Cirrose e suas complicações Flashcards

1
Q

Definição de cirrose

A
  • Resultado final de lesão hepatocelular, que leva à fibrose e regeneração nodular em todo o fígado (definição histológica)
  • Injúria hepática crônica → ativação da célula estrelada → produção e deposição de matriz extracelular → fibrose hepática → insuficiência hepática
  • Ocorre distorção arquitetural e perda da massa hepatocitária
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2
Q

Estágios da cirrose

A

1) Cirrose compensada sem varizes do esôfago (alterações laboratoriais mínimas)
2) Cirrose compensada com varizes de esôfago
-> Alterações laboratoriais mais evidentes e EDA com VE
3) Cirrose descompensada (com varizes de esôfago)
-> Ascite, HAD varicosa, encefalopatia porto-sistêmica, icterícia

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3
Q

Fatores desencadeantes/etiologia

A
  • Hepatite crônica B/C.
  • Doença Hepática Alcoólica
  • Doença hepática Gordurosa não Alcoólica
  • Doenças hepáticas autoimunes (HAI, CBP, CEP).
  • Doenças hepáticas metabólicas (hemocromatose, D. Wilson, deficiência de alfa1AT).
  • Toxicidade por fármacos (Metotrexate).
  • Cirrose biliar 2ª (obstrução biliar crônica).
  • Associações de mais de uma causa (álcool + HCV).
  • Cirrose cardíaca (pericardite constritiva, etc).
  • Criptogênica.
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4
Q

Manifestações clínicas na cirrose

A

Resultam de um dos 3 fatores (ou combinações deles):
1) Disfunção de hepatócitos:
-> Icterícia, distúrbio de coagulação, hipoalbuminemia, EPS.
2) Shunt portossistêmico:
-> EPS (encefalopatia portossistêmica).
3) Hipertensão portal:
-> Ascite, VE e HDA varicosa.

Manifestações clínicas:
* O paciente pode permanecer assintomático por longo período de tempo;
* Hiperestrogenismo e hipoandrogenismo (eritema palmar, telangiectasias, ginecomastia, redução da libido, infertilidade, redução dos pelos, atrofia testicular)
* Perda da função hepática: encefalopatia hepática, icterícia, coagulopatia (equimoses), edema, desnutrição;
* Hipertensão portal: ascite, hematêmese, hemorroidas;
* Hipovitaminoses (glossite, queilose);
* Esplenomegalia;
* Sarcopenia (perda de peso, perda de massa e força muscular);
* Astenia e cãibras musculares;
* Osteoporose;
* Distúrbios do sono;
* Baqueteamento digital;
* Cardiomiopatia da cirrose;
* Colelitíase;
* Síndrome hepatorrenal;
* Contratura de Dupuytren (alcool)

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5
Q

Achados laboratoriais na cirrose

A
  • Prolongamento do TP.
  • Hipoalbuminemia.
  • Elevação de TGO e TGP:
    -> TGO > TGP: maioria das hepatopatias
    -> TGP > TGO: doença hepática alcoólica ou cirrose avançada
  • Elevação de FA, G-GT E 5-nucleotidase: níveis mais altos em doenças colestáticas, colangite biliar primária, colangite esclerosante
  • Bilirrubinas: podem estar normais ou aumentadas; o aumento ocorre com a progressão da doença; hiperbilirrubinemia direta; sinal de pior prognóstico;
  • Anemia (geralmente macrocítica);
    -> Supressão de eritropoiese pelo álcool;
    -> Déficit de folato;
    -> Hemólise;
    -> Hiperesplenismo;
    -> Perda crônica de sangue pelo TGI;
  • Leucopenia;
  • Trombocitopenia;
  • Hiponatremia dilucional: perda de líquido para o terceiro espaço → hipovolemia → secreção de ADH → Hiponatremia dilucional
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6
Q

Diagnóstico de cirrose:

A

Baseado em informações:
* Clínicas: anamnese e exame físico detalhados e minuciosos
* Laboratoriais:
-> Geral: ALT, AST, FA, G-GT, Bil, TP, albumina, HMG, plaquetopenia, creatina, ureia, GJ.
-> Específicos – conforme as diferentes etiologias: sorologia para hepatites; saturação de tranferrina e ferritina (hemocromatose); anticorpos hepatite autoimune; ceruloplasmina, cobre urinário e anel de Kayser-Fleischer (doença de Wilson); dosagem de alfa-1-antitripsina; antimitocôndria;
-> Fórmulas matemáticas: APRI > 2,0 / FIB4 > 3,25.
* Exames de imagem: US com doppler, TC, RNM, elastografia.
* Endoscópicas: todo paciente dx com cirrose deve fazer EDA.
* Biopsia hepática: pode ser realizada, mas não é necessária.
* Avaliação cardíaca SN

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7
Q

Ultrassom abdominal

A
  • Dilatação das vias biliares intra e extra-hepáticas.
  • Presença de lesões expansivas hepáticas.
  • Diferença entre massas císticas e sólidas.
  • Permeabilidade da veia porta, veias hepáticas e artéria hepática (Doppler)
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8
Q

Classificação de Child-Pugh (prognóstico)

A
  • A pontuação emprega 2 critérios clínicos e 3 critérios laboratoriais
    -> Critérios: BEATA → BT, Encefalopatia hepática, Albumina sérica, TP, Ascite
  • Cada critério é pontuado entre 1-3, com 3 indicando a condição + severa
  • Classe A: 5-6 pontos; 100% de sobrevida em 1 ano e 85% em 2 anos
  • Classe B: 7-9 pontos; 81% de sobrevida em 1 ano e 57% em 2 anos
  • Classe C: 10-15 pontos; 45% de sobrevida em 1 ano e 35% em 2 anos
  • Child B e C: encaminhar para avaliar a necessidade de transplante
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9
Q

Escore / escala de MELD

A
  • MELD: modelo para doença hepática terminal
  • Sistema de pontuação que quantifica a urgência de transplante hepático
  • Utiliza Bilirrubina, Creatinina e INR (BIC) para predizer sobrevida
  • Utilizado para priorizar a alocação dos pacientes para Tx hepático;
  • Quanto mais o escore maior a taxa de mortalidade

*Classificação de Child usa para avaliar se tem indicação de transplante, escore de MELD usa quando já está na lista de transplante.

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10
Q

Complicações possíveis da cirrose

A
  • Hipertensão portal
    -> VE e HDA varicosa.
    -> Ascite.
    -> Encefalopatia hepática.
    -> Hiperesplenismo.
    -> Síndrome hepatorrenal.
  • Infeções sistêmicas.
    -> PBE, ITU, BCP, pele – cada vez mais frequentes bactérias multirresistentes.
  • CHC.
  • Trombose da veia porta.
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11
Q

Definição e anatomiada Hipertensão Portal

A
  • Gradiente de pressão venosa hepática (porta e VCI) > 5 mmHg (> 10 é clinicamente sintomática)
  • Consequência do elevado fluxo sanguíneo portal (vasodilatação esplâncnica) e aumento da resistência intra-hepática a esse fluxo (cirrose e nódulos regenerativos)
  • Etiologia: 90% cirróticos
    95% a causa é intra hepática (aumento da resistência vascular)
  • Anatomia: Veia Porta = VMS + Veia esplênica (+VMI) = 2/3 do sangue que chega ao fígado
    -> Drena ID + cabeça do pâncreas + cólon + 2/3 do reto
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12
Q

Manifestações clínicas da hipertensão portal

A

Leuco/trombocitopenia, esplenomegalia, Varizes Gastroesofágicas, Gastropatia da hipertensão portal, ascite, Peritonite Bacteriana Expontânea, Encefalopatia Hepática, Síndrome Hepatorrenal

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13
Q

Varizes esofagogástricas e HDA varicosa

  • Definições
  • Risco de sangramento
A
  • Prevalência relaciona-se com gravidade da cirrose (presente em 30% daqueles com cirrose compensada)
  • Pesquisar por EDA todo paciente cirrótico (rastreio e profilaxia primária)
  • Risco de sangramento depende de:
    -> Localização Tamanho das varizes (5% em VE fino calibre e 15% em VE grosso calibre)
    -> Pressão intra-vasal
    -> Grau de função hepática/gravidade da cirrose (Child e MILD)
    -> Estigmas endoscópicos
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14
Q

Seguimento de VE e HAD após 1ª endoscopia

A

Prof Sandro:
* Sem VE: nova em 2-3 anos
* Com VE de pequeno calibre: nova em 1-2 anos
* Com VE de médio/grande calibre: nova em 1 ano e provavelmente profilaxia

Estratégia Med:
* Child A, SEM varizes e SEM tratamento da doença de base: EDA em 2 anos
* Child A, COM varizes de pequeno calibre e SEM tratamento de doença de base: EDA anual
* Child A, SEM varizes e COM tratamendo da doença de base: EDA em 3 anos
* Child A: COM varizes de pequeno calibre e COM tratamento da doença de base: EDA em 2 anos
* Child B ou C: anualmente

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15
Q

Profilaxia da HDA varicosa na VE

A

Profilaxia 1ª:
- Beta-bloqueador não seletivo: propanolol (20-80 mg, 2x/dia), nadolol, carvedilol (3,125 - 6,25 mg 2xdia) - manter FC de repouso entre 55-60 bpm e PAS > 90 mmHg; suspender se PAS < 90 mmHg ou Na < 130 mEq/l ou IRA
- Ligadura elástica das VE (LEVE)

Indicações de profilaxia 1ª:
- VE de médio/grande calibre= todos
- VE de fino calibre: se manchas vermelhas na endoscopia ou Child C ou B (opcional)

Profilaxia 2ª:
- Sempre após a 1ª HDA= Ligadura elástica + beta-bloqueador

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16
Q

Manejo da HAD varicosa (4 pilares)

A
  • Quadro grave - indicação de UTI (mortalidade de 20% em 6 semanas) devido ao sangramento ou complicações pós-sangramento (infecções, IRA, insuf. hepática)

Manejo (4 pilares):
* Estabilização hemodinâmica: reposição volêmica criteriosa (PAS 90-100 e FC <100); cristaloide SF ou RL; transfundir apenas se Hb<7 (manter Hb entre 7-9/ cardiopatas isquêmicos, idade avançada ou sangramento ativo Hb>10)
* Profilaxia de infecções: ceftriaxona EV (1g/dia) ou norfloxona VO/ciprofloxacino EV por 7 dias; melhora mortalidade
* Tratamento farmacológico específico: vasoconstritores esplâncnicos (terlipressina, somatostatina ou octreotide); reduzem aporte sanguíneo esplânico; início imediato (antes mesmo da EDA); manter por 5 dias, no 6º dia iniciar ou reintroduzir o beta-bloq;
* Tratamento endoscópico: em até 12 horas, no paciente já estável (após reposição volêmica, ATB e vasoconstritor esplânico);
-> LEVE (1ª linha) ou escleroterapia (esclerose das VE)
-> Shunt portossistêmico intra-hepático transjugular (TIPS): na falha do controle endoscópico/farmacológico do sangramento (10-20%); encefalopatia hepática ocorre em até 20% dos pacientes

*Não há indicação para correção de coagulopatia ou trombocitopenia

17
Q

Fisiopatologia da Ascite

A
  • Acúmulo de líquido na cavidade peritoneal: causa mais comum é a cirrose
    -> Aumento da resistência intra-hepática aumenta produção de linfa
    -> Vasodilatação esplênica → menor enchimento capilar renal → ativação do SRAA → hiperaldosteronismo → retenção de Na e líquidos → ascite +edema
    -> Hipoalbuminemia → redução da pressão oncótica → ascite
  • Paracentese diagnóstica: dosagem de albumina, celularidade e cultura
  • Gradiente albumina sérica/albumina ascite > 1,1 = transudato (H. portal)
18
Q

Clínica da Ascite

A

Insidiosa, aumento da circunferência abdominal, pode haver edema periférico, massa móvel à percussão, função respiratória prejudicada (hidrotórax hepático) e desnutrição

19
Q

Manejo da ascite

A
  • Restrição de sódio na dieta (<2g/dia)
  • Uso de diuréticos:
    -> Espironolactona (inibe aldosterona): 100-400 mg/dia, 1x/semana
    -> Furosemida: 40-160mg/da, 1x pela manhã
  • Ascite refratária: falha de diuréticos + dieta hipossódica
  • > Paracenteses de alívio de repetição (até transplante) +- albumina
    -> TIPS (pode aumentar encefalopatia e não melhora sobrevida)
  • Prognóstico: sobrevida < 50%/2 anos (indicar transplante hepático)
20
Q

Principais característcas da encefalopatia aguda

A
  • Síndrome neuropsiquiátrica caracterizada por depressão do SNC e desorientação
    -> Pode haver mudança de personalidade, violência, sonolência difícil de despertar, asterixe/flapping
  • Representa grave comprometimento de função hepática (indicação de transplante)
  • Falha do fígado na destoxificação da amônia (conversão em ureia) que chega ao fígado pela circulação porta (ID e IG)
  • Pode occorer na: insuficiência hepática aguda, cirrose descompensada, falência hepática aguda em cirróticos
  • Difícil de diagnosticar
21
Q

Manejo da Encefalopatia Aguda

A
  • A depender da gravidade: enfermaria (grau I e II) ou UTI (grau III e IV)
  • Identificar e tratar fator desencadeante: infecção (pesquisar ascite), distúrbio HE, hemorragia digestiva alta, constipação
  • Dieta normoproteica
  • Dissacarideos não absorvíveis (lactulose): reduz amônia na veia porta
  • Antibióticos VO (rifaximina): diminui amônia e translocação bacteriana
  • Probióticos: altera microbiota e diminui amônia
  • Aminoácidos (LOLA): diminui amônia (Hepamerz)
22
Q

Infecções em cirróticos

A
  • Mais frequente quanto maior a gravidade da cirrose
  • Infecções mais comuns: ITU, PBE, BCP, pele (multirresistentes?)
  • Causam descompensação da cirrose (ascite, HDA varicosa, encefalopatia, IRA)
  • Sempre suspeitar/investigar infecção em pacientes com cirrose descompensada
  • Fatores que predispões o cirrótico à infecção: disfunção hepática; hipertensão portal com shunt portossistêmico; alteração da fora intestinal e translocação bacteriana; disfunção imunológica
23
Q

Definição e diagnóstico da Peritonite Bacteriana Espontânea

A

Infecção do líquido ascítico sem foco intra-abdominal identificável
Geralmente germe único (se 2 ou mais suspeitar de perfuração de víscera)

Diagnóstico: ≥ 250 PoliMorfoNucleares/mm3 +- cultura de líquido ascítico + paracentese diagnóstica (casos abaixo)

Sempre fazer paracentese diagnóstica:

  • Cirrótico que inicia com ascite perceptível
  • Cirróticos com ascite que necessitam ser hospitalizados
  • Cirróticos com sinais de infecção ou inflamação
  • Ao fazer paracentese de alívio
24
Q

Manejo da Peritonite Bacteriana Espontânea

A
  • Tratamento precoce com ATB
    -> Cefalosporina de 3ª geraçã (cefotaxime 2g, EV, 12/12h por 7 dias) o ou amplo espectro se chance de resistência (piperacilina-tazobactam/meropenen)
  • Repor albumina (1,5g/kg no 1º dia e 1g/kg no 3º dia): reduz mortalidade ao reduzir chance de perda de função renal → não deve ser usada em infecções não peritoneais
  • Paracentese de controle em 48h: redução de 25% dos PMN
  • Bacteracite (cultura positiva e <250 PMN) + sinais de inflamação/infecção: tratar
25
Q

Profilaxia da PBE

A

Profilaxia 1ª:
* Cirróticos com HDA: ceftriaxona 1g/dia, EV, por 7 dias
* Cirróticos com albumina ≤ 1,5g no líquido ascítico: norfloxacino 400mg/dia?

Profilaxia 2ª:
* Deve ser realizada para TODO paciente após 1º episódio de PBE
* Taxa de ecidiva sem profilaxia 2ª é cerca de 70% em 12 meses
* Quinolona (norfloxacino 400mg, VO, 1x/dia) enquanto houver ascite

26
Q

Broncopneumonias em cirróticos

A

BCP COMUNITÁRIA:
* Piperacilina/Tazobactam OU
* Ceftriaxona + macrolideo (claritromicina/ azitromicina) OU
* Moxifloxacina/ levofloxacina

BCP NOSOCOMIAL:
* Ceftazidima/ meropenem (carbapenêmico) + levofloxacino (quinolona ) +- glicopeptídeo/lenezolida (zyvox)

27
Q

Definição e Manejo da Síndrome Hepatorrenal

A
  • IRA funcional em pacientes com cirrose, na AUSÊNCIA de qualquer outra causa de doença renal
  • Importante causa de mortalidade em cirróticos (indicação de transplante)
    -> SHR tipo 1: LRA
    -> SHR tipo 2: LRC
  • Buscar e tratar fatores desencadeantes: infecções e hipovolemias (diarreia, vômitos, excesso de diuréticos, HDA varicosa)
  • Observada com frequência na ascite refratária
  • Tratamento definitivo: transplante hepático → SHR tipo 2: tx duplo (rim + fígado)
28
Q

Rastreio de CHC em cirróticos

A

USG de abdome e alfa feto proteína a cada 6 meses