Sociologia do Trabalho Flashcards
Traços da sociedade industrial observados pelos homens no começo do século XIX:
a) A indústria se baseia na organização cientifica do trabalho. Em vez de organizar segundo o costume, a produção passou a ser ordenada baseada no rendimento máximo;
b) A indústria e a organização racional do trabalho favoreceram o desenvolvimento prodigiosamente dos recursos;
c) A produção industrial levou à concentração dos trabalhadores nas cidades, fábricas e nas periferias das cidades. Ou seja, o surgimento de um novo fenômeno social: as massas operárias;
d) Novos conflitos sociais aparecem, com destaque para a oposição latente entre empregados e empregadores, ou entre proletários e capitalistas;
e) Contraste entre ampla riqueza criada pela industrialização e a pobreza em abundância, ou seja, desigualdades sociais;
f) O sistema econômico passou a ser caracterizado pela liberdade nas trocas de mercadoria,pela busca de melhores lucros por parte dos empresários e comerciantes. Juntamente, o Estado redefiniu seu papel, pois o grau de intervenção estatal nos negócios econômicos diminui, comparando-se como no Antigo Regime.
Assim, a especificidade do ramo da Sociologia do Trabalho reside no seu enfoque particular na compreensão da organização e evolução do mundo do trabalho na sociedade. Com efeito, a Sociologia do Trabalho dedica-se a investigar as relações de trabalho e a analisar as implicações sociais decorrentes dessas relações. Podemos sistematizar os aspectos-chave da especificidade da Sociologia do Trabalho da seguinte maneira:
A título de exemplificação e já localizando a discussão na Realidade Brasileira, a “Sociologia do Trabalho e o seu objeto de estudo se configuraram, historicamente, muito vinculados às realidades sociais, políticas e econômicas de cada país. No caso Brasil, a Sociologia do
Trabalho se deparou com as peculiaridades de uma nação que teve mão de obra escrava até fins do século XIX, de uma economia dependente, de industrialização tardia e de uma frágil estruturação do mercado de trabalho”
O Conceito de Trabalho de HEGEL
Sua abordagem permitiu analisar o trabalho em relação a dois polos
distintos: como exteriorização do sujeito e como interiorização do social.
Hegel, em seu sistema filosófico, desenvolveu uma visão abrangente do trabalho, enxergando-o como um componente essencial para a análise do homem em relação à natureza e à formação da consciência. Em sua abordagem, o trabalho não apenas é considerado a fonte de riqueza e de civilização, mas é percebido como um processo de exteriorização dialética do sujeito.
O filósofo sustentava a tese de que o trabalho atua como um elemento mediador na relação entre o homem e a natureza, oferecendo suporte para a formação da consciência. Em outras palavras, é por meio do trabalho que o homem decodifica a natureza, utilizando-a de maneira instrumental e libertando-se da tirania imposta por aquela.
Karl Marx (1818-1883) herdou a tradição hegeliana e isso fez com que construísse conceitos e análises baseados no trabalho: classes sociais, luta de classes, capital, trabalho, força de trabalho, exploração capitalista, entre outros. Mas, além disso, Marx consolidou na tradição sociológica a noção de trabalho como:
A “eterna necessidade natural da vida social”, ou seja, meio pelo qual o homem como ser social conseguiu se impor sobre a natureza, transformando-a enquanto mudava a si mesmo. Por meio do trabalho ocorre uma dupla transformação, visto que o ser social que trabalha atua sobre a natureza e desenvolve aspotências nela escondida ao mesmo tempo em que ele mesmo se autotransforma.
“trabalho é tanto o processo quanto o produto de trabalho produtivo. Quando um carpinteiro fabrica uma estante e a vende, o que está sendo vendido é trabalho, o valor do qual está contido na estante. Nesse sentido, o conceito de trabalho descreve não apenas uma atividade, mas uma
relação especial entre o indivíduo, o trabalho e os frutos desse trabalho”
Max Weber (1864-1920). Ele analisou a concepção moderna de trabalho.
Weber contribuiu significativamente para a compreensão da transformação do significado e do papel do trabalho na sociedade moderna. Sua análise ressalta não apenas os aspectos econômicos, mas também os aspectos culturais e religiosos que moldaram a visão de mundo e a ética do
trabalho, desempenhando um papel crucial no aprimoramento do capitalismo e na configuração do panorama societário contemporâneo.
Weber destacou, em particular, a influência da ascese protestante (ética protestante) e outras visões de mundo, tanto intra quanto extramundanas, na configuração do trabalho como uma vocação. Este conceito transformou não apenas a mentalidade individual, mas também as estruturas sociais, especialmente no contexto do surgimento da burguesia.
A ética protestante, de acordo com Weber, desempenhou um papel crucial ao converter o burguês em um homem de negócios racional. Essa visão de mundo não apenas justificava, mas também promovia a dedicação ao trabalho como uma expressão do destino designado por Deus para a vida das pessoas. Os trabalhadores, por sua vez, eram incentivados a adotar uma abordagem sóbria, consciente e comprometida com o trabalho, considerando-o como parte essencial do plano divino.
A análise de Weber vai além ao evidenciar o papel do trabalho na composição da racionalidade capitalista. Ele ressalta como a racionalidade estratégica do cálculo capitalista tornou-se a força motriz predominante
na racionalização da sociedade. Nesse contexto, o trabalho é desvinculado de critérios tradicionais de referência doméstica e de satisfação pessoal do indivíduo, passando a ser orientado por uma lógica calculista e pragmática.
Émile Durkheim (1858-1917), pioneiro da sociologia francesa e considerado um dos pais fundadores da Sociologia, ofereceu uma significativa contribuição para a sociologia do trabalho, enfocando a atividade laboral como essencial para compreender a estrutura social.
Ele enfatizou a importância da divisão social do trabalho na formação da sociedade industrial moderna. Assim, para Durkheim era o processo de interação do indivíduo na sociedade. Assim, para o pensador francês, o trabalho não era apenas como uma prática individual, mas uma atividade social abrangente, abarcando a produção e a troca de bens e serviços. Ele também defendeu que a atividade laboral é uma fonte de realização pessoal e contribuição para a sociedade, conferindo significado à vida e moldando a identidade social. Assim, Durkheim ressaltou o trabalho como elemento fundamental na coesão social.
Resumo - Karl Marx
Karl Marx
O trabalho é fonte de riqueza
O trabalho é fonte de exploração e alienação
O trabalho pode ser fonte de “morte”
Resumo - Émile Durkheim
Émile Durkheim
A divisão social do trabalho gera solidariedade orgânica
Supõe-se que os homens são diferentes e interdependentes
Coesão social (Coerção de fora para dentro, das necessidas externas)
Resumo - Max Weber
Max Weber
Ação social orientada por um objetivo racional: obter lucros e, ao mesmo tempo, o sinal da salvação divina.
Cada sociedade tem uma forma específica de compreender e organizar o
trabalho.
Trabalho é cultural
Ontologia do ser social
A Ontologia do ser social refere-se ao estudo filosófico da natureza do ser social, buscando compreender as características essenciais que distinguem os seres humanos do restante da natureza e isso é, segundo a tradição hegeliana, herdada por Marx, trabalho. O trabalho é considerado o fundamento ontológico do ser social, uma vez que a atividade laboral
desempenha um papel central na organização da vida humana e na formação da sociedade.
A linguagem desempenha um papel crucial na vida social e é uma característica distintiva dos seres humanos. No entanto, do ponto de vista da ontologia do ser social, a linguagem é mais uma manifestação ou dimensão da existência humana do que o fundamento ontológico em si. A ontologia busca princípios mais fundamentais que expliquem a natureza
essencial do ser social, e o uso da linguagem é uma expressão dessa natureza, mas não o seu fundamento.
Centralidade do trabalho
Essas discussões teóricas refletem uma conscientização crescente sobre a necessidade de repensar a centralidade do trabalho em meio a transformações sociais, econômicas e culturais significativas. A diversificação das formas de emprego, a automação, a economia da gig e as questões ambientais são alguns dos fatores que têm levado os teóricos a considerar novas maneiras de compreender as dinâmicas sociais contemporâneas.Seja como forma, ao mesmo tempo que o “trabalho” é uma categoria central para analisar sociedades, ele tem sido objeto de críticas e reflexos, pois autores têm vislumbrados alternativas.
Perda da centralidade do trabalho como categoria explicativa
Nos últimos anos, tem havido discussões teóricas sobre a perda da centralidade do trabalho como categoria explicativa do mundo. Essa reflexão está intimamente ligada a mudanças sociais, econômicas e tecnológicas que afetaram as relações laborais e as formas de organização social. Alguns autores relacionam essas mudanças a uma crise estrutural do capitalismo.
A crise estrutural do capitalismo, seguida pelas crises do Estado, da regulação econômica e do tradicional sistema taylorista/fordista, bem como o surgimento de um novo setor produtivo baseado em tecnologias da
informação, automação microeletrônica e economia de serviços, levam esses autores a argumentar que esse momento histórico, a partir dos anos de 1960, está associado a uma crise da racionalidade capitalista e, por consequência, da concepção de uma sociedade do trabalho
Claus Offe: A crise da racionalidade do capitalismo e a perda da
centralidade da categoria trabalho como explicativa ada vida social
Influenciado por Habermas, em eu livro Trabalho & Sociedade, Offe analisa evidências empíricas, destacando três argumentos: a crise da sociedade do trabalho, a capacidade decrescente de absorver mão de obra e a
diferenciação interna dos trabalhadores assalariados. Ele argumenta que a sociedade do trabalho do século XX está em crise, perdendo o trabalho assalariado como fator de integração social. Offe observa a transformação do trabalho devido ao declínio do setor industrial, crescimento do setor de serviços, desemprego e expansão do emprego parcial. Ele destaca a perda da ética do trabalho e a ampliação do tempo livre como tendências. Offe propõe que a sociologia deve buscar novas categorias além do trabalho,
explorando questões como étnica, gênero e ecologia. Ele enfatiza a necessidade de construir o pensamento social sobre a base omunicacional da nova racionalidade do sistema, que se apoia no espaço vital, modo de
vida e cotidiano da sociedade contemporânea.
O trabalho na Sociedade Capitalista - Semelhante a uma compreensão de Marx e Engels sobre o capitalismo (apenas em alguns pontos), Weber constata que, apesar de livre, o trabalhador, na prática, foi forçado a condições de trabalho precárias para não morrer de fome, ou seja, trabalho livre desprotegido. Assim, precisamos ficar atentos às contradições que acompanham a implantação do trabalho livre
assalariado na sociedade capitalista.
Vejamos nas palavras do Sociólogo alemão Max Weber:
O recrutamento de trabalhadores para a nova forma de produção, tal como se encontra desenvolvida na Inglaterra, desde o século XVIII, à base da reunião de todos os meios produtivos em mãos do empresário, realizou-se através de meios coercivos bastante violentos, particularmente de caráter indireto. Entre eles, figuram antes de tudo, a “lei de pobres” e a “lei
de aprendizes”, da rainha Elizabeth. Tais regulações se fizeram necessárias, dado o grande número de “desocupados” que existia no país, gente que a revolução agrária transformara em deserdados. A expulsão dos pequenos agricultores e a transformação das terras de lavoura em campos de pastagem (…) determinaram que o número de trabalhadores necessário na lavoura se tornasse cada vez menor, dando lugar a que, na cidade, houvesse um excedente de população, que se viu submetido a trabalho coercitivo. Quem não se apresentava voluntariamente era
conduzido às oficinas públicas dirigidas com severa disciplina. Quem, sem permissão do mestre-artífice, ou empresário, abandonasse seu posto de trabalho, era tratado como vagabundo; nenhum desocupado recebia ajuda senão mediante seu ingresso nas oficinas coletivas. Com este procedimento, recrutaram-se os primeiros operários para a fábrica. Um serviço penoso somava-se a esta disciplina de trabalho. Mas o “poder” da classe abastada era absoluto; apoiava-se na administração, por meio de juízes de paz, que, na falta de uma lei apropriada, distribuíam justiça
de acordo com um amontoado de instruções particulares, segundo um arbítrio próprio. Até à segunda metade do século XIX, dispuseram de mão de obra como bem entendiam.
(WEBER, Max. História geral da economia. São Paulo: Mestre Jou. 1968. p 273-274)
Divisão do trabalho e distribuição de tarefas.
A divisão do trabalho tem sido há muito tempo um conceito sociológico importante porque é por meio dela que a vida social realmente ocorre e a ela todos os indivíduos estão ligados. Note, então, que a ideia de “abrangente interdependência” é relevante e justifica o trabalho como categoria estruturante da sociedade. A concepção da divisão do trabalho, como fundamental para a compreensão dos processos sociais e econômicos, ganhou destaque nas análises pioneiras de Adam Smith (1723-1790), notadamente em sua obra “Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações”, mais conhecido como “A Riqueza das Nações” (1776). No livro, Smith descreve a divisão do trabalho em uma fábrica de alfinetes e nos três primeiros capítulos do Livro I consta o exame das causas e consequências do fenômeno social da divisão do trabalho. Conforme Adam Smith, uma pessoa que trabalhasse sozinha poderia fabricar 20 alfinetes por dia, mas desmembrando a tarefa em diversas atividades simples, a produção coletiva atingiria 4 mil alfinetes por dia. Dessa forma, nota-se, do ponto de vista do processo produtivo e econômico, o benefício da divisão do trabalho.
foi Émile Durkheim (1858-1917), quem retomou e sistematizou o pensamento sociológico sobre a divisão do trabalho.
Porém, para Durkheim, a divisão industrial do trabalho conduziu a mudanças
fundamentais no tipo de solidariedade social que une a sociedade, impactando,
portanto, no elemento da coesão social. De forma categórica, nas palavras de
Giddens, para Durkheim, “a divisão do trabalho não era apenas um fenômeno
econômico, mas uma transformação da sociedade como um todo”. Por isso, passa-se a utilizar o conceito de divisão social do trabalho, mais amplo que apenas divisão do trabalho.
Divisão social do trabalho: Émile Durkheim
A divisão social do trabalho é analisada por Durkheim a partir da comparação da especificidade das sociedades industriais em relação às outras sociedades, em particular, as mais tradicionais. O sociólogo francês demonstra que a crescente especialização do trabalho promovida pela industrialização trouxe uma forma de solidariedade no funcionamento da sociedade, e não uma situação conflitiva como vista pelo marxismo, de modo que este fenômeno novo passou a contribuir para a coesão social. A tese principal de Durkheim é a de que a especialização crescente do trabalho se desenvolve à medida que aumenta o grau e a intensidade das interações entre indivíduos, sendo o progresso da divisão do trabalho proporcional ao da densidade moral das sociedade.
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Conclusão - Durkheim
De uma forma geral, perceba que, em Durkheim, a divisão do trabalho gera não apenas a especialização e eficiência coletiva, como em Adam Smith, mas também a solidariedade, isto é, uma organização que coordena as funções e liga os indivíduos uns aos outros. Por isso, falamos em divisão social do trabalho. Ainda: para o sociólogo francês, os princípios da divisão do trabalho são mais morais do que econômicos, pois são os fatores que unem os indivíduos em uma sociedade, já que geram um sentimento de solidariedade entre aqueles que realizam as mesmas
funções.
Ao analisar empiricamente a evolução das sociedades com foco na divisão social do trabalho, Durkheim elabora uma morfologia social. Estabelece, então, a existência de dois tipos de sociedade:
1-) em um tipo, há uma solidariedade mecânica entre os homens, fruto da divisão social do trabalho contida na sociedade pré-capitalista. Nela os indivíduos se identificam e se relacionam por meio da família, da tradição, da religião. A coletividade exerce uma forte coerção social para manter a sociedade harmônica e em funcionamento. É tudo muito mecânico, automático, independentemente da forma de organização do trabalho. Nas sociedades de caçadores-coletores, por exemplo, as divisões do trabalho eram/são relativamente simples, uma vez que não é muito grande o número de tarefas a serem feitas.
2-) já na sociedade em que prevalece a solidariedade orgânica, própria das sociedades capitalistas, os indivíduos são interdependentes em razão da divisão social e industrial do trabalho. Aqui a coesão social é muito mais em razão das relações do trabalho na indústria e no comércio do que por conta dos costumes, por exemplo. Então, as instituições como a família e a religião já não exerceriam a mesma função.
Émile Durkheim também identificou as possíveis anomalias que poderiam surgir no
fenômeno social da divisão social do trabalho. Em sua análise, Durkheim delineia três formas anormais da divisão do trabalho.
- Divisão do Trabalho Anômica:
Durkheim conceituou a divisão do trabalho anômica como a desregulação do mercado e das relações sociais. Essa forma anormal emerge em períodos de crise econômica e social, quando as normas e os valores que orientam a sociedade se tornam instáveis. Durante tais crises, a falta de coordenação entre as atividades
produtivas pode resultar em desordem, desemprego e desequilíbrio social. A compreensão desta forma anômala permite uma análise profunda das interações entre a economia e a estrutura social, destacando a importância da regulação normativa. Trata-se de “verdadeiras rupturas parciais da solidariedade orgânica”. - Divisão do Trabalho por constrangimento:
Outra forma identificada por Durkheim é a divisão do trabalho por constrangimento ou forçada, caracterizada por uma repartição injusta e desigual dos indivíduos entre as diversas funções laborais. Este fenômeno, ao acentuar disparidades sociais, pode levar à alienação e ao descontentamento, minando a coesão social. Sob essa ótica, Durkheim nos instiga a considerar não apenas a eficiência econômica, mas também a equidade e a justiça social como componentes fundamentais da saúde do corpo social. - Divisão do Trabalho “Burocrática”:
Durkheim também observou uma forma específica de anomalia na divisão do trabalho, que ele rotula como “burocrática”. Nesse cenário, há uma superabundância de agentes, mas paradoxalmente uma baixa produtividade. Entender a relação entre a quantidade de agentes envolvidos em processos laborais e a eficácia da produção fornece insights sobre os desafios enfrentados por estruturas organizacionais
complexas.
O que é divisão sociossexual e racial do trabalho?
O que é divisão sociossexual e racial do trabalho? É uma divisão social do trabalho cujos critérios estão ligados à gênero e raça. Quando realizamos uma análise que parte das relações de gênero e raça compreendemos as desigualdades específicas que se combinam e promovem desvantagens múltiplas para mulheres e, em especial, para mulheres negras.”Partimos da ideia de que a divisão sociossexual e racial estrutura as esferas produtivas e reprodutivas (duas dimensões fundamentais do ser social) sendo, em grande medida, determinante para a situação desigual entre os indivíduos já que subalternizou as mulheres em todo o processo histórico.
A definição de divisão sexual do trabalho pode ser estabelecida pelo que Danièle Kergoat desenvolve
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Segundo a autora, as situações de homens e mulheres não são produto de um destino biológico, mas sim construções sociais, pois homens e mulheres são mais do que indivíduos biologicamente distintos. Eles pertencem a dois grupos engajados em uma relação social específica: relações sexuais sociais. Como todas as relações sociais, elas também têm uma base material, dada pelo trabalho, e são explícitas na divisão social do trabalho entre os sexos, ou seja, a divisão sexual do trabalho.
Definição - A divisão sexual do trabalho
* Divisão social do trabalho entre os sexos: divisão sexual do trabalho
* Refere-se a uma diferenciação entre papéis destinados a homens e mulheres e está presente em todas as sociedades humanas conhecidas até aqui.
* É o critério mais simples para divisão social do trabalho.
* São formas de divisão social do trabalho “pré capitalistas”.
Pode-se dizer que a divisão sexual do trabalho refere-se a uma diferenciação entre papéis destinados a homens e mulheres e está presente em todas as sociedades humanas conhecidas até aqui. As formas dessa divisão sexual do trabalho são extremamente variadas, bem como são variadas tanto a extensão como a rigidez da separação entre os afazeres considerados apropriados aos homens e aqueles atribuídos às mulheres.
Esfera da Reprodução
Trabalho doméstico
Trabalho de cuidados
Trabalho não remunerado
Essencial para a reprodução das forças de trabalho
Esfera da Produção
Trabalho extra-doméstico
Produz riqueza material
Trabalho remunerado
Economia do Cuidado
A “economia do cuidado” é um conceito que se refere ao trabalho não remunerado relacionado ao cuidado de indivíduos, incluindo crianças, idosos, membros da família e pessoas com necessidades especiais. Este tipo de trabalho é essencial para a reprodução social e econômica, pois envolve atividades que sustentam e mantêm a vida, permitindo o funcionamento adequado da sociedade.
Economia do Cuidado - Algumas características importantes desse conceito incluem:
Natureza Não Remunerada:
O trabalho na economia do cuidado é frequentemente realizado de maneira não remunerada, o que significa que não é reconhecido ou compensado financeiramente no sistema econômico convencional. Isso inclui atividades como cuidados com crianças, preparação de alimentos, assistência a idosos, entre outras responsabilidades relacionadas ao bem-estar das pessoas.
Gênero e Divisão Sexual do Trabalho:
A economia do cuidado está intrinsecamente ligada à divisão sexual do trabalho, uma vez que as responsabilidades de cuidado são frequentemente atribuídas às mulheres. Isso contribui para a perpetuação de estereótipos de gênero, reforçando a ideia de que as mulheres têm uma afinidade natural para o cuidado e a responsabilidade doméstica.
Economia do Cuidado - Algumas características importantes desse conceito incluem:
Impacto na Participação no Mercado de Trabalho:
A carga desproporcional de trabalho na economia do cuidado pode limitar as oportunidades de participação das mulheres no mercado de trabalho remunerado. Isso ocorre devido à pressão de conciliar as responsabilidades de cuidado não remunerado com as demandas de um emprego formal.
Contribuição para a Reprodução Social:
O trabalho na economia do cuidado é fundamental para a reprodução social, pois garante que as novas gerações sejam cuidadas, educadas e preparadas para a vida. O cuidado de idosos também desempenha um papel crucial na preservação e transmissão de conhecimentos, tradições e valores.
Economia do Cuidado - Algumas características importantes desse conceito incluem:
Desafios e Reconhecimento:
A falta de reconhecimento e valorização do trabalho na economia do cuidado pode levar a uma série de desafios, incluindo a desvalorização do trabalho das mulheres, a sobrecarga de responsabilidades e a limitação das oportunidades de desenvolvimento profissional.
Necessidade de Políticas de Apoio:
A implementação de políticas que visam apoiar a economia do cuidado é crucial. Isso pode incluir políticas de licença parental, serviços de cuidados acessíveis e flexibilidade no trabalho, visando redistribuir a carga de cuidados de forma mais equitativa entre os gêneros e facilitar a participação das mulheres no mercado
de trabalho.
Gênero, Raça e Classe
Como a sociedade está marcada para além da divisão em dois grupos - homens e mulheres -, pois há outras dimensões, como raça, etnia, comunidades LGBTQIA+s, questões geracionais, etc, a categoria da divisão sociossexual do trabalho tem se mostrado mais adequada, pois abarca relações sociais de gênero, entendidas como relações desiguais, hierarquizadas e contraditórias, seja pela exploração da relação
capital/trabalho, seja pela dominação masculina sobre a feminina, seja pelo preconceito de raça/etnia ou pela sexualidade.
A sociedade capitalista se utiliza dessa dinâmica de diferenciação com o intuito de hierarquizar as atividades e assim ampliar a exploração/opressão entre homens e mulheres e entre mulheres brancas e mulheres negras, enfim, das diversidades que compõem a sociedade. Compreender como a divisão sexual do trabalho se intersecciona com outras formas de opressão, como raça, classe social, orientação sexual e identidade de gênero é fundamental para compreender os impactos para a mulher trabalhadora. Essa abordagem reconhece que as experiências das mulheres são moldadas por múltiplos aspectos de suas identidades.
Dados IBGE 2022 sobre gênero e raça no mercado de trabalho
Gênero e raça contribuem para aumentar a desigualdade salarial dentro do mercado de trabalho. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, as mulheres recebem 20,2% menos que os homens e a hora de trabalho de uma pessoa negra vale 40,2% a menos do que a de uma branca. Ao se comparar a remuneração de mulheres negras com profissionais brancos, a diferença fica em 46%. Outra pesquisa aponta que a desigualdade salarial também está relacionada aos cargos que os grupos minorizados ocupam.
Interseccionalidade
A interseccionalidade é um conceito que foi cunhado por Kimberlé Crenshaw, uma professora de direito norte-americana, para descrever o processo social de como diferentes formas de discriminação e opressão interagem e se sobrepõem, criando
experiências únicas e complexas para pessoas que pertencem a múltiplos grupos marginalizados.
O conceito destaca a importância de considerar não apenas uma única dimensão de identidade (como gênero, raça, classe social, orientação sexual), mas sim a interação entre essas diversas dimensões.
Assim, o conceito de interseccionalidade deve ser usado para reconhecer que as pessoas podem enfrentar diferentes formas de discriminação e desvantagem com base em uma combinação de fatores, e que essas experiências não podem ser totalmente compreendidas isoladamente. Por exemplo, uma mulher negra pode enfrentar desafios únicos que não são totalmente capturados ao se analisar separadamente as questões de gênero e raça.
Divisão racial do trabalho
A divisão racial do trabalho no capitalismo se relaciona com o racismo estrutural no mercado de trabalho assalariado.
O racismo estrutural é um conceito que descreve um sistema em que a discriminação racial é incorporada nas instituições, práticas e normas sociais de uma sociedade. Diferentemente do racismo individual, que se baseia em atitudes preconceituosas de pessoas específicas, o racismo estrutural é enraizado em políticas, práticas e estruturas que perpetuam a desigualdade racial de maneira sistemática.
O racismo estrutural não requer intenções racistas conscientes; ele se manifesta por meio de disparidades raciais em áreas como habitação, educação, saúde, justiça criminal e emprego. É um fenômeno que afeta grupos racialmente minoritários, negando-lhes oportunidades equitativas, recursos e direitos
Florestan Fernandes (1920-1995) - Considerado o fundador da sociologia crítica no Brasil
Florestan debruçou de maneira sistemática, crítica e com muito rigor teórico e metodológico sobre a realidade brasileira. Suas mais importantes reflexões foram sobre o capitalismo dependente, o papel do intelectual, relações sociais e, sobretudo, as relações raciais.
No que se refere à economia, o autor agrega a questão da escravidão às análises. Assim, seguindo a linha de Caio Prado Jr. Sobre o sentido da economia colonial, ele combina a discussão sobre o papel da escravidão. Ele afirma que as estruturas de dominação do período da colonização foram preservadas no processo de modernização capitalista no Brasil. Por isso, foi uma “modernização conservadora”.
Existe um momento crucial para observarmos isso que é a mudança de regime do trabalho escravo para o trabalho livre.
Diz Florestan:
A desagregação do regime escravocrata e senhorial se operou, no Brasil, sem que se cercasse a destituição dos antigos agentes de trabalho escravo de assistência e garantias que os protegessem na transição para o sistema de trabalho livre. Os senhores foram eximidos da responsabilidade pela manutenção e segurança dos libertos, sem que o Estado, a Igreja ou qualquer outra instituição assumisse encargos especiais, que tivessem por objetivo prepará-los para o novo regime de organização da vida e do trabalho. Florestan Fernandes. A integração do negro na sociedade de
classes. Portanto, meus queridos e queridas, a escravidão, segundo Florestan, a
desigualdade social, no Brasil tem relação direta com o modo como o negro foi incorporado na sociedade de classes no pós abolição. Produz-se uma desigualdade social baseada na cor da pele
Movimento LUDISMO
O ludismo foi um movimento social inglês ocorrido entre o final do século XVIII e início do século XIX. Ele consistia no protesto contra a industrialização através da invasão de fábricas e quebra de máquinas. O ludismo não era um movimento político ou partidário.
O que o ludismo defendia?
Ludismo - História do Mundo
Assim, o ludismo foi um movimento de trabalhadores que lutaram contra a mecanização do trabalho. Os ludistas entendiam que as máquinas, além de estarem roubando os empregos dos seres humanos, contribuíram para a redução salarial do trabalhador e, assim, era algo que devia ser destruído
Diante das mudanças do mundo contemporâneo, já não se pensa em formar para o posto de trabalho, mas, para a empregabilidade. Passa-se, portanto, a ideia de que, com os diversos cursos técnicos espalhados pelo país, todos os estudantes se tornarão empregáveis. Caberia às escolas e aos centros de formação profissional, desenvolver diversas competências e habilidades que gerem um novo trabalhador.
A ideia neoliberal, denominada produtivista, é considerada dominante no ensino técnicoprofissional. A partir dessa visão, afirma-se que
- Estimula-se a busca por empreendedorismo.
- Destaca-se como a formação técnico-profissional se adapta à demanda do mercado, preparando os estudantes com as habilidades e competências requeridas pelo setor produtivo. A visão produtivista neoliberal enfatiza a necessidade de alinhar a educação com as necessidades do mercado de trabalho, buscando maximizar a empregabilidade dos indivíduos através do desenvolvimento de habilidades
técnicas e profissionais específicas. Dessa forma, a formação não se foca apenas em manter um posto de trabalho específico ou em garantir a cidadania através da luta por direitos, mas em gerar um perfil de trabalhador adaptável às mudanças e exigências do mercado. - A crítica da perspectiva neoliberal produtivista enfatiza que a educação técnico-profissional é predominantemente orientada pela lógica do mercado. Isto é, a prioridade está em atender às demandas do mercado de trabalho, mais do que em promover ativamente a cidadania ou a luta pelos direitos sociais e trabalhistas.
- Embora a flexibilidade e a especialização sejam aspectos importantes da formação
técnico-profissional, o foco não é apenas a manutenção do emprego atual, mas o desenvolvimento de uma ampla gama de competências que permitam aos indivíduos adaptar-se a diferentes oportunidades de trabalho ao longo da vida. O objetivo é preparar os estudantes para um mercado de trabalho em constante evolução, e não apenas para a manutenção de um emprego específico.
O que defendia o movimento cartista?
O cartismo foi um movimento político e social que buscava reformas democráticas e melhores condições para a classe trabalhadora surgido na Grã-Bretanha durante o século XIX. Defendia princípios como o sufrágio universal masculino, a redução da jornada de trabalho e o fim do pagamento de impostos para votar.
Manuel Castells utiliza o termo “Informacionalismo” para designar o que é frequentemente chamado de “pós-industrialismo”.
Este conceito-chave reflete a transição para uma era em que a criação, distribuição e
manipulação da informação se tornam forças econômicas predominantes.
No informacionalismo, a produtividade e a competitividade são impulsionadas pela capacidade das empresas e dos Estados de gerar conhecimento e processar informação eficientemente, o que é facilitado por redes de comunicação globais
e avanços tecnológicos, particularmente nas áreas de computação e telecomunicações.