Artrite Reumatoide Flashcards
Conceito
A artrite reumatoide é uma doença inflamatória sistêmica, autoimune, crônica e progressiva, caracterizada por uma poliartrite simétrica que tem como principal alvo a membrana sinovial. O processo inflamatório persistente leva à destruição da cartilagem articular e do osso subjacente, resultando em deformidades, dor e comprometimento funcional progressivo. Além das articulações, a doença pode afetar outros órgãos e sistemas, causando manifestações extra-articulares.
Epidemiologia
- Prevalência 0,5 a 1% da população mundial;
- Aumenta com a idade (0,3% <35a e 10% >65a);
- Incidência M:H = 2,5:1;
- Brasil: prevalência de AR em 0,46%, com 78,5% entre 35 a 74a.
Gene associado
O principal gene associado à AR é o HLA-DRB1/DR4, cujos alelos de risco aumentam a susceptibilidade à doença. Indivíduos com parentes de primeiro grau afetados apresentam um risco aumentado de 2 a 5 vezes para o desenvolvimento da AR.
Fatores ambientais
-Tabagismo: Está fortemente associado à AR, pois induz alterações epigenéticas, como a citrulinação de proteínas, que podem desencadear uma resposta autoimune.
-Obesidade: O excesso de tecido adiposo promove inflamação crônica por meio da liberação de citocinas e adipocinas pró-inflamatórias, além de aumentar os níveis de estrogênio pela ação da aromatase, o que pode potencializar a resposta inflamatória.
-Infecções virais e bacterianas: Patógenos como o parvovírus B19, Epstein-Barr vírus (EBV), chikungunya e varicela-zoster podem atuar como gatilhos imunológicos. Além disso, infecções bacterianas como a periodontite e a disbiose intestinal têm sido associadas ao desenvolvimento da AR em indivíduos geneticamente predispostos.
Fisiopatologia
A combinação desses fatores desencadeia uma resposta autoimune dirigida contra a membrana sinovial das articulações. Inicialmente, ocorre ativação de células apresentadoras de antígeno (APCs), que estimulam linfócitos T auxiliares (Th1 e Th17), levando à produção de citocinas inflamatórias como TNF-α, IL-1, IL-6 e IL-17. Essas citocinas promovem a proliferação sinovial e o recrutamento de macrófagos e fibroblastos, resultando na formação do pannus – um tecido inflamatório agressivo que invade e destrói a cartilagem e o osso subjacente, levando à deformidade articular e perda funcional progressiva.
O predomínio da AR em mulheres pode estar relacionado ao efeito pró-inflamatório do estrogênio, que influencia a regulação da imunidade inata e adaptativa, tornando-as mais susceptíveis a doenças autoimunes.
Sintomas característicos
- Rigidez matinal >1 hora, que melhora com o movimento ao longo do dia.
- Dor inflamatória associada a edema, calor e limitação dos movimentos articulares.
- Erosões ósseas justa-articulares, levando à destruição progressiva da cartilagem e do osso subjacente.
- Deformidades articulares, como:
*Desvio ulnar dos dedos
*Deformidade em pescoço de cisne (hiperextensão da IFP e flexão da IFD)
*Deformidade em botoeira (flexão da IFP e hiperextensão da IFD)
*Comprometimento funcional progressivo, podendo evoluir para subluxações, anquilose e perda da função articular.
Acometimento articular
- Afeta primariamente as articulações sinoviais, sendo mais comum em articulações periféricas.
- O padrão habitual é poliarticular, mas a doença pode se manifestar de forma oligoarticular ou, raramente, monoarticular no início.
- As pequenas articulações das mãos e punhos são frequentemente envolvidas, especialmente as metacarpofalângicas (MCF) e interfalangianas proximais (IFP), enquanto as interfalangianas distais (IFD) são tipicamente poupadas (exceto em casos associados à osteoartrite ou artrite psoriásica).
- Evolui com padrão simétrico, aditivo (novas articulações são progressivamente acometidas) e cumulativo (manifestações persistem ao longo do tempo).
Manifestações nas mãos e punhos
* Sinais iniciais e complicação
- Sinais iniciais
-Alargamento articular e edema devido à sinovite inflamatória.
-Atrofia dos músculos interósseos, resultando na chamada “mão reumatoide”, com perda de volume muscular e fraqueza funcional. - Complicação
Síndrome do túnel do carpo: compressão do nervo mediano devido à inflamação sinovial no canal do carpo, resultando em dor, formigamento e fraqueza na mão.
Manifestações nas mãos e punhos
* Deformidades típicas
-Desvio ulnar das metacarpofalângicas (MCF) e desvio radial dos punhos, levando à instabilidade articular e comprometimento funcional.
-Dedo em pescoço de cisne: hiperextensão da interfalangiana proximal (IFP) e flexão da interfalangiana distal (IFD).
-Dedo em botoeira (abotoadura): flexão da IFP e hiperextensão da IFD.
-Punho em dorso de camelo: sinovite grave no punho causando proeminência óssea devido à subluxação do semilunar.
Manifestações em ombros
*Ombros: Restrição progressiva da mobilidade devido à dor e inflamação, podendo evoluir para capsulite adesiva (“ombro congelado”), caracterizada por fibrose e enrijecimento articular.
Manifestações em cotovelos
*Cotovelos: Predisposição a contraturas em flexão, uma postura antálgica resultante da inflamação persistente, levando à limitação funcional progressiva.
Manifestações em coluna cervical
*Coluna Cervical: Cervicalgia e rigidez devido à sinovite cervical. Instabilidade entre C1 e C2 causada pela tenossinovite do ligamento transverso de C1, podendo levar à subluxação atlantoaxial. Em casos graves, pode ocorrer mielopatia cervical, com risco de compressão medular e sintomas neurológicos progressivos.
Quadris: Diminuição da amplitude de movimento da articulação coxofemoral, comprometendo a marcha e a funcionalidade.
Manifestações em joelhos
*Joelhos:
Edema e derrame articular, frequentemente associado à inflamação sinovial crônica.
Formação do cisto de Baker (cisto poplíteo) devido à herniação posterior da cápsula articular. Em casos de ruptura, pode mimetizar sintomas de trombose venosa profunda (TVP), sendo um importante diagnóstico diferencial.
Articulações acometidas:
Metatarsofalângicas (MTF), talonaviculares e tornozelos, levando a dor e instabilidade progressiva.
Deformidades típicas:
Desvios e subluxação das cabeças das MTF em direção à região plantar, resultando na perda do arco natural do pé e na formação de calosidades dolorosas.
Deformidades dos dedos, como:
Dedos em martelo (flexão da interfalangiana proximal e hiperextensão da interfalangiana distal).
Dedos em garra (flexão das interfalangianas e hiperextensão da metatarsofalângica).
Hálux valgo (desvio lateral do primeiro dedo).
Comprometimento funcional:
Distúrbios da marcha, com alteração na distribuição do peso e dificuldade de locomoção.
Síndrome do túnel do tarso: compressão do nervo tibial posterior, causando dor, formigamento e fraqueza na região plantar.