Unidades 1 e 2 Flashcards
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de Oliveira. O trabalho do antropólogo
O que envolve “estar lá” e “estar aqui” na pesquisa antropológica para Cardoso de Oliveira?
ESTAR AQUI:
Faculdade do pensamento, diálogo com os pares, leituras, análises, 2ª Refração
Deslocamento geográfico ou subjetivo
ESTAR LÁ:
Olhar e ouvir disciplinados, entrevistas, interação, observação, participação, notas de campo, 1ª Refração.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de Oliveira. O trabalho do antropólogo
Como operam a percepção e o pensamento nessas duas fases da pesquisa?
O Olhar e o Ouvir seriam parte da primeira etapa ,enquanto o Escrever seria parte inerente da segunda.
Devemos entender, assim, por Escrever o ato exercitado por excelência no gabinete, cujas características o singularizam de forma marcante, sobretudo quando o comparamos com o que se escreve no campo , seja ao fazermos nosso diário, seja nas anotações que rabiscamos em nossas cadernetas. E se tomarmos ainda Geertz por referência vemos que, na maneira pela qual ele encaminha suas reflexões, é o Escrever “estando aqui”, portanto fora da situação de campo, que cumpre sua mais alta função cognitiva.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de Oliveira. O trabalho do antropólogo
Faça um exercício de imaginação. Traduza essa operação para a clínica psicológica.
Essa comparação com a clínica psicológica se dá no esforço em compreender aquilo que é observado na clínica e o que é vivenciado “lá fora” pelo paciente.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de Oliveira. O trabalho do antropólogo
O que o autor fala sobre os dois processos de refração que ocorrem na pesquisa antropológica?
Cardoso aponta que a primeira experiência do pesquisador de campo (ou no campo) esteja na domesticação teórica de seu olhar. Isso porque a partir do momento em que nos sentimos preparados para a investigação empírica, o objeto sobre o qual dirigimos o nosso olhar já foi previamente alterado pelo próprio modo de visualizá-lo. Seja qual for esse objeto, ele não escapa de ser apreendido pelo esquema conceitual da disciplina formadora de nossa maneira de ver a realidade.
Esse esquema conceitual disciplinadamente apreendido durante o nosso itinerário acadêmico( daí o termo disciplina para as matérias que estudamos), funciona como uma espécie de prisma por meio do qual a realidade observada sofre um processo de refração - se me é permitida a imagem. É certo que isso não é exclusivo do Olhar, uma vez que está presente em todo processo de conhecimento, envolvendo, portanto, todos aqueles atos cognitivos, que mencionei, em seu conjunto. Mas é certamente no Olhar que essa refração pode ser mais bem compreendida. A própria imagem óptica - refração - chama atenção para isso.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de Oliveira. O trabalho do antropólogo
O que é observação participante e o que é relativização e como ambas se interligam?
Observação participante: significa dizer que o pesquisador assume um papel perfeitamente digerível pela sociedade observada, a ponto de viabilizar uma aceitação senão ótima pelos membros daquela sociedade, pelo menos afável, de modo a não impedir a necessária interação.
Relativização: reconhecer outros pontos de vista culturais como legítimos e originais. Uma forma de evitarmos ser etnocêntricos.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de Oliveira. O trabalho do antropólogo
Descreva a observação participante : estar lá e estar aqui
Estar lá (Percepção): Olhar e Ouvir disciplinados.
Estar Aqui (Pensamento): Escrever orientado pela memória e
intersubjetividade com pares.
Olhar e Ouvir: 1a Refração.
Escrever: 2a refração.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de Oliveira. O trabalho do antropólogo
OLHAR, na observação participante
Olhar: Funciona como um prisma por meio do
qual a realidade é observada (1a refração).
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de Oliveira. O trabalho do antropólogo
OUVIR na observação participante
Ouvir
Estar preparado para eliminar todos os ruídos que lhe pareçam insignificantes, que não
façam nenhum sentido no corpus teórico de sua disciplina.
O ouvir nos ajuda a entender os sentidos e as significações dos fenômenos. Buscamos explicações, dadas pelos próprios membros da comunidade investigada.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de Oliveira. O trabalho do antropólogo
ESCREVER na Observação Participante.
Escrever
- Cumpre a mais alta função cognitiva, pois envolve trazer os fatos observados (vistos e ouvidos) para o
plano do discurso.
- Envolve uma comunidade de comunicação e de argumentação (pares, coletivo ou disciplina).
- Na escrita, o que realizamos é uma interpretação balizada pelas categorias ou pelos conceitos básicos constitutivos
da disciplina.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de Oliveira. O trabalho do antropólogo
O que é a segunda refração?
2a refração: “Escrever faz com que os dados sofram uma nova refração. O processo de escrever (ou
inscrever) as observações no discurso da disciplina está contaminado pelo contexto de “estar aqui” (pelos
congressos, pela pesquisa de biblioteca)”.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de Oliveira. O trabalho do antropólogo
Quais os limites no exercício do antropólogo?
- Limite pessoal
- Limite ético
- Relacionamentos sexuais-afetivos
- O perigo da conversão ou encantamento
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de Oliveira. O trabalho do antropólogo
O que o autor fala sobre fusão de horizontes a partir da escuta e sobre a escolha entre
o Eu e o Nós na escrita?
- Transformar o “informante” em “interlocutor”; o “objeto” em “sujeito”. Estabelece-se uma relação dialógica.
BIZERRIL, José. O Vínculo Etnográfico: Intersubjetividade e coautoria na Pesquisa Qualitativa.
Descreva a antropologia realista (que tem como nome principal Malinowski), a qual o autor descreve como sendo o modelo hegemônico de antropologia até os anos 1960-70.
Antropologia Realista:
- Crença na neutralidade
- Observação: em detrimento da interpretação
Escrita realista: a escrita etnográfica clássica investe na construção da posição do etnógrafo como observador privilegiado
- Apelo as capacidades empáticas do antropólogo, embora, na prática, haviam limites não revelados
A escrita etnográfica correspondente a esse modelo, segundo o autor, baseia-se em convenções literárias realistas, em que um universo coerente é representado com um cenário institucional em primeiro plano contra um pano de fundo cultural, e o pesquisador aparece como sujeito neutro do conhecimento. Seguindo a análise de Clifford (1998), esse foi o modelo hegemônico até os anos 60 e 70, quando autores hermeneuticamente sensíveis, como Geertz, reformularam o conceito de cultura com base em referencial semiótico e, assim, repensaram a tarefa da antropologia como de natureza eminentemente
interpretativa, análoga a uma tradução (GEERTZ, 1989).
BIZERRIL, José. O Vínculo Etnográfico: Intersubjetividade e coautoria na Pesquisa Qualitativa.
Agora aponte as principais características da Antropologia Pós-Moderna e suas propostas e inovações em relação ao modelo tradicional.
Após a década de 1980;
Etnografia com proposta dialética e polifônica;
Explicitação das condições contextuais em que as informações são obtidas. Registro das diferenças entre os pontos de vista dos nativos e etnógrafo;
Reflexão crítica acerca da textualidade etnográfica.
Identificação das convenções literárias e estratégias retóricas de autoridade científica do método tradicional;
Fenomenologia e corpo. Reflexão sobre experiência corpórea do antropólogo no campo. O polo da “participação” na prática da observação participante é mais valorizada.
Exploração de outros sentidos além da visão e uso de metáforas sensoriais
Foco em “Fazer com” e “Vivenciar junto”.
Alternância entre aproximação e distanciamento na prática etnográfica. Há momentos para observação, para reflexão solitária, para interação e para envolvimento, sem que haja fórmula preestabelecida de sua aplicação.
BIZERRIL, José. O Vínculo Etnográfico: Intersubjetividade e coautoria na Pesquisa Qualitativa.
Para Geertz o antropólogo se torna um intérprete privilegiado. Porque? Como isso seria possível?
Baseado na polêmica publicação do diário de campo de Malinowski (1997), assinalou que um antropólogo não precisava ser dotado de sensibilidade extraordinária. Como contraproposta, afirmou que uma estratégia de investigação centrada na análise dos sistemas simbólicos “garante” ao antropólogo o acesso ao ponto de vista do nativo. Geertz (1998) ainda acrescentou, no seu argumento em defesa de posição intelectual, que, em função da influência da cultura sobre a constituição da identidade, não é possível ao antropólogo sentir-se como nativo. Logo, o “método da empatia”, como o denomina, só pode falar do próprio pesquisador. Geertz (1998) define empatia como uma capacidade extraordinária, quase paranormal, de pensar e sentir-se como se fosse um nativo.
BIZERRIL, José. O Vínculo Etnográfico: Intersubjetividade e coautoria na Pesquisa Qualitativa.
O que Bizerril fala sobre empatia e como sua proposta diverge do que Geertz entende por empatia?
Sua estratégia interpretativa relega a segundo plano a relação entre qualidade da etnografia e a conjunção de circunstâncias fortuitas e incontroláveis, de vínculos interpessoais entre o antropólogo e seus nativos e minimiza o comprometimento existencial do antropólogo.
Para Geertz, em função influência da cultura sobre a constituição da identidade, não é possível ao antropólogo sentir-se como nativo. Logo, o “método da empatia”, como o denomina, só pode falar do próprio pesquisador. (…) Geertz (1998) define empatia como uma capacidade extraordinária, quase paranormal, de pensar e sentir-se como se fosse um nativo.
A generalização de Geertz acerca da impossibilidade da empatia determina a posição do antropólogo como sujeito ocidental e a do nativo, um tipo “exótico” de sujeito, com base em referência ocidental. Generaliza uma situação metropolitana de pesquisa antropológica, com lugares mais ou menos fixos para o antropólogo e o nativo. Em outras palavras, todo o argumento torna-se problemático se entendemos que as posições de pesquisador e nativo
podem ser ocupadas por inúmeros tipos de sujeitos no mundo contemporâneo e que a distância social e cultural entre eles varia.
BIZERRIL, José. O Vínculo Etnográfico: Intersubjetividade e coautoria na Pesquisa Qualitativa.
O que se pode deduzir do texto de Bizerril acerca da “posição de fala” do pesquisador acerca do conhecimento produzido? O que o autor quer dizer com conhecimento pós-colonial?
Sugere-se não assumir de forma acrítica a posição do sujeito ocidental do conhecimento, mas integrar a reflexão sobre as múltiplas posições de sujeito que são acionadas pelos contextos sociais, culturais e históricos que enquadram as reflexões acadêmicas em problemas e anseios da sociedade mais ampla.
O antropólogo é um ser humano em um universo intersubjetivo.
A importância das relações humanas como constitutivas da possibilidade de pesquisa qualitativa; A repercussão da experiência de campo sobre a subjetividade do pesquisador
Limites éticos. 1. Legitimidade dos laços emocionais; 2. O risco e a tentação de tornar-se nativo.
Postura epistemológica. Criar espaço para o subalterno falar = contribuição ao diálogo intercultural.
Experiência “iniciática”. “A prática etnográfica deve ser tanto um espaço para rever a pertinência da teoria e produzir novas teorias quanto um espaço em que o etnógrafo pode ter a oportunidade de revisão completa, como sujeito” (BIZERRIL, 2004; 160).
BIZERRIL, José. O Vínculo Etnográfico: Intersubjetividade e coautoria na Pesquisa Qualitativa.
O que é vínculo etnográfico para Bizerril e o que tal vínculo se relaciona com a Psicologia se realizarmos um exercício de tradução entre Psicologia e Antropologia?
Vinculo etnográfico: “por analogia à terminologia utilizada na discussão da área clínica de psicologia, em que o estabelecimento de aliança, pacto ou relação de cooperação e confiança entre o etnógrafo e seus colaboradores nativos é indispensável para que ocorra a pesquisa”. (BIZERRIL, 2004; 158)