Citações - 02 Flashcards
“O peso dos países em desenvolvimento nos fóruns internacionais e os sucessivos fracassos do diálogo Norte-Sul suscitaram no Terceiro Mundo a tomada de consciência de uma mudança estrutural, a partir da redistribuição dos papéis no contexto mundial e da crescente importância das relações Sul-Sul, como principal forma de diminuir a dependência em relação aos países desenvolvidos.”
(Jacques d’Adesky)
“Não seria demasiado afirmar: não há nada mais fecundo em maravilhas do que a arte de ser livre; mas não há nada mais penoso que a aprendizagem da liberdade. O mesmo não se dá com o despotismo. O despotismo se apresenta frequentemente como o reparador de todos os males sofridos; é o apoio da razão, o sustentáculo dos oprimidos e o instaurador da ordem. Os povos adormecem no seio da prosperidade momentânea que ele propicia; e, quando despertam, estão na miséria. A liberdade, ao contrário, comumente nasce no meio das tempestades, estabelece-se penosamente entre as discórdias civis e não é senão quando já está velha que se pode conhecer seus benefícios.”
(Alexis de Tocqueville)
“Revolucionário é raça medida – e comedida. Tal afirmativa soa, a um primeiro exame, como um incurável paradoxo. A ideia que temos, sobre revolucionários, é que são gente de atropelo e impulso, sujeitos, por definição, a exageros, desmesuras – e imprudências. Sabe-se que a posição revolucionária diante dos problemas sociais e políticos implica radicalidade sem – ou com – quartel, dependendo das possíveis implicações militares que venham a integrá-la. De qualquer forma, com baionetas ou sem elas, a visão radical da história busca a raiz dos acontecimentos e das crises, tentando desvendar, por debaixo da conjuntura, a estrutura que lhe fornece vertebração sustentadora.
O revolucionário, nessa medida, e em virtude de sua radicalidade insone, acaba por constituir-se num tipo – ou protótipo – dotado de sólido e bem plantado bom senso.”
(Hélio Pellegrino)
“A missão do chamado ‘intelectual’ é, de certo modo, oposta à do político. A obra intelectual aspira, frequentemente em vão, a aclarar um pouco as coisas, enquanto a do político sói, pelo contrário, consistir em confundi-las mais do que estavam. Ser da esquerda é, como ser da direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode eleger para ser um imbecil: ambas, com efeito, são formas de hemiplegia moral.”
(Ortega y Gasset)
hemiplegia = paralisia total ou parcial da metade lateral do corpo
Vejamos o que ocorre quando um cidadão se torna príncipe de sua pátria, não por meio de crime ou de alguma outra intolerável violência, mas com a ajuda de seus compatriotas. O principado assim constituído podemo-lo chamar civil, e para alguém chegar a governá-lo não precisa de ter ou exclusivamente virtude [virtù] ou exclusivamente fortuna, mas, antes, uma astúcia afortunada. Pois bem, a ajuda nesse caso é prestada pelo povo ou pelos próceres locais. É que em qualquer cidade se encontram essas duas forças contrárias, uma das quais provém de não desejar o povo ser dominado nem oprimido pelos grandes, e a outra de quererem os grandes dominar e oprimir o povo. Destas tendências opostas surge nas cidades ou o principado ou a liberdade ou a anarquia.”
(Maquiavel)
“Saiba-se que existem dois modos de combater: um com as leis, outro com a força. O primeiro é próprio do homem, o segundo dos animais. Não sendo, porém, muitas vezes suficiente o primeiro, convém recorrer ao segundo. Por conseguinte, a um príncipe é mister saber comportar-se como homem e como animal. Isso ensinavam veladamente os autores da antiguidade, ao escreverem que Aquiles e muitos outros príncipes daquela era foram confiados ao centauro Chiron para que os educasse e criasse. Esta parábola não significa senão que é necessário ter-se por preceptor um ser meio homem e meio animal; ou, por outras palavras, que a um príncipe incumbe saber usar dessas duas naturezas, nenhuma das quais subsiste sem a outra.”
(Maquiavel)
“A primeira coisa que observo, ao examinar a posição do gênero humano, é uma contradição manifesta na sua constituição, que a torna sempre vacilante. Como homens, vivemos no estado civil, sujeitos às leis; enquanto povos, cada qual desfruta da liberdade natural; isto torna a nossa situação pior do que se estas distinções fossem desconhecidas. Pois vivendo simultaneamente na ordem social e no estado de natureza, estamos sujeitos aos inconvenientes de ambos, sem encontrar segurança em nenhum dos dois. A perfeição da ordem social consiste, na verdade, no concurso da força e da lei; mas para isso é necessário que a lei dirija a força; e não que, segundo a noção da independência absoluta dos príncipes, unicamente a força, falando aos cidadãos em nome da lei e aos estrangeiros em nome da razão de Estado, tire destes o poder e dos outros a vontade de resistir, de forma que o verdadeiro sentido da justiça não sirva apenas para salvaguardar a violência.”
(Jean-Jacques Rousseau)
“Para repreender ultimamente e mostrar a alguém que está errado, precisamos observar de que ponto de vista encara o assunto, porquanto, em geral, é verdadeiro para o observador, e então reconhecer sua verdade, mas descobrir-lhe o lado pelo qual é falsa. Assim, satisfazemos a pessoa enganada, porque vê que não se equivocava, mas deixava tão somente de encarar a coisa de todos os ângulos possíveis; ninguém se aborrece por não ter visto tudo, porém ninguém quer estar equivocado; e talvez isso provenha do fato de não poder o homem ver tudo e de, naturalmente, não poder se enganar dentro do ângulo que escolheu; e isto porque as percepções dos sentidos são sempre verdadeiras.”
(Pascal)
“Sabe-se que progresso técnico e conteúdo social reacionário podem andar juntos. Esta combinação, que é uma das marcas do nosso tempo, em economia, ciência e arte, torna ambígua a noção de progresso.”
(Roberto Schwarz)
“Não receio dizer que acho melhor ter como inimigos todos os gregos organizados em democracias do que tê-los como amigos sob um regime oligárquico. Pois, se eles (gregos) forem livres, vós não tereis dificuldade de fazer a paz com eles, desde que isto seja o vosso desejo, enquanto que sob um regime oligárquico, a amizade deles não me parece segura. Não pode haver sentimento comum entre a oligarquia e a democracia, entre regimes assinalados pelo desejo de poder e regimes que têm como objetivo o viver igualitário.”
(Demóstenes)
“Na ordem pública da coexistência, o conflito, a competição e a cooperação vêm operando no quadro de uma ampla confrontação industrial e tecnológica que, nos seus desdobramentos, vem mantendo e ampliando a divisão do mundo em dois segmentos de países: um desenvolvido (Norte) e outro subdesenvolvido (Sul). […] Tal tendência para o congelamento do poder mundial, para lembrar a frase do embaixador Araújo Castro, na medida em que se reforça, leva à consolidação oligárquica do poder na vida internacional. […]
Nos desdobramentos desta ordem de coexistência, a segurança deixou de ser qualificada pelos Estados apenas em termos estritos de guerra e paz, e passou a englobar outros valores, como bem-estar econômico-social, autonomia política e prestígio. Na perspectiva dos países subdesenvolvidos, esta nova qualificação de segurança viu-se facilitada pelos resultados do processo de descolonização que, em função do aparecimento de novos Estados, tornou mais complexa uma gestão oligárquica da ordem mundial.”
(Celso Lafer)
. “… as capacidades humanas de dispor tecnicamente da natureza intensificaram-se e ainda se vão intensificando a tal ponto que, enquanto resultados sempre novos se irão tornando alcançáveis, a capacidade de disposição e de planificação torná-los-á cada vez menos ‘novos’. Na sociedade de consumo, a renovação contínua (dos hábitos, utensílios e construções) é já hoje fisiologicamente exigida pela pura e simples sobrevivência do sistema; a novidade não tem nada de ‘revolucionário’ e perturbador, é o que permite que as coisas continuem sempre iguais. Há uma espécie de ‘imobilidade’ de fundo no mundo técnico […].”
(Gianni Vattimo)
Gianteresio Vattimo (Turim, 4 de janeiro de 1936) é um filósofo e político italiano, um dos expoentes do pós-modernismo europeu
“Durante os meus trinta e tantos anos de diplomacia algumas vezes vim ao Brasil, com licença. O mais do tempo vivi fora, em várias partes, e não foi pouco. Cuidei que não acabaria de me habituar novamente a esta vida de cá. Pois acabei. Certamente ainda me lembram as coisas e pessoas de longe, diversões, paisagens, costumes, mas não morro de saudade de nada. Aqui estou, aqui vivo, aqui morrerei.”
(Conselheiro Aires - Machado de Assis)
“Uma cultura nasce no momento em que uma grande alma despertar do seu estado primitivo e se surpreender do eterno infantilismo humano; quando algo limitado, transitório originar-se no ilimitado, contínuo; quando uma forma surgir em meio ao informe. […] Uma cultura morre quando essa alma tiver realizado a soma de suas possibilidades, sob a forma de povos, línguas, dogmas, artes, Estados, ciências e, em seguida, retornar à espiritualidade primordial. Mas a sua existência viva, aquela série de grandes épocas, cujos rígidos contornos designam o progressivo arremate, é uma luta íntima, profunda, passional, com o objetivo de afirmar a ideia contra as forças do caos, no exterior, e contra o inconsciente, no interior, para onde elas se retiram, agastadas. Não somente o artista luta contra a resistência da matéria e o aniquilamento da ideia. Todas as culturas encontram-se numa relação simbólica, quase mística com a extensão, com o espaço dentro do qual e por meio do qual tencionam realizar-se. Alcançado o destino, realizada a ideia, a totalidade das múltiplas possibilidades intrínsecas, com a projeção para fora, fossiliza-se repentinamente a cultura. Definha-se. Seu sangue coagula. Seu vigor diminui. Ela se transforma em civilização. Eis o que sentimos e depreendemos das palavras “egipticismo”, “bizantinismo”, “mandarinato”. Talvez seja tal cultura ainda capaz de estender durante séculos e milênios seus galhos mortos ao alto, igual a uma árvore gigantesca, ressequida, na mata virgem. É o que se observa na China, na Índia, no mundo islâmico.”
Oswald Arnold Gottfried Spengler (Blankenburg, Harz, 29 de Maio de 1880 – Munique, 8 de Maio de 1936) foi um historiador e filósofo alemão, cuja obra O Declínio do Ocidente (1918) ficou como um marco nos debates historiográficos, filosóficos e políticos, da intelectualidade europeia durante o século XX.
“Terminarei este capítulo e este livro por uma observação que deve servir de base a todo o sistema social; é que, em lugar de destruir a igualdade natural, o pacto fundamental substitui, pelo contrário, por uma igualdade moral e legítima o que a Natureza tinha podido pôr de desigualdade física entre os homens, os quais, podendo ser desiguais em força e em gênio, permanecem iguais por convenção e de direito.”
(Jean-Jacques Rousseau)