?
Destaca-se, ainda, que o VDRL só pode ser feito no sangue periférico do RN, nunca a partir do sangue do cordão umbilical.
Quais testes treponêmicos podem ser realizados na investigação diagnóstica na sífilis congênita?
Os testes treponêmico nunca devem ser realizados na investigação de sífilis congênita
Como complementar a investigação de sífilis congênita? Qual a utilidade desses testes?
. Em alguns casos, a avaliação é complementada com outros exames, como hemograma, punção lombar com análise de líquor e radiografia de ossos longos. Tais exames são importantes para determinar o tratamento dos RN, podendo haver ainda avaliação hepática e dosagem de eletrólitos, em geral não muito cobrados.
O que o hemograma avalia na sífilis congênita?
O hemograma detecta alterações hematológicas condizentes com sífilis, como anemia e plaquetopenia
O que análise de líquor avalia na sífilis congênita?
a análise de líquor é feita para investigar neurossífilis, definida por VDRL reagente, celularidade > 25 células/mm ou PTNraquia ≥ 150mg/dL durante o período neonatal (abaixo de 28 dias)
O que a radiografia de ossos longos avalia na sífilis congênita?
Por fim, a radiografia de ossos longos busca identificar crianças com periostite e osteocondrite
Qual o primeiro passo na avaliação para o tratamento de sífilis congênita?
O tratamento dos quadros de sífilis envolve, no primeiro passo, avaliar o tratamento materno durante a gestação. Nesse contexto, três possibilidades podem surgir: ausência de tratamento; tratamento inadequado; ou tratamento adequado.
Quais os critérios para tratamento adequado de sífilis materna?
O tratamento adequado é definido como aquele realizado com penicilina benzatina (outras drogas não são consideradas adequadas no tratamento da gestante), adequado para a fase, iniciado em até 30 dias antes do parto (a criança deve receber pelo menos 30 dias de antibiótico pela placenta), avaliar risco de reinfecção após tratamento (população de risco, com infecção dos parceiros sexuais ou presença de múltiplos parceiros), e queda do VDRL em duas titulações em 3 meses ou quatro titulações em 6 meses.
Como deve ser feito o tratamento materno na vigência de sífilis de tempo indeterminado?
Na vigência de sífilis de duração indeterminada, o tratamento materno adequado deve ser feito com 3 doses de penicilina, com 2,4 milhões UI/dose.
Qual a importância do VDRL no acompanhamento do tratamento da sífilis?
O VDRL avalia o grau de atividade da doença, de modo que, se houver aumento do título de VDRL após o tratamento, considera-se possibilidade de reinfecção.