Estereótipos automáticos Flashcards
Em relação a hábitos de pensamento, o que revelam estudos feitos com crianças?
Estudos feitos com crianças revelam que:
- Crianças (24-28 meses) tocam mais em brinquedos associados ao seu género.
- Crianças em idade pré-escolar (3-4 anos) veem os homens como mais competentes do que as mulheres em empregos típicos masculinos e vice-versa.
O que acontece se, na infância, a socialização repetidamente fornece crenças relacionadas com grupos?
Podem os estereótipos tornar-se hábitos de pensamento?
Há um vasto reconhecimento científico de que:
- O percipiente usa conhecimento baseado em categorias.
- Os estereótipos e preconceito são cognitivamente benéficos - eficiência de processamento de informação e formação de julgamentos.
- Essa eficiência permite lidar com limitações cognitivas e atencionais e suplanta tentativas estratégicas de lidar com a complexidade do ambiente.
- As pessoas frequentemente não têm acesso introspetivo ao que estão a fazer e podem mesmo ter a intenção de estar a fazer algo diferente.
- A operação dos estereótipos e preconceito pode estar fora do seu controlo.
Será a mera exposição a um estímulo suficiente para ativar um estereótipo no nosso cérebro? (segundo diversos autores)
- “…qualquer evento tem certas marcas que servem
como pista para ativar a categoria e os conceitos
associados à mesma… uma pessoa com pele escura
ativa qualquer conceito de Afro-americano que seja
dominante na nossa cabeça.” – Allport, 1954 - “…a mera apresentação duma pessoa-estímulo
ativa certos processos de classificação que ocorrem
automaticamente e sem intenção consciente.” –
Brewer, 1988 - “…porque o estereótipo foi frequentemente ativado no passado, funciona como um conjunto de
associações bem aprendidas que são automaticamente ativadas na presença de um membro (ou equivalente simbólico) do grupo alvo.”
– Devine, 1989
Tendo esta perspetiva da automaticidade dos estereótipos em conta, levanta-se a
questão: o que será ativado na memória de um indivíduo quando exposto a um certo alvo?
A ativação dos estereótipos pode ser medida através de tarefas de primação semântica, onde, através de priming de uma certa palavra, se acredita que os conceitos relacionados a ela ficarão mais facilmente acessíveis na nossa memória. (Por exemplo, numa
tarefa de decisão lexical onde os participantes foram primados com “médico”, a resposta será mais rápida para “enfermeira” do que para “manteiga”).
Esta tarefa revela que os estereótipos são estruturas de conhecimento; que existem no nosso cérebro redes associativas (conjunto de conceitos que ficam mais
acessíveis depois da ativação categórica), e que a primação semântica é uma boa forma de aceder ao conhecimento associativo.
Visto que o priming semântico se mostra como uma consequência inevitável do efeito de mera exposição, os psicólogos sociais concluíram que a ativação dos estereótipos funcionaria da mesma maneira – seria um processo mental incondicionalmente automático. De modo a testar esta hipótese, fizeram-se experiências onde os investigadores mediam a acessibilidade de um certo conteúdo categórico (i.e., traços de personalidade), após a exposição a um estímulo prime, geralmente verbal.
Quais foram as primeiras evidências de ativação automática?
- Um dos primeiros estudos deste género foi conduzido por Dovidio e colaboradores (1986). Neste estudo, era apresentado aos participantes um prime categórico, (i.e., “branco” ou “negro”), seguido por uma série de traços de personalidade (ex.: “musical”). Estes traços podiam ser estereotipicamente consistentes ou
inconsistentes com o estímulo prime, sendo a tarefa do participante dizer, o mais rapidamente possível, se o traço poderia ser descritivo da categoria ativada.
Como seria de se esperar, os participantes responderam mais rapidamente (menor tempo de reação) a itens estereotípicos do prime do que a itens não estereotípicos, o que poderia sugerir que a representação mental da categoria foi automaticamente ativada durante a tarefa. Contudo, este estudo tem um problema metodológico: foi explicitamente pedido aos participantes que avaliassem a relação alvoprime (“poderá X ser descritivo de Y?”). Ao chamar a atenção dos participantes para o prime desta maneira, não é possível dizer que a ativação categórica se deu de forma incondicionalmente automática.
- Alguns anos depois, Purdue e Gurtman (1990) conduziram um estudo semelhante ao anterior, mas onde o estímulo prime era invisível, i.e., aparecia de forma subliminar (as palavras “idoso” ou “jovem” apareciam durante breves milissegundos, e eram
depois cobertas com outras palavras). Eram mostrados aos participantes alguns adjetivos, característicos de traços de personalidade, que os participantes tinham de rotular como “positivos” ou “negativos”, o mais rapidamente possível.
Este estudo mostra como resultado principal que os participantes mostraram um maior tempo de reação (menos rapidez) para identificar palavras positivas quando estas seguiam o prime “idoso” do que o prime
“jovem”.
Para além disso, também se nota que os traços negativos ficam mais acessíveis aos participantes depois da exposição ao prime “idoso” do que ao prime “jovem”. O facto de estes resultados se darem sem os indivíduos terem consciência da exposição ao estímulo prime poderia sugerir que a ativação dos estereótipos é realmente automática. Contudo, também este estudo apresenta um problema metodológico:
a primação tinha um intuito avaliativo, e não semântico ou dos próprios conteúdos do estereótipo (por exemplo, é possível que pessoas diferentes considerem traços diferentes como
positivos/negativos, não sendo possível chegar a conclusões definitivas).
Resumidamente, como se caracteriza o Modelo de 2 Processos de Devine (1989)?
Devine, tentando responder às questões sobre a automaticidade dos estereótipos, desenvolve um modelo teórico sobre os componentes automáticos e controlados dos estereótipos e preconceitos.
As noções de estereótipo e preconceito encontram-se intimamente relacionadas, mas ainda assim é possível distingui-las:
- Estereótipo - crença (associações tipo semânticas acerca de grupos sociais)
- Preconceito - julgamentos avaliativos acerca de grupos sociais
O artigo de Devine apresenta as várias formas como os estereótipos e preconceitos se podem relacionar: alguns autores defendem que o preconceito surge inevitavelmente com o estereótipo, mas outros defendem que as crenças pessoais de um indivíduo podem ser incongruentes com os estereótipos, sugerindo até que é possível inibir a resposta estereotípica automática (incongruente com as nossas crenças) quando temos o tempo e a capacidade
cognitiva para tal.
Devine apresenta pressupostos de aquisição e componentes dos estereótipos, e funcionamento face às diferenças individuais nos níveis de preconceito. Este modelo sugere, portanto, que os processos automáticos e controlados dos estereótipos e do preconceito podem ser dissociados, e que o seu funcionamento segue estes pressupostos.
Como explica o modelo de Devine a aquisição de estereótipos?
Este modelo começa por explicar que, em relação à aquisição:
- Os estereótipos (crenças culturais) são adquiridos muito cedo, havendo evidências de que se encontram presentes nas memórias das crianças antes de estas possuírem as habilidades cognitivas necessárias para
fazer uma avaliação crítica dos mesmos.
- Assim, o preconceito (crenças pessoais) é necessariamente uma estrutura cognitiva mais recente.
O que se sabe sobre os componentes dos estereótipos?
- Os estereótipos, tendo uma maior história de ativação, estarão mais acessíveis na nossa memória do que os preconceitos, ativando-se automaticamente
quando expostos a um membro (ou equivalente) de um grupo-alvo. - Tendo isto em conta, quando decidimos que os estereótipos e as nossas crenças são incongruentes, é necessário recorrer a processos controlados de inibição do estereótipo (=inibição controlada) e
ativação da nova estrutura cognitiva que contém a nossa crença pessoal (=substituição dos estereótipos por crenças). - Portanto, a rejeição de um estereótipo implica a resolução de conflito entre o estereótipo já estabelecido (que se ativa por processos automáticos) e as crenças pessoais mais recentes (cuja ativação se dá por processos controlados). Quando não é possível fazer esta ativação, a informação ativada pelo estereótipo pode influenciar o processamento de
informação que se segue - o conhecimento do estereótipo pode influenciar as nossas respostas mesmo quando as nossas crenças pessoais não
estão de acordo (tal como um prime).
Como o funcionamento do modelo de Devine aborda a relação entre as diferenças individuais nos níveis de preconceito?
- A ativação automática dos estereótipos dá-se tanto para pessoas com níveis de preconceito alto como baixo, sendo inevitável.
- As crenças das pessoas com níveis de preconceito alto alinham-se com os estereótipos, não sendo necessário recorrer a processos controlados, mas para as pessoas com níveis de preconceito baixo,
quando estas tomam a decisão (isto não ocorre sempre que há incongruências: por vezes é mais fácil ficar pelos processos automáticos) de inibir o estereótipo por não concordarem com ele, recorrendo
então a processos controlados.
Que fatores influenciam o controlo da ativação dos estereótipos?
- Recursos cognitivos (i.e., capacidades atencionais e de memória de trabalho)
- Objetivos de processamento
- Motivações (i.e., vontade de dar uma resposta sem preconceito)
- Flutuações hormonais
- Igualitarismo, imaginação mental, mudança de perspectiva
- Contexto
De que modo as motivações individuais e sociais influenciam a ativação de estereótipos?
Lepore e Brown (1997) modificaram ligeiramente o estudo de Devine falado acima, de modo a diferenciar a ativação da categoria e a ativação do estereótipo.
Os resultados principais deste estudo foram os seguintes: a ativação da categoria (“Negros”) mostra-se mais forte para os participantes com níveis altos de preconceito do que nos participantes com níveis baixos, mas a ativação automática dos estereótipos (e.g.: “preguiçosos”) não mostra diferenças entre os dois grupos, mostrando o poder do priming direto dos conteúdos (negativos) estereotípicos nos processos automáticos em comparação ao priming categórico.
Isto permite-nos concluir que os estereótipos não são incondicionalmente automáticos, havendo uma relação da sua ativação com o grau de preconceito dos
indivíduos. As pessoas igualitárias (i.e., com níveis baixos de preconceito) são menos afetadas pela ativação subliminar da categoria (devido a diferenças
individuais nas características que x indivíduos associam a x categoria).
De que modo as motivações individuais e sociais influenciam a ativação de estereótipos?
Lepore e Brown (1997) modificaram ligeiramente o estudo de Devine falado acima, de modo a diferenciar a ativação da categoria e a ativação do estereótipo.
Os resultados principais deste estudo foram os seguintes: a ativação da categoria (“Negros”) mostra-se mais forte para os participantes com níveis altos de preconceito do que nos participantes com níveis baixos, mas a ativação automática dos estereótipos (e.g.: “preguiçosos”) não mostra diferenças entre os dois grupos, mostrando o poder do priming direto dos conteúdos (negativos) estereotípicos nos processos automáticos em comparação ao priming categórico.
Isto permite-nos concluir que os estereótipos não são incondicionalmente automáticos, havendo uma relação da sua ativação com o grau de preconceito dos
indivíduos. As pessoas igualitárias (i.e., com níveis baixos de preconceito) são menos afetadas pela ativação subliminar da categoria (devido a diferenças
individuais nas características que x indivíduos associam a x categoria).
A atenção tem algum papel nos estereótipos automáticos e preconceito?
A investigação assume que a atenção é irrelevante, i.e., que os estereótipos se ativam sempre, sem atenção/esforço consciente. Contudo, não é assim tão linear. Noutros cartões é questionado o papel de diversos estudos no desafio do papel da atenção e da automaticidade relacionada.