127 - Hemoglobinopatias Flashcards
Quais os distúrbios genéticos mais comuns do mundo?
As Talassémias, com quase 200 milhões de afetados mundialmente.
Qual a hemoglobinopatia estrutural mais comum?
Drepanocitose.
4 manifestações clínicas das hemoglobinopatias?
1 - Anemia Hemolítica
2 - Eritrocitose
3 - Cianose
4 - Complicações vaso-oclusivas
O que são hemoglobinopatias?
Distúrbios que afetam ESTRUTURA, FUNÇÃO ou PRODUÇÃO da Hb.
Qual a composição das diversas hemoglobinas - i.e., HbA, HbA2, HbF?
HbA: α2β2 (alfa e beta, os maiores, logo têm de ser dos adultos)*
HbF: α2γ2 (cadeia gama, no alfabeto o G vem mesmo antes do F)*
HbA2: α2δ2 (delta, que é o que sobra)*
*Pseudo-mnemónicas!
Qual a estrutura da hemoglobina? Qual a composição do grupo heme?
1 Hb = 4 globulinas
Cada globulina tem um grupo heme, composto de um anel de protoporfirina IX e de uma molécula de ferro FERROSO (Fe2+).
Onde se localizam os genes das globulinas α e β? E quandos aminoácidos as compõem?
A globulina α tem dois loci no cromossoma 16 (141 aa).
A globulina β tem um loci no cromossoma 11 (146 aa).
Quais são as propriedades da molécula de hemoglobina mais afetadas nas hemoglobinopatias?
1) A sua solubilidade*
2) A ligação reversível de O2
O tetrâmero de Hb é altamente SOLÚVEL (!!!), sendo que cadeias de globulina individuais são insolúveis - se não pareadas, precipitam e lesam a células, podendo mesmo causar apoptose.
O que é o efeito de Bohr?
É a capacidade da Hb de libertar mais O2 para os tecidos em pH baixo* (iões H+ têm ação estabilizadora sobre desoxiglobina).
*Lógica da batata: se um tecido for metabolicamente muito ativo (e portanto, produz mais CO2 com pH mais baixo), existe uma maior necessidade de aporte de O2, ou seja, a Hb terá que ter MENOR afinidade pelo O2.
Quais a diferença entre as HbA e HbF na sua afinidade pelo 2,3-PBG?
HbA tem uma afinidade razoavelmente ALTA pelo 2,3-PBG.
HbF NÃO SE LIGA ao 2,3-PBG, logo tem MAIOR afinidade por O2.
Qual é o efeito de 2,3-PBG na sua ligação à hemoglobina?
2,3-PBG é a principal molécula que altera a afinidade da Hb pelo O2, diminuido-a.
Como se manifesta a expansão maciça da MO na β-talassémia (dizer 2)?
1) Hiperplasia medular do maxilar e do osso frontal (face de esquilo típica nas crianças)
2) Invasão cortical do osso com atraso acentuado do crescimento, o que leva a adelgaçamento e fraturas patológicas dos ossos longos e vértebras.
4 consequências do recrutamento de recursos calóricos para sustentar eritropoiese?
1 - Inanição
2 - Suscetibilidade a infeções
3 - Disfunção endócrina
4 - Morte na 1ª década de vida (casos graves)
4 consequências de transfusões crónicas de GV em doentes com β-talassémia:
1 - Melhoram aporte de O2
2 - Surprimem eritropoiese ineficaz excessiva
3 - Prolongam sobrevida
MAS!
4 - Existem EAs inevitáveis como a SOBRECARGA DE FERRO, fatal pelos 30 anos de idade.
3 causas de aumento da afinidade da Hb ao O2 (deslocamento ESQUERDO da curva de dissociação):
1 - ↓ CO2 (↑ pH)
2 - ↓ 2,3-BPG
3 - ↓ Temperatura
Outras: Methemoglobina, Hb Yakima, intoxicação CO.
3 causas de diminuição da afinidade da Hb ao O2 (deslocamento DIREITO da curva de dissociação):
1 - ↑ CO2 (↓ pH)
2 - ↑ 2,3-BPG
3 - ↑ Temperatura
Outras: Hb Kansas
A partir de que IG passa o feto a produzir Hb adulta?
A partir das 38 semanas, a produção de Hb pelo feto é quase exclusivamente do tipo adulto.
*A síntese da HbF inicia por volta das 10/11 semanas IG.
Fetos e RN necessitam de que tipo de globina?
De α-globina, mas não de β!
Qual é o fator de transcrição que tem papel importante na transição de HbF para HbA? Isto tem importância em termos de abordagem terapêutica?
Fator Bcl11a.
A prevenção ou reversão parcial deste switch pode ser uma estratégia eficaz nas Hbpatias das cadeias β.
É possível manter a produção de HbF na vida pós-natal? Se sim, porque mecanismo?
É, em pequenas quantidades!
Existem precursores eritroides imaturos comprometidos ( BFU-e) que são clones de GV - as células F, que mantêm esta capacidade de produção.
O recrutamento destas células ocorre especialmente em caso de stresses eritroides profundos.
3 stresses eritróides marcantes:
1 - Anemias hemolíticas GRAVES
2 - Transplante de MO
3 - QT por carcinoma
Outras: Anemia falciforme, Talassémia α/Síndrome de talassémia β, Persistência Hereditária de Hb Fetal (PHHF), Displasia medular
Que sugere esta tríade?
Talassémia α + deficiência mental + mielodisplasia
Mutações na via ATRX.
Mnemónica: O macho α (α-globina) de 16 anos (cromossoma 16), tem 4 fêmeas (4 loci) atrás dele porque tem ATRaXão fatal (via ATRX).
Qual é a função de PEHA (proteína estabilizadora da α Hb)?
Permite o folding e a solubilidade da globina α.
De outra forma, esta desnatura com facilidade e forma precipitados insolúveis.
A variação de PEHA em termos de quantidade e/ou funcionalidade pode explicar variabilidade clínica em sujeitos com mutações talassémicas hereditárias idênticas.
Em que consistem as Hbpatias estruturais? Que subgrupos existem?
Consistem em mutações que alteram a sequência de aminoácidos, com alteração das propriedades físicas/químicas e consequente disfunção da Hb.
a. Polimerização anormal: HbS - síndrome falciforme
b. Alteração da afinidade pelo O2
c. Hb que oxidam rapidamente/alteração da solubilidade
i. Hb instáveis
ii. Methemoglobinémia hereditária
Em que consistem as talassémias? Que subgrupos existem?
Comprometimento na produção ou tradução do mRNA das globinas, com biossíntese deficiente das mesmas.
Talassemias α e β.
O que são variantes talassémias?
Subgrupo de Hbpatias que apresenta caraterísticas comuns às talassémias e às Hbpatias estruturais.
Onde são as Hbpatias mais comuns? Porque motivo?
São comuns onde a malária é endémica.
Isto reflete seleção natural por GVs anormais, uma vez que são inóspitos para os parasitas.
*Nota:
Crianças com α-talassémia são MAIS suscetíveis a P. vivax não letal, mas estão PROTEGIDAS contra P. falciparum, a forma mais letal.
Como é a hereditariedade das Hbpatias?
São traços autossómicos co-dominantes.
Isto significa que heterozigotos compostos que herdem um alelo mutante diferente de cada progenitor exibe caraterísticas de ambos (p.e, β-talassémia falciforme).
Em que tipo de Hbs interferem mutações da cadeia α? E da cadeia β?
Mutações da cadeia α interefem na formação de HbF, HbA e HbA2.
Mutações da cadeia β interferem na formação de HbA.
Nota:
- HbF:α2γ2
- HbA: α2β2
- HbA2: α2δ2
Quando é que alterações da cadeia α se tornam sintomáticas? E da cadeia β?
Alterações da cadeia α são sintomáticas in utero e no período pós-natal (!!).
Alterações da cadeia β tornam-se sintomáticas apenas a partir dos 3-9 meses, quando a HbA substitui em grande parte da HbF.
Quais são os exames que permitem a deteção e caraterização de Hbpatias?
Qual é a nova técnica que tem cada vez mais uso e porquê?
Técnicas eletroforéticas.
- pH de 8.6 em acetato de celulose (triagem inicial)
- pH de 6.1 em agar (deteta outras variantes de Hb)
A espetroscopia de massa tem vindo a substituir a eletroforese porque existem variantes eletroforeticamente silenciosas.
Além da eletroforese, que outros testes existem para as Hbpatias?
Técnicas de quantifcação do perfil de Hb e testes específicos.
Que informação nos podem dar as técnicas de quantificação de perfil de Hb?
Em que situações podem ser úteis?
↑ HbA2: Traço talassémico β
↓ HbA2: Deficiência de Ferro
↑ HbF: PHHF, algumas síndromes talassémicas β, stress eritróide ou displasia medular
Outras situações em que pode ser necessária: traço falciforme, sindrómes talassémicas falciformes, doença da HbSC, monitorização da tx de exsanguineotransfusão para reduzir % de HbS circulant.
Quais são os testes específicos para avaliação da Hb e qual a sua utilidade?
Ensaios funcionais para falciformização, afinidade O2 ou solubilidade. # Teste de solubilidade falciforme # Precipitação em isopropanolol ou após aquecimento a 50ºC (Hb instáveis) # Quantificação da P50 (pressão parcial de O2 para SatO2 Hb 50%) # Determinação da % carboxihemoglobina e methemoglobina
Algumas variantes de Hbpatias podem co-migrar com HbA ou HbS, e nestes casos a avaliação eletroforética é considerada incompleta.
Qual é a anormalidade genética na síndrome falciforme?
Qual a sua consequência?
Mutação de um gene da globina β, com substituição do 6º a.a. de ácido glutâmico para valina (6Glu -> Val).
Isto faz com que haja uma polimerização reversível da Hb quando desoxigenada, com formação de rede de polímeros fibrosos (Gv adquire forma de foice - falciformização).
Os GVs tornam-se rígidos, desidratados (inluxo de Ca e extravasamento de K)e há aumento da viscosidade.
As alterações dos GVs na síndrome falciforme condicionam que tipo de fenómenos fisiopatológicos? Dizer 2.
- Vasoclusão microvascular - domina quadro clínico
- Isquémia tecidular
- Dor aguda
- Lesão orgânica gradual (baço, SNC, articulações, osso, fígado, rins, pulmões) - Destruição prematura dos GVs
- Anemia
- Icterícia
- Litíase
- Úlceras pernas
Qual a epidemiologia de HbS (USA)?
Em negros americanos:
- 8% são heterozigotos
- 1/400 são homozigotos
Manifestações clínicas da anemia falciforme (3 principais + outras). Qual é a mais comum?
- Anemia Hemolítica
- Granulocitose
- Crises Álgicas (a MAIS comum!)
Outras: microenfartes esplénicos repetidos, crise de sequestro esplénico, oclusão de vasos da retina, necrose papilar renal, necrose renal disseminada, isquémia óssea e articular, síndrome mão-pé, AVC, priapismo, úlceras crónicas das pernas.
+ Síndrome Torácica Aguda!
Caraterísticas da anemia hemolítica na anemia falciforme.
- Ht 15-30%
- Reticulose significativa!
Um aumento do Ht e diminuição da reticulose são benéficos, mesmo à custa de um aumento de viscosidade sanguínea (reticulócitos aderem aos vasos).
Como varia a granulocitose na anemia falciforme?
Flutua substancial e imprevisivelmente, durante e entre crises dolorosas, episódios infecciosos ou outras doenças.
O que são crises álgicas?
São a manifestação mais comum da anemia falciforme, causados pela vaso-oclusão em estruturas musculo-esqueléticas e tecido conjuntivo.
Episódios recorrentes e intermitentes de:
- Dor aguda em qualquer parte do corpo
- Hipersensibilidade
- Febre
- Taquicardia
- Ansiedade
Podem durar de algumas horas a 2 semanas
Fatores desencadeantes de crises álgicas.
F-A-T-I-C-H-A Febre Exercício excessivo Temperatura (alterações abruptas) Infeção Contraste (produtos hipertónicos) Hipóxia Ansiedade
Com que se relacionam as crises álgicas repetidas que exigem internamento?
As crises repetidas, quando >3/ano, correlacionam-se com ↓ da sobrevida no adulto.
Diferenças entre microenfartes esplénicos repetidos e crise de enfarte esplénico
Microenfartes esplénicos
- Frequente 18-36 meses de vida
- ↑ suscetibilidade a infeções (Pneumococos)
Crise de enfarte esplénico
- Obstrução venosa aguda do baço
- RARA no início da infância
- Pode ser necessária esplenectomia ou transfusão de emergência
Necrose papilar renal vs Necrose renal disseminada
Necrose papilar renal
- SEMPRE acompanhada de isostenúria
Necrose renal disseminada
- CAUSA TARDIA COMUM DE MORTE!
- (IR em adultos)
Em que pode resultar a isquémia óssea e articular?
- Necrose ASSÉTICA (++ cabeças do úmero ou fémur)
- Artropatia crónica
- Suscetibilidade a OSTEOMIELITE por Salmonella.
Porque ocorre a síndrome mão-pé?
Enfartes dolorosos repetidos dos dedos e dactilite.