Conceito e Classificação da Leishmaniose Flashcards
Definição Leishmaniose Tegumentar
A LT é uma doença infecciosa, não contagiosa, causada por diferentes espécies de protozoários do gênero Leishmania, que acomete pele e mucosas. Primariamente, é uma
infecção zoonótica, afetando outros animais que não o ser humano, o qual pode ser
envolvido secundariamente
Agente etiológico
A Leishmania é um protozoário pertencente à família Trypanosomatidae (Anexo C), parasito intracelular obrigatório das células do sistema fagocítico mononuclear, com duas formas principais: uma flagelada ou promastigota, encontrada no tubo digestivo do inseto vetor, e outra aflagelada ou amastigota, observada nos tecidos dos hospedeiros vertebrados
Nas Américas, são atualmente reconhecidas 12 espécies dermotrópicas de Leishmania
causadoras de doença humana e oito espécies descritas somente em animais. No entanto,
no Brasil, já foram identificadas sete espécies, sendo seis do subgênero Viannia e uma do
subgênero Leishmania. As três principais espécies são: L. (V.) braziliensis, L.(V.) guyanensis
e L.(L.) amazonensis e, mais recentemente, as espécies L. (V.) lainsoni, L. (V.) naiffi, L. (V.)
lindenberg e L. (V.) shawi foram identificadas em estados das regiões Norte e Nordeste
Qual o vetor da leishmaniose tegumentar?
Os vetores da LT são insetos denominados flebotomíneos, pertencentes à Ordem
Díptera, Família Psychodidae, Subfamília Phlebotominae, Gênero Lutzomyia, conhecidos
popularmente, dependendo da localização geográfica, como mosquito-palha, tatuquira,
birigui, entre outros**
No Brasil, as principais espécies envolvidas na transmissão da LT são: Lutzomyia
flaviscutellata, Lu. whitmani, Lu. umbratilis, Lu. intermedia, Lu. wellcomei e Lu. migonei
(Anexo E, Figura 9). Essas espécies de flebotomíneos foram definidas como vetoras por
atenderem aos critérios que atribuem a uma espécie a competência vetorial (Anexo F).
Embora ainda não tenha sido comprovado o papel da Lu. neivai e Lu. fischeri como vetores
da LT, estas espécies têm sido encontradas com frequência em ambientes domiciliares em
áreas de transmissão da doença.
Quais são os reservatórios da leishmania?
Infecções por leishmânias que causam a LT foram descritas em várias espécies de
**animais silvestres, sinantrópicos e domésticos (canídeos, felídeos e equídeos). **Com relação
a este último, seu papel na manutenção do parasito no meio ambiente ainda não foi
definitivamente esclarecido.
Reservatórios Silvestres
Já foram registrados como hospedeiros e possíveis reservatórios naturais algumas** espécies
de roedores (figuras 10 a 12), marsupiais, edentados, quirópteros, e canídeos silvestres.**
Modo de transmissão da leishmaniose
O modo de transmissão é por meio da picada de insetos transmissores infectados. Não há
transmissão de pessoa a pessoa
Qual o período de incubação da leishmaniose?
Período de incubação
O período de incubação da doença no ser humano é, em média, de dois a três meses,
podendo variar de duas semanas a dois anos.
Quais são os padrões epidemiológicos da leishmaniose?
Atualmente, pode-se dizer que, no Brasil, a LT apresenta três padrões epidemiológicos
característicos:
a) Silvestre – Neste padrão, a transmissão ocorre em área de vegetação primária e é fundamentalmente uma zoonose de animais silvestres, que pode acometer o ser humano quando este entra em contato com o ambiente silvestre, onde esteja
ocorrendo a enzootia.
b)Ocupacional e lazer – Este padrão de transmissão está associado à exploração desordenada da floresta e à derrubada de matas para construção de estradas, usinas hidrelétricas, instalação de povoados, extração de madeira, desenvolvimento de atividades agropecuárias e de treinamentos militares e ecoturismo (figuras 15 e 16).
c) **Rural e periurbano em áreas de colonização – Este padrão está relacionado ao processo migratório, à ocupação de encostas e aos aglomerados em centros urbanos associados a matas secundárias ou residuais **(figuras 17 e 18).
Ciclo de transmissão da Leishmania (Viannia) braziliensis
A L. (Viannia) braziliensis foi a primeira espécie de Leishmania descrita e incriminada como agente etiológico da LT. É a mais importante, não só no Brasil, mas em toda a América Latina. Tem ampla distribuição, desde a América Central até o norte da Argentina. Esta espécie está amplamente distribuída em todo País.
O parasito foi isolado de roedores silvestres (Bolomys lasiurus, Nectomys squamipes) e sinantrópicos (Rattus rattus) em Pernambuco; felídeos (Felis catus) no Rio de Janeiro; Marmosa (Gracilinanus agilis) em São Paulo; canídeos (Canis familiaris) no Ceará,
na Bahia, no Espírito Santo, no Rio de Janeiro e em São Paulo; e equídeos (Equuscaballus, Equus asinus) nos estados do Ceará, da Bahia e do Rio de Janeiro. Embora o papel desempenhado por estes animais no ciclo de transmissão ainda não tenha sido
bem definido, as evidências indicam apenas os roedores silvestres como prováveis reservatórios primários desta Leishmania. A ecoepidemiologia da LT associada à L. (V.) braziliensis vem assumindo características distintas no decorrer do tempo nos diferentes biomas do País
No Pará, o parasito foi isolado e caracterizado dos vetores Lu. complexa e Lu. wellcomei,
destacando que este último tem como hábito picar o indivíduo mesmo durante o dia (Figura
21). Lutzomyia wellcomei, embora não tenha sido encontrada infectada, é o principal
vetor da L. (V.) braziliensis, em algumas áreas de transmissão no ambiente florestal no
estado do Ceará. Nos estados da Bahia, do Ceará, do Mato Grosso do Sul e do Paraná, o
parasito foi isolado e caracterizado do vetor Lu. whitmani, e nos estados do Ceará, de
Pernambuco e do Rio de Janeiro, da espécie Lu. migonei. No sul do Brasil, Lu. neivai é
sugerido como vetor. No Rio de Janeiro, em São Paulo e Minas Gerais, Lu. intermedia é
a espécie incriminada como vetora, e tem sido encontrada nos domicílios e anexos, em
plantações, principalmente as de subsistência e em áreas de floresta
Nas áreas de ambiente modificado, a transmissão ocorre no ambiente domiciliar,
atingindo indivíduos de ambos os sexos e de todos os grupos etários, com tendências à
concentração dos casos em um mesmo foco. As lesões podem ocorrer em pálpebras ou
em áreas normalmente cobertas pelo vestuário, sugerindo que a transmissão, com grande
frequência, ocorra no interior das habitações.
A doença humana é caracterizada por úlcera cutânea, única ou múltipla, cuja principal
complicação é a metástase, por via hematogênica, para as mucosas da nasofaringe, com
destruição desses tecidos, forma mucosa da doença. A frequência desta complicação tem
sido em torno de 5% dos casos no País (5,55 % em 2014); no entanto, pode superar a 25%
dos casos em alguns municípios endêmico
Fisiopatologia Leishmaniose
Como a leishmaniose pode ser classificada
Alguns autores propõem uma classificação clínica baseada em critérios como
fisiopatogenia a partir do local da picada do vetor, aspecto e localização das lesões, incluindo
a infecção inaparente e leishmaniose linfonodal. Classicamente, a doença manifesta-se sob
duas formas: leishmaniose cutânea e leishmaniose mucosa, que podem apresentar diferentes
manifestações clínicas
**1) Infecção inaparente: O reconhecimento da infecção sem manifestação clínica baseia-se em resultados positivos de IDRM em indivíduos sem sinais de lesão atual ou pregressa de LT **e
geralmente são encontrados em inquéritos e investigações realizados em residentes de
áreas com transmissão de LT.
O uso de testes sorológicos é controverso e não está indicado, pois eles não foram validados para a detecção de infecções assintomáticas e a sua interpretação nesse contexto pode ser problemática pela presença de reações cruzadas, principalmente quando os títulos dos testes baseados em imunofluorescência ou índices de reatividade dos testes
imunoenzimáticos apresentam-se próximos ao ponto de corte. Cabe salientar que nenhum teste sorológico atualmente disponível foi registrado para a detecção da infecção assintomática.** A infecção assintomática não constitui indicação para o tratamento específico. **
2)Leishamniose cutânea
3)Leishmaniose Mucosa
Caracterize a leishmaniose cutâneo
O período de incubação varia usualmente **entre duas semanas e dois meses. **
**A lesão ulcerada é precedida por uma mácula, que perdura de um a dois dias depois da picada infectante. A mácula evolui formando uma pápula que aumenta progressivamente produzindo, geralmente, uma úlcera. A linfoadenomegalia satélite pode ocorrer antes, durante ou após o aparecimento da lesão. **
A úlcera típica de leishmaniose cutânea (LC) é geralmente** indolor e costuma localizar-
-se em áreas expostas da pele; tem formato arredondado ou ovalado; mede de alguns
milímetros até alguns centímetros; tem base eritematosa, infiltrada e de consistência firme;
apresenta bordas bem delimitadas e elevadas com fundo avermelhado e granulações
grosseiras. A infecção bacteriana, quando associada, pode causar dor local e produzir exsudato seropurulento que, ao dessecar-se em crostas, recobre total ou parcialmente o
fundo da úlcera. Adicionalmente, a infecção secundária e o uso de produtos tópicos podem
causar eczema na pele ao redor da úlcera, modificando seu aspecto (lesão ectimoide).**
Outros tipos de lesões cutâneas menos frequentes podem ser encontrados. As lesões
iniciais costumam ser nodulares, localizadas profundamente na hipoderme, ou pequenas
pápulas, semelhantes à picada de inseto, que evoluem aumentando em tamanho e
profundidade (lesões pápulo-tuberosas) e ulcerando no vértice. As lesões vegetantes
caracterizam-se pelo aspecto papilomatoso, úmido e de consistência mole. As lesões
verrucosas caracterizam-se por superfície seca, áspera, com presença de pequenas crostas
e de descamação. Estes dois tipos de lesões podem ser primários ou evoluir a partir de
úlceras. Ao redor da lesão principal, poderão surgir induração subcutânea e pápulas
satélites que podem coalescer e formar placas. Novas lesões de LC podem surgir em
áreas traumatizadas. A linfangite nodular, com ou sem linfadenopatia regional (Figura
22), quando presente, costuma estar recoberta por pele íntegra ou eritematosa (forma
esporotricoide). Eventualmente, pode haver formação de úlceras no trajeto, porém não é
comum observar a formação de gomas, com supuração e fistulização das lesões.
Caso não tratadas, as lesões podem evoluir para a cura espontânea em período de
alguns meses a poucos anos, podendo também permanecer ativas por vários anos e
coexistir com lesões mucosas de surgimento posterior.
As lesões cutâneas, ao evoluir para a cura, costumam deixar cicatrizes atróficas, deprimidas, com superfície lisa, áreas de hipo ou de hiperpigmentação e traves fibrosas.Algumas vezes podem tornar-se hipertróficas, ou podem passar despercebidas por sua coloração, tamanho, forma ou localização
Descreva a lesão ulcerosa causada pela leishmaniose cutânea?
A úlcera típica de leishmaniose cutânea (LC) é geralmente** indolor e costuma localizar-
-se em áreas expostas da pele; tem formato arredondado ou ovalado; mede de alguns
milímetros até alguns centímetros; tem base eritematosa, infiltrada e de consistência firme;
apresenta bordas bem delimitadas e elevadas com fundo avermelhado e granulações
grosseiras. A infecção bacteriana, quando associada, pode causar dor local e produzir exsudato seropurulento que, ao dessecar-se em crostas, recobre total ou parcialmente o
fundo da úlcera. Adicionalmente, a infecção secundária e o uso de produtos tópicos podem
causar eczema na pele ao redor da úlcera, modificando seu aspecto (lesão ectimoide).**
Caracterize a leishmaniose cutânea
Clinicamente, a LM expressa-se por **lesões destrutivas localizadas nas mucosas das vias aéreas superiores. **A forma clássica de LM é **secundária à lesão cutânea. **Dos casos notificados de LT no Brasil, 3% a 6% são casos de LM; no entanto, em alguns municípios
endêmicos, essa proporção pode ser superior a 25%.
Com frequência, pacientes com LM referem história de LC de evolução crônica e curada sem tratamento ou com tratamento inadequado. Pacientes com lesões cutâneas múltiplas, lesões extensas e com mais de um ano de evolução, localizadas acima da cintura, são o grupo com maior risco de desenvolver metástases para a mucosa. Acomete com mais frequência o sexo masculino e faixas etárias usualmente mais altas do que a LC, o que provavelmente se deve ao seu caráter de complicação secundária. É comum que
pacientes com LM apresentem cicatriz indicativa de LC anterior. Outros apresentam
concomitantemente lesões cutânea e mucosa. Alguns indivíduos com LM não apresentam
cicatriz sugestiva de LC. Supõe-se, nestes casos, que a lesão inicial tenha sido fugaz.
Em alguns, a lesão mucosa ocorre por extensão de lesão cutânea adjacente (contígua)
e há também aqueles em que a lesão se inicia na semimucosa exposta, como o lábio. **O
início dos sintomas é insidioso com pouca sintomatologia. Geralmente, a lesão é indolor
e inicia-se no septo nasal anterior, cartilaginoso, próxima ao introito nasal, sendo,
portanto, de fácil visualização. A mucosa nasal é a mais acometida, mas podem haver
lesões em orofaringe, palato, lábios, língua, laringe e, excepcionalmente, traqueia e árvore
respiratória superior. **
Mais raramente, pode haver comprometimento de conjuntivas oculares e mucosas de
órgãos genitais e ânus. As lesões de pele, próximas aos orifícios naturais, também podem, por contiguidade, invadir as mucosas. Pode haver, também, lesão de mucosa sem lesão primária detectável na pele (15% dos casos).
A forma mucosa tem como **queixas obstrução nasal, eliminação de crostas, epistaxe,
disfagia, odinofagia, rouquidão, dispneia e tosse. Raramente há queixa de prurido nasal
e dor. **Entretanto, na ocorrência de infecção secundária e sinusite, pode haver dor local e
cefaleia. Sugere-se sempre examinar as mucosas dos pacientes com leishmaniose cutânea,
porque as lesões mucosas iniciais podem ser assintomáticas.
Ao exame da mucosa, podem ser observados eritema, infiltração, crostas, pontos
sangrantes, erosão e ulceração com fundo granuloso. Caso haja infecção secundária,
as lesões podem apresentar-se recobertas por exsudato mucopurulento e crostas. Na
mucosa do nariz, pode haver perfuração ou até destruição do septo cartilaginoso. Na
boca, pode haver perfuração do palato mole. Nas lesões crônicas e avançadas, pode haver
mutilações com perda parcial ou total do nariz, lábios, pálpebras, causando deformidades
e consequente estigma social.
As evidências sugerem que, entre os pacientes com LC que evoluem para LM, 90%
ocorrem dentro de dez anos. Destes, 50% ocorrem nos primeiros dois anos após a
cicatrização das lesões cutâneas. A **principal espécie causadora de LM em nosso país é a L.
(V.) braziliensis, porém L (V.) guyanensis pode também causar lesão mucosa. **
**Esta forma da doença se caracteriza por apresentar IDRM fortemente positiva, mas
com difícil confirmação parasitológica devido à escassez parasitária, e por apresentar
difícil resposta terapêutica. O tratamento exige doses maiores de drogas e recidivam
com mais frequência **(7,5%) que a forma cutânea (4,3%). É também mais susceptível às
complicações, principalmente as infecciosas, podendo evoluir para o óbito em 1% dos
casos.