Hemorragia do 3º trimestre Flashcards
Hemorragia no 3º trimestre - epidemiologia
- A hemorragia vaginal no 3º trimestre é das raras verdadeiras emergências obstétricas.
- 4-5% das gestações são complicadas por hemorragia do 3º trimestre.
- As grávidas têm aumento do volume sistólico (40%) e do débito cardíaco (30%). 20% do débito cardíaco vai para o útero.
• Gravidade variável:
- Spotting
- Grave – rara; uma das principais causas de mortalidade e morbilidade materna e fetal
Quais as principais causas de hemorragia no 3º trimestre?
- Placenta prévia - não é doloroso
2. Descolamento prematuro de placenta normalmente inserida (DPPNI) - é doloroso
Como se aborda inicialmente a grávida com hemorragia no 3º trimestre?
1º- Sinais vitais maternos (HD estável?)
2º - Padrão de FC fetal - doppler, CTG, ecografia
3º - Caracterizar a hemorragia
4º - Identificar sintomas acompanhantes (ex: dor abdominal)
5º - História pessoal e familiar (coagulopatias? neoplasia cervical?)
6º - Considerar hemorragia por outros órgãos (hemorroidas? Cistite?).
Como se carateriza a hemorragia?
- Monitorização sinais vitais (revisão sistemas cardiovasculares e pulmonares);
- Colocação de acesso EV grande (cristaloides, sangue e produtos sanguíneos);
- Inspeção (mucosas descoradas - anemia, petéquias/equimoses - sinal de coagulopatia)
- Palpação abdominal (tónus uterino aumentado- contractilidade, sinais de irritabilidade peritoneal - hemoperitoneu; auscultação de sons abdominais não é fundamental)
- Informar o Serviço de Sangue de que poderá ser necessário uma transfusão. Pedir tipagem.
- Exames laboratoriais seriados - hemograma com plaquetas, APTT, TP, fibrinogénio (os resultados podem não ser fidedignos em fases iniciais).
- Teste de Kleihauer-Batke após controlo de hemorragia – quantifica a hemorragia fetomaterna ocorrida
- Administrar imunoglobulina anti-D se grávida Rh- (dose dependente do teste anterior)
- Grávida deve ficar sob vigilância hospitalar. Manter monitorização materna e fetal.
- A equipa deve estar preparada para a necessidade de cesariana emergente (necessidade de anestesia geral!)
Exame pélvico na doente com hemorragia do 3º trimestre
- A palpação bimanual está contraindicada até que se exclua placenta previa ou vasa previa (identificar posição da placenta primeiro)!
- Pode realizar-se inspeção da vulva, vagina e colo através
da colocação cuidadosa do espéculo vaginal. - O ectropium é um achado frequente (++ se história de contraceptivos orais). Por norma, é um achado benigno…
O que é a placenta prévia?
- Placenta sobre ou próximo do orifício interno (OI) do colo uterino.
Completa – Cobre completamente orifício cervical interno
Parcial – Cobre parcialmente orifício cervical interno
Marginal – Estende-se sobre o segmento uterino inferior mas não chega ao orifício interno
Baixamente inserida - a placenta está inserida até 20 mm do OI do colo uterino.
Qual a apresentação da grávida com placenta prévia?
- Hemorragia indolor no 3º trimestre (exceto se associada a trabalho de parto ou rotura placentária).
- Podem ter havido episódios prévios de pequenas hemorragias previamente ao episódio significante.
- A incidência de placenta prévia reduz com a idade gestacional.
Como é feito o diagnóstico de placenta prévia?
- Ecografia transvaginal – mais específica que a abdominal, que pode dar falsos positivos.
- Diagnóstico definitivo no 3º trimestre (placenta parcial/marginal/baixa podem resolver até às 32-25 semanas. PP completa raramente resolve)
Quais os fatores de risco para placenta prévia?
Placenta prévia em gravidez anterior (4 a 8%)
Cesariana prévia ou outra cirurgia uterina
Multiparidade
Idade materna avançada
Cocaína
Tabaco
Quais as possíveis complicações da placenta prévia?
Hemorragia vaginal grave
Placenta anormalmente aderente:
o Acretismo placentário: tecido placentário estende-se para a camada superficial do miométrio
o Incretismo placentário: Estende-se mais profundamente no miométrio
o Percretismo placentário: Se se estender completamente através do miométrio para a serosa
Risco de hemorragia pós-parto e histerectomia emergente
Maior morbimortalidade materna e neonatal
Qual o tratamento da placenta prévia?
- Primeiro episódio de hemorragia cessa em 1-2 horas (o primeiro episódio tende a ser às 29-30 semanas).
- Episódios hemorrágicos posteriores podem ser mais graves.
o Feto prematuro e hemorragia pouco severa Observação, fluidos, repouso, administração de
esteroides para promover maturidade pulmonar.
o Hemorragia severa ou feto a termo – Parto, a maior parte das vezes por cesariana (pode ser feita
cesariana entre as 36 e 37 semanas se maturidade pulmonar ficar provada em amniocentese)
Quando optar por cesariana eletiva às 36-37 semanas?
Placenta prévia total/parcial e marginal
Placentas baixamente inseridas
Quando optar por parto vaginal?
- Todas as placentas > 20 mm do OI
- Placentas a > 10 mm do OI : é controverso; o parto
vaginal parece ser seguro, embora se deva discutir com
a grávida os riscos associados (maior hemorragia)
Qual a abordagem à placenta acreta?
Abordagem mais segura - cesariana eletiva pré-termo, seguida de histerectomia (deixando a placenta in situ)
O que é a rotura placentária ou descolamento prematuro da placenta normalmente inserida (DPPNI)?
- Incidência de 1 caso em cada 100 gestações
• Completa: > 50% (toda a placenta separa-se)
• Parcial: < 50%
• Marginal: descolamento apenas da margem da placenta - Hemorragia na decídua basalis causa descolamento com posterior extensão do mesmo.
- Quando grave causa alterações da FCF e morte fetal.
Qual a apresentação clássica da doente com DPPNI?
- Hemorragia vaginal com dor abdominal associada a contratilidade. Esta hemorragia pode ser oculta por ficar retida no interior da placenta.
- Contudo é possível que um descolamento parcial e marginal possa ocorrer sem dor e que um descolamento retroplacentar pode ocorrer sem hemorragia vaginal.
- Taquicardia fetal seguida de bradicardia, hemorragia contínua.
Quais os fatores de risco para DPPNI?
Hipertensão crónica Pré-eclâmpsia Gestação múltipla Tabaco Cocaína Corioamnionite Multiparidade Idade materna avançada Rotura em gravidez prévia (15 a 20x mais risco) Anomalias da coagulação Nível elevado de Alfa-fetoproteína no 2º trimestre (10x mais risco) Trauma
Como se diagnostica a DPPNI?
- História clínica e exame físico
- Podem não ocorrer sinais ecográficos
- Por vezes, difícil.
Quais as possíveis complicações da DPPNI?
- Útero de Couvelaire - o sangue penetra no miométrio e o útero fica azul/roxo (raro)
- Coagulopatia materna - DPPNI é a causa mais comum de coagulopatia na gravidez (plaquetas e fibrinogénio baixos, TP e APTT aumentados, coagulação intravascular disseminada rara mas grave).
Como se trata a DPPNI?
Monitorização dos sinais vitais
Administração de fluídos
Indução do parto ou cesariana (mais frequente) se a hemorragia for severa
Monitorização expectante se hemorragia não for severa e se feto for pré-termo
O que é a vasa previa, como se diagnostica e aborda?
- Vasa Prévia descreve a passagem de vasos sanguíneos fetais sobre o orifício interno e abaixo da apresentação do feto.
- Se ocorrer rotura destes vasos o feto pode morrer rapidamente.
- Quando se faz a rotura artificial das membranas é importante assegurar que não aconteceu vasa prévia.
- Diagnóstico com ecografia com utilização de doppler.
- Um teste Apt ajuda a distinguir se o sangue é materno ou fetal (fetal mantém-se rosa e materno fica amarelo/castanho).
- Abordagem é SEMPRE cesariana.
- Associa-se a Inserção vilamentosa do cordão (quando o cordão corre entre as membranas fetais sem proteção da geleia de Wharton) e a placenta succenturiata.
O que é a rotura uterina, como se diagnostica e aborda?
- A maior parte dos casos de rotura uterina ocorre no local de cesariana prévia.
- Rotura uterina descreve uma transecção completa do útero desde o endométrio à serosa.
- Se o peritoneu se mantiver intacto é referida como rotura parcial, caso contrário é uma rotura completa.
- Se o bebé for expulso para o abdómen a mortalidade vai de 50 a 75% e a sobrevivência depende de a placenta se manter aderente à parede uterina.
- A realização urgente da cesariana é imperativa, quer para a sobrevivência do feto quer para a morbilidade materna.
Quais são as causas extra-uterinas de hemorragia no 3º trimestre?
- Pólipos cervicais
- Cervicite
- Carcinoma do colo uterino
- Lacerações vaginais e vulvares
- Veias varicosas vulvares
- Parto pré-termo