LPO Flashcards
Certo pensador, ao comentar a respeito de determinada ideologia, manifestou a seguinte opinião: “Essa ideologia é igual às outras: se você acredita, não precisa de explicação; se você não acredita, não adianta explicação.”.
Uma pesquisa revelou que, de 1.000 pessoas de uma cidade, 300 conhecem e acreditam na referida ideologia, 400 a conhecem, mas não acreditam nela, 200 não a conhecem e 100 a conhecem, mas são indiferentes (nem dizem acreditar, nem dizem desacreditar).
Considerando essa situação hipotética, julgue o item seguinte.
As informações apresentadas, em especial a opinião do pensador, permitem inferir que a ideologia em referência prescinde de explicação.
GABARITO: ERRADO.
A questão envolve interpretação de texto. Voltemos ao comentário do pensador:
“Essa ideologia é igual às outras: se você acredita, não precisa de explicação; se você não acredita, não adianta explicação.”
Pessoal, não podemos inferir que a ideologia prescinde (dispensa) de explicação. O autor afirmou apenas que não adianta explicá-la àqueles que não acreditam nela (não adiantar explicar não é sinônimo de não ser necessário explicar).
Logo, o item está incorreto, pois a inferência extrapolou o conteúdo textual.
Vamos revisar as diferenças entre compreensão e interpretação de texto:
- Recorrência / compreensão: as informações estão explícitas no texto, com as mesmas palavras ou de forma parafraseada. As questões podem começar com:
De acordo com o texto…
O texto informa que…
Acerca das ideias e dos sentidos do texto…
- Inferência / interpretação: o leitor deve fazer deduções a partir do texto, lendo as entrelinhas. Algumas palavras dentro da frase carregam informações implícitas, as quais devem ser captadas pelo candidato. As questões podem começar com:
Infere-se, conclui-se do texto que…
A partir do texto, pode-se entender que…
Qual a intenção do autor ao afirmar…
Também devemos nos atentar aos principais erros de interpretação:
- Extrapolação: quando o texto vai até um certo limite e a banca inventa algo que não está no texto; se o candidato não tiver entendido bem ou não se atentou a determinados trechos, pode aceitar o “extra” proposto e acabar errando.
- Restrição: é o inverso da extrapolação. Quando a banca suprime informações ou as limita a um universo inferior ao fornecido pelo texto.
- Acréscimo de opinião: a banca costuma parafrasear o texto e acrescentar informações que parecem ter sido ditas pelo autor, mas não foram. Geralmente o examinador adiciona opiniões do senso comum, que está na consciência coletiva ou que as pessoas costumam aceitar como “certo” ou “errado”. É uma espécie do gênero “extrapolação”.
- Contradição: costuma ser o erro mais fácil de ser identificado. O texto diz algo e a banca o nega de forma sutil.
A resposta correta é:
Errado.
CEBRASPE/LPO/073
Notícias falsas costumam ser definidas como notícias, estórias, boatos, fofocas ou rumores que são deliberadamente criados para ludibriar ou fornecer informações enganadoras. Elas visam influenciar as crenças das pessoas, manipulá-las politicamente ou causar confusões em prol de interesses escusos.
Muitos comentadores têm chamado a atenção para o fato de que a falsidade das notícias não é um fenômeno inteiramente novo, pois já existia no tempo dos gregos, e, mais recentemente, desde que o tema entrou em pauta, não têm faltado artigos sobre o histórico das notícias falsas ao longo do tempo.
De fato, se a expressão significar a criação de informação falsa movida pelo propósito de enganar, o conceito está longe de ser novo. Basta pensar na longa história dos tabloides, das fofocas acerca da vida das celebridades, das táticas de estilo das revistas para fisgar seu público. Sabe-se também como as estratégias de sedução e persuasão das revistas sempre funcionaram. Em quaisquer dos casos, são mensagens de forte apelo visual cujas chamadas são tão inacreditáveis que se tornam irresistíveis.
Lucia Santaella. A pós-verdade é verdadeira ou falsa.
Barueri: Estação de Letras e Cores, 2018 (com adaptações).
Considerando os sentidos do texto precedente e seus aspectos linguísticos, julgue o item que se segue.
No último período do texto, o referente do vocábulo “cujas” é “chamadas”.
GABARITO: ERRADO.
A questão exige conhecimentos sobre coesão referencial.
O enunciado expõe um texto, em seguida, apresenta um item a ser julgado como certo ou errado, afirmando que, no último período do texto, o referente do vocábulo “cujas” é “chamadas”.
O item está errado. O vocábulo “cujas” é um pronome relativo que conecta dois substantivos indicando uma ideia de posse, nesse caso, “chamadas” das “mensagens”. Vale destacar que a expressão “de forte apelo visual” está caracterizando o substantivo “mensagens”, assim, exerce a função sintática de adjunto adnominal.
- Texto: “Em quaisquer dos casos, são mensagens de forte apelo visual cujas chamadas são tão inacreditáveis que se tornam irresistíveis.”
Nesse sentido, vejamos os ensinamentos do gramático Cegalla:
Pronomes relativos são palavras que representam substantivos já referidos, com os quais estão relacionadas. Daí denominarem-se relativos.
Os pronomes cujo, cuja significam do qual, da qual e precedem sempre um substantivo sem artigo: Qual será o animal cujo nome a autora não quis revelar? [cujo nome = o nome do qual]
Fonte: CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 48ª. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2010, pág. 184-185.
A resposta correta é:
Errado.
CEBRASPE/LPO/184
Texto CB1A1-II
Há 70 anos, em 3 de outubro de 1953, era criada a PETROBRÁS, uma empresa estatal que detinha o monopólio da prospecção e exploração do petróleo no território brasileiro. A criação da empresa foi fruto da campanha “O petróleo é nosso”, iniciada após a eleição de Getúlio Vargas para seu segundo período na Presidência.
Sete décadas após sua criação, ficaram para trás o acento agudo e o foco exclusivo no território brasileiro. A PETROBRAS do século XXI opera em 14 países, prioritariamente nas áreas de exploração, produção, refino, comercialização e transporte de petróleo, gás natural e seus derivados, e ganhou reputação internacional no desenvolvimento de tecnologia avançada para a exploração petrolífera em águas profundas e ultraprofundas. Ficou para trás também o caráter 100% estatal. Atualmente, a PETROBRAS está organizada como sociedade de economia mista, submete-se às regras gerais da administração pública e não mais detém o monopólio da exploração do petróleo em território nacional. Seu papel, no entanto, vai além da obtenção de lucro e envolve aspectos como geração de emprego e renda, além da promoção do desenvolvimento local nos lugares onde instala suas unidades e empreendimentos. Estes, muitas vezes, se situam em regiões remotas, que não despertam o apetite de companhias privadas. Permanece, assim, uma empresa estratégica para diversos aspectos do desenvolvimento econômico do país.
Renato Coelho. Jornal da UNESP, 3/10/2023 (com adaptações).
Considerando ainda os aspectos linguísticos do texto CB1A1-II, julgue o item seguinte.
A palavra “fruto” (segundo período do primeiro parágrafo) poderia ser substituída por idéia, sem prejuízo da coerência e da correção gramatical do texto.
GABARITO: ERRADO.
A questão exige conhecimento sobre reescritura de frases.
“A criação da empresa foi fruto da campanha “O petróleo é nosso” […]”
O termo “fruto” não pode ser substituído por “idéia”, pois prejudica coerência e a correção gramatical do texto.
A palavra “ideia” não possui o mesmo significado que “fruto”, ou seja, não são palavras sinônimas e por isso altera o sentido do texto.
Além disso, a forma correta de escrever é “ideia”, sem acento, conforme o novo acordo ortográfico que retira o acento nas palavras paroxítonas com ditongos abertos “ei” e “oi”.
Em questões de reescrita, devemos nos atentar principalmente aos seguintes elementos:
- Se a oração está na ordem direta ou indireta.
- Se há a concordância nominal e verbal.
- Se as palavras substituídas possuem o mesmo sentido/significado.
- Se há erro gramatical.
- Se a ideia original foi mantida.
Procure sempre por esses erros, eles estão presentes na maioria desses tipos de questões.
A resposta correta é:
Errado.
Afinal, “o que faz do brasil, Brasil ou do Brazil, Brasil?” Desde que os portugueses aqui chegaram, cinco séculos atrás, essa pergunta faz parte do cotidiano local, por vezes merecendo respostas otimistas, por vezes, mais negativas. Por certo, a pergunta não é fácil, nem a história é o único caminho para dar conta dela. A história do Brasil é jovem de cinco séculos — ao menos se nos fiarmos na narrativa oficial, que inicia sua contagem a partir do desembarque dos portugueses na América — e é inquieta. Uma vez provocada, fala de tudo e adora embarcar numa polêmica: passa a limpo conceitos e mitos, questiona muitas das perguntas que nos habituamos a fazer sobre o país, mostra tendência e recorrências que bem merecem nova interpretação. Também faz um jogo com o tempo: embaralha, ordena e reordena o fio da meada; põe um olho no passado, mas mantém o outro aberto no presente e até no futuro.
Lilia M. Schwarcz; Heloisa M. Starling. Brasil: uma biografia. São Paulo: Cia. das Letras, 2018. p. 499 (com adaptações)
A respeito dos sentidos e aspectos linguísticos do texto anteriormente apresentado, julgue o item a seguir.
Com a observação apresentada entre travessões, as autoras destacam que sua abordagem acerca da história do Brasil é feita com base em um recorte temporal específico, que não considera a existência de uma história do país antes da chegada dos portugueses.
GABARITO: CERTO.
A questão exigia que o candidato usasse seus conhecimentos e habilidades em compreensão textual.
É válido sabermos a diferença entre compreensão e interpretação textual.
> O primeiro caso, compreensão, é a habilidade que se tem para analisar e decodificar o que se está realmente escrito em um texto.
> Por outro lado, interpretação textual está relacionado às conclusões que podemos chegar ao conectar as ideias do texto com a realidade.
Voltemos ao texto para que possamos responder corretamente ao que se pede:
“A história do Brasil é jovem de cinco séculos — ao menos se nos fiarmos na narrativa oficial, que inicia sua contagem a partir do desembarque dos portugueses na América — e é inquieta.”
A observação entre travessões destaca que a narrativa oficial da história do Brasil tem início a partir do desembarque dos portugueses na América, desconsiderando a existência de uma história do país anterior a esse marco. Isso indica que as autoras estão cientes de que há uma perspectiva específica sendo adotada, que se baseia em um recorte temporal que ignora a história pré-colonial do Brasil.
Ao fazerem essa ressalva, as autoras sinalizam que seu ponto de vista sobre a história brasileira está delimitado pela narrativa oficial, que toma a chegada dos portugueses como o marco inicial, não considerando a existência de uma história do país anterior a esse evento. Isso mostra que elas reconhecem a limitação dessa perspectiva temporal e que têm consciência de que há outras narrativas possíveis sobre a história do Brasil.
Portanto, a afirmação de que as autoras destacam um recorte temporal específico, que não considera a existência de uma história do país antes da chegada dos portugueses, está correta.
Lembre-se, os erros mais clássicos de interpretação são:
Extrapolação: é quando criamos associações que vão além dos limites do texto, acrescentando ideias que o texto não nos traz.
Redução: é exatamente o oposto da extrapolação e ocorre quando fazemos uma redução das ideias do texto, focando em algumas passagens e restringindo a interpretação.
É quando privilegiamos um elemento que não é suficiente diante da ideia principal expressa pelo texto.
Contradição: é quando o leitor faz uma leitura desatenta e não percebe as relações expressas no texto, levando-o a uma incompreensão do raciocínio geral e conclusão contrária ao exposto.
A resposta correta é: Certo.
exto 11A1
Trabalho e educação são atividades especificamente humanas. Isso significa que, rigorosamente falando, apenas o ser humano trabalha e educa. Assim, a pergunta sobre os fundamentos ontológicos da relação trabalho-educação traz imediatamente à mente a questão: quais são as características do ser humano que lhe permitem realizar as ações de trabalhar e de educar? Ou: o que é que está inscrito no ser do humano que lhe possibilita trabalhar e educar?
Perguntas desse tipo pressupõem que o ser humano esteja previamente constituído como ser que possui propriedades que lhe permitem trabalhar e educar. Pressupõe-se, portanto, uma definição de ser humano que indique em que ele consiste, isto é, sua característica essencial a partir da qual se possa explicar o trabalho e a educação como atributos desse ser. E, nesse caso, fica aberta a possibilidade de que trabalho e educação sejam considerados atributos essenciais do ser humano, ou acidentais.
Na definição de ser humano mais difundida (animal racional), o atributo essencial é dado pela racionalidade, consoante o significado clássico de definição estabelecido por Aristóteles: uma definição dá-se pelo gênero próximo e pela diferença específica. Pelo gênero próximo, indica-se aquilo que o objeto definido tem em comum com outros seres de espécies diferentes (no caso em tela, o gênero animal); pela diferença específica, indica-se a espécie, isto é, o que distingue determinado ser dos demais que pertencem ao mesmo gênero (no caso do ser humano, a racionalidade). Consequentemente, sendo o ser humano definido pela racionalidade, é esta que assume o caráter de atributo essencial desse ser.
Ora, assim entendido o ser humano, vê-se que, embora trabalhar e educar possam ser reconhecidos como atributos humanos, eles o são em caráter acidental, e não substancial. Com efeito, o mesmo Aristóteles, considerando como próprio do ser humano o pensar, o contemplar, reputa o ato produtivo, o trabalho, como uma atividade não digna de seres humanos livres.
Diversamente, Bergson, ao analisar o desenvolvimento do impulso vital na obra Evolução criadora, observa que “torpor vegetativo, instinto e inteligência” são os elementos comuns às plantas e aos animais. E, definindo a inteligência pela fabricação de objetos, fenômeno identificado como comum aos animais, encontra no ser humano a particularidade da fabricação de objetos artificiais, o que lhe permite avançar à seguinte conclusão: “Se pudéssemos nos despir de todo orgulho, se, para definir nossa espécie, nos ativéssemos estritamente ao que a história e a pré-história nos apresentam como a característica constante do ser humano e da inteligência, talvez não disséssemos Homo sapiens, mas Homo faber. Em conclusão, a inteligência, encarada no que parece ser o seu empenho original, é a faculdade de fabricar objetos artificiais, sobretudo ferramentas para fazer ferramentas, e de diversificar ao infinito a fabricação delas.”.
Demerval Saviani. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos.
Internet: <www.scielo.br> (com adaptações).</www.scielo.br>
Em relação às ideias apresentadas no texto 11A1 e às relações de coerência nele presentes, julgue o item que se segue.
As características da racionalidade humana, segundo Aristóteles, nos termos colocados no terceiro parágrafo, podem ser atestadas por meio do contraste com outros seres vivos.
GABARITO: CERTO.
Esta questão trabalha com interpretação de texto.
Observe:
“Na definição de ser humano mais difundida (animal racional), o atributo essencial é dado pela racionalidade, consoante o significado clássico de definição estabelecido por Aristóteles: uma definição dá-se pelo gênero próximo e pela diferença específica. (…) pela diferença específica, indica-se a espécie, isto é, o que distingue determinado ser dos demais que pertencem ao mesmo gênero (no caso do ser humano, a racionalidade). Consequentemente, sendo o ser humano definido pela racionalidade, é esta que assume o caráter de atributo essencial desse ser.”
Podemos observar que a característica da racionalidade pode ser atribuída ao ser humano através da definição pela diferença específica.
Nesta definição, indica-se o que distingue uma determinada espécie das demais que pertencem ao mesmo gênero. Nestas condições, o ser humano pode ser distinto pela racionalidade.
Sendo assim, a afirmação está CERTA.
A resposta correta é: Certo.
Um balanço feito pelo Instituto Sou da Paz e pelo INSPER mostrou que, em 2021, o Distrito Federal registrou a menor taxa de homicídios dos últimos 45 anos, mesmo com o aumento da população. Em Alagoas, os indicadores do mesmo crime caíram 14,8%. De acordo com o Segundo Balanço das Políticas de Gestão para Resultados na Segurança Pública, em São Paulo reduziu-se em 49% o roubo de veículos entre 2014 e 2021.
O documento evidencia iniciativas estaduais que representam boas práticas na área de segurança pública. Segundo a diretora executiva do Instituto Sou da Paz, a pesquisa encontrou 11 estados com programas de gestão de resultado. O destaque é o Espírito Santo, que tem uma ação mais longeva e consegue manter um programa central que envolve as polícias com resultados importantes na redução dos homicídios. “São programas que, embora não sejam uma panaceia, conseguem contribuir muito para a integração das polícias, dão uma ferramenta para o secretário de segurança coordenar, dão uma visão de longo prazo para a segurança pública nos estados, o que não é algo trivial”, disse a diretora.
“O estabelecimento de diretrizes baseadas em evidências é essencial para a promoção de melhorias na segurança pública dos estados brasileiros”, afirmou um professor do Centro de Gestão e Políticas Públicas do INSPER. Ele acrescentou que o balanço apresentado pelo instituto e pelo Sou da Paz buscou analisar o que funciona para a área, quais estados alcançaram sucesso nos últimos anos e como os gestores podem orientar propostas para conseguir os melhores resultados possíveis.
Internet: https://agenciabrasil.ebc.com.br (com adaptações).
Em relação às ideias e a aspectos linguísticos do texto apresentado, julgue o item a seguir.
A supressão da vírgula empregada logo após “Alagoas” (segundo período do primeiro parágrafo) prejudicaria a correção gramatical do texto.
GABARITO: ERRADO.
Esta questão trabalha com emprego de vírgulas.
Vale lembrar:
As regras de emprego da vírgula podem ser compreendidas em dois casos: na separação de orações dentro de um período e na separação de termos constituintes de uma mesma oração.
Emprego da vírgula entre orações de um período:
1 - Na separação de orações coordenadas assindéticas.
Exemplo: Pelas manhãs de sábado, ela corre, arruma o quarto, estuda.
2 - Na separação de orações coordenadas sindéticas, exceto quando o ligante entre elas for o conectivo e - no caso de sujeitos distintos ou ênfase, as coordenadas aditivas podem ser separadas por vírgula.
Exemplo: Chegou atrasado, pois perdeu o ônibus.
3 - Na separação de orações reduzidas de infinitivo, gerúndio ou particípio, quando exercem o papel de orações adverbiais.
Exemplo: Cansado, foi dormir.
4 - Na separação entre orações subordinadas adverbiais e a oração principal.
Exemplo: Quando fizer calor, vai lavar as roupas.
5 - Na separação de orações intercaladas.
Exemplo: Se ele não mudar de atitude, disse a mãe, vai ficar de castigo.
6 - Na separação de orações subordinadas adjetivas explicativas.
Exemplo: Guimarães Rosa, que foi um grande autor da literatura brasileira, escreveu “Grande Sertão: Veredas”.
7 - Antes das conjunções adversativas mas, porém, todavia, contudo, entretanto e no entanto, quando no início da oração.
Exemplo: Estava cansada, mas foi à festa.
8 - Antes e depois das conjunções adversativas porém, todavia, contudo, entretanto e no entanto, quando precedidas por um dos termos da oração.
Exemplo: Foi, porém, à festa.
Emprego da vírgula entre os termos de uma oração:
1 - Entre elementos com a mesma função sintática, em uma enumeração, exceto quando ligadas pelas conjunções e, nem e ou.
Exemplo: Foi ao mercado e comprou: maçãs, uvas e peixe.
2 - Na separação de apostos ou vocativos.
Exemplo: Maria, a nova aluna, foi recebida pelos colegas no portão.
3 - Na separação de expressões explicativas, conclusivas ou retificativas.
Exemplo: Ou melhor, estava triste com o fim do curso.
4 - Entre palavras repetidas.
Exemplo: Chego já, já.
5 - Após adjunto adverbial iniciando a oração, exceto quando este for formado apenas por uma palavra - no caso de ênfase, a vírgula pode ser usada para separar adjuntos adverbiais compostos de uma palavra em início de frase.
Exemplo: No cair da noite, foi se encontrar com os amigos.
6 - Na separação de adjuntos adverbiais antecipados. Novamente, o emprego da vírgula é opcional no caso de adjunto adverbial composto por apenas uma palavra.
Exemplo: Ela, infelizmente, não estava feliz.
7 - Na separação entre data e local no início do texto (como em cartas, por exemplo).
Exemplo: São Paulo, 14 de outubro de 2021.
8 - Na indicação da supressão de uma palavra.
Exemplo: Alguns souberam manter a calma, e outros, a paciência.
9 - Antes e após o verbete pois, quando conjunção conclusiva.
Exemplo: Estava cansada. É necessário, pois, descansar.
Observe o trecho: “Em Alagoas, os indicadores do mesmo crime caíram 14,8%.”
A vírgula foi empregada para separar adjunto adverbial em início de frase.
Vale lembrar:
Em início de frase, adjunto adverbial é separado por vírgula quando é longo - a maioria das bancas considera longo um adjunto adverbial composto por três ou mais palavras.
Caso contrário, a vírgula é facultativa.
Neste caso, temos um adjunto adverbial composto somente por duas palavras, de forma que a vírgula foi empregada para ênfase, e pode ser retirada sem prejuízo.
Afirmação ERRADA.
A resposta correta é:
Errado.
CEBRASPE/LPO/220
A promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) fez trinta anos em 2020. Por definição, encarregou as famílias, a comunidade, a sociedade e o Estado de assegurar a proteção integral a todas as crianças e adolescentes no Brasil, de forma articulada e interdependente. Tal articulação foi alcunhada, mais tarde, de Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA).
A ideia de proteção integral anotada no referido estatuto encontra lastro na concepção de que todas as pessoas com idade inferior a 18 anos ascendem à condição de sujeito de direitos, rompendo com a doutrina sociojurídica em voga até a sua promulgação, que destinava tal grupo à intervenção do mundo adulto. Desse novo modo, coloca-o como titular de direitos comuns a toda e qualquer pessoa humana, bem como de direitos especiais decorrentes da condição peculiar de pessoas em processo de desenvolvimento.
O Ministério Público é essencial à proteção pretendida e, por isso, o capítulo quinto do ECA é reservado a esse “sujeito”, que age na composição do SGDCA, atribuindo-lhe competências administrativas para assegurar os direitos infantoadolescentes. De maneira geral, sua atuação volta-se à guarda dos interesses sociais, ou seja, à proteção dos direitos difusos e coletivos, todos os ligados à coletividade e, também, na defesa dos interesses individuais, desde que indisponíveis, caracterizados como direitos fundamentais, pois são inerentes à pessoa humana, tais como o direito à vida, à liberdade, à integridade física e psíquica, à igualdade perante a lei, à saúde, à educação, entre outros alcançáveis por sua tutela.
Nesse contexto, a sua intervenção não se resume à via jurisdicional, mas atua em diversas frentes com a finalidade de garantir que os direitos anunciados se tornem realidade na vida das crianças e dos adolescentes. Age para atenuar as distorções existentes entre os protocolos consignados nas convenções internacionais de direitos humanos, na Constituição e nas legislações infraconstitucionais, e para exigir dos poderes públicos as medidas adequadas para que os seus objetivos sejam efetivados. Especificamente no campo dos direitos sociais, o Ministério Público tem a obrigação de monitorá-los em seu desdobramento, enquanto políticas públicas, entre estas, a política de educação com adjetivação de qualidade.
José Almir do Nascimento; Luciana Rosa Marques. A efetivação do direito à educação de qualidade como ação do Ministério Público de Pernambuco. Internet: <doi.org> (com adaptações).</doi.org>
Considerando os sentidos e aspectos linguísticos do texto anteriormente apresentado, julgue o item seguinte.
A correção gramatical e a coerência das ideias do texto seriam preservadas caso se substituísse “volta-se” (segundo período do terceiro parágrafo) por visa.
GABARITO: CERTO.
Esta questão trabalha com reescritura e emprego de regência verbal.
Observe o trecho: “sua atuação volta-se à guarda dos interesses sociais”.
Podemos observar que a forma verbal “volta-se” foi empregada no sentido de ter por finalidade.
A forma verbal “visa” pode ser empregada com o mesmo sentido, podendo ser acompanhada ou não da preposição “a”.
Exemplos:
Seu trabalho visa melhorar a vida daquelas pessoas.
Seu trabalho visa ao futuro.
Vale lembrar:
A regência verbal se estabelece através da presença ou ausência de preposição antes de seu complemento. Pode-se estabelecer das seguintes formas:
Verbo intransitivo: quando o verbo não possui complemento, sendo completo em seu sentido.
Exemplo: Hoje eu acordei cedo.
Verbo transitivo direto: quando o complemento não exige o uso de preposição.
Exemplo: Quero um doce.
Verbo transitivo indireto: quando o complemento exige o uso de preposição.
Exemplo: Conversei com ela.
Verbo transitivo direto e indireto: quando há um complemento que exige o uso de preposição e outro que não exige o uso de preposição.
Exemplo: Dei um presente a ela.
Sendo assim, a substituição de “volta-se” por “visa” mantém o sentido e a correção gramatical. Afirmação CERTA.
A resposta correta é: Certo.
Há muitas especulações sobre qual meio de transporte teria sido “inventado” primeiro, desde o início da evolução humana, antes mesmo do surgimento da escrita. Referentemente a esse período, o fato é que muito pouco pode ser comprovado, o que nos deixa com algumas hipóteses e poucas certezas.
É provável que o ser humano tenha pensado em formas de solucionar problemas como transportar sua caça ou transpor obstáculos, mas afirmar com exatidão que isso se transformou em algum meio de transporte da forma como conhecemos hoje é bem mais complicado.
Sabemos que o homem pré-histórico se deslocava em função do clima e da oferta de alimentos. Os pés humanos foram os primeiros responsáveis por esses deslocamentos. A melhor solução para o transporte a partir dessa época surgiu com a domesticação de animais selvagens. O homem pode ter notado a facilidade de lidar com determinadas espécies animais a ponto de utilizar sua força para transportar seus pertences.
Oswaldo Dias dos Santos Junior. Transportes turísticos. Curitiba, InterSaberes, 2014, p. 20 (com adaptações).
Julgue o item subsequente, em relação aos sentidos e aspectos linguísticos do texto precedente.
No texto, o autor considera a possibilidade de os seres humanos terem se preocupado com questões de transporte de caça ou de transposição de obstáculos, mas demonstra dificuldades em afirmar categoricamente que algum meio de transporte tenha se originado dessa preocupação.
GABARITO: CERTO.
Esta questão trabalha com interpretação de texto.
O autor do texto faz suposições acerca da origem dos meios de transporte, como indica o emprego da forma “é provável”; além disso, evidencia sua incerteza quando menciona que é “bem mais complicado” afirmar com exatidão acerca do tema.
Observe, no 2º parágrafo: “É provável que o ser humano tenha pensado em formas de solucionar problemas como transportar sua caça ou transpor obstáculos, mas afirmar com exatidão que isso se transformou em algum meio de transporte da forma como conhecemos hoje é bem mais complicado.”
Sendo assim, a afirmação está CERTA.
A resposta correta é: Certo.
CEBRASPE/LPO/053
A ideia de que a mente pertence a um domínio separado, distinto do corpo, foi teorizada bem cedo, em grandes textos como o Fédon, de Platão (IV a.C.) e a Suma teológica, de Tomás de Aquino (1265-1274), um texto fundador da concepção cristã da alma. Mas foi o filósofo francês René Descartes (1596-1650) quem estabeleceu aquilo que é hoje conhecido como dualismo: a tese de que a mente dotada de consciência é feita de uma substância imaterial que não está sujeita às leis da física.
Ridicularizar Descartes tornou-se moda em neurociência. Depois da publicação, em 1994, de O erro de Descartes, o best-seller de Antonio Damasio, muitos manuais contemporâneos que tratam de consciência passaram a criticar Descartes, alegando que ele teria atrasado a pesquisa em neurociência. A verdade, porém, é que Descartes foi um cientista pioneiro, fundamentalmente um reducionista, cuja análise mecânica da mente humana, muito à frente de seu tempo, foi o primeiro exercício de biologia sintética e de modelagem teórica. O dualismo de Descartes não foi um capricho de momento — fundamentava-se em um argumento lógico que afirmava a impossibilidade, para qualquer máquina, de imitar a liberdade da mente consciente.
Stanislas Dehaene. É assim que pensamos: como o cérebro trabalha para tomarmos consciência do mundo. Trad.: Rodolfo Ilari.São Paulo: Editora Contexto, 2024, p. 12 (com adaptações)
Em relação às ideias e estruturas linguísticas do texto apresentado, julgue o item que se segue.
No primeiro período do segundo parágrafo, a oração “Ridicularizar Descartes” funciona como complemento da forma verbal “tornou-se”.
GABARITO: ERRADO.
Esta questão trabalha com emprego de orações subordinadas.
Observe: “Ridicularizar Descartes tornou-se moda em neurociência.”
Podemos notar que a oração reduzida de infinitivo “Ridicularizar Descartes” é sujeito do verbo “tornar-se” - quem se tornou moda em neurociência? Ridicularizar Descartes.
Por outro lado, o termo “moda” atua como complemento verbal.
Vale lembrar:
Orações subordinadas substantivas subjetivas exercem a função de sujeito para a oração principal.
Exemplo: É preciso que ele seja cauteloso neste momento.
Sendo assim, a afirmação está ERRADA.
A resposta correta é:
Errado.
A iniciativa Mãe Servidora, inserida no contexto do programa Pró-Equidade de Gênero, reflete um esforço significativo da ANTT para promover o equilíbrio entre a vida profissional e familiar de suas colaboradoras. Essa ação é direcionada especialmente para mães servidoras, no regime de trabalho presencial, com filhos menores de sete anos de idade, oferecendo a elas a oportunidade de reduzir a jornada de trabalho semanal em quatro horas em um dia específico. O objetivo principal é fortalecer a interação entre mãe e filho durante os anos cruciais de formação da criança, beneficiando-se tanto o bem-estar da servidora quanto o da família como um todo.
Em caso de dúvidas, fale com a Coordenação de Projetos Especiais de Gestão de Pessoas (COPEP), pelo email copep@antt.gov.br. ANTT. Revista Via Sustentável. Destaques 2023, s/d, p. 35 (com adaptações).
A respeito de aspectos linguísticos desse texto, julgue o item a seguir.
Não haveria prejuízo da correção gramatical do texto caso se suprimissem as vírgulas que delimitam o trecho “inserida no contexto do programa Pró-Equidade de Gênero” (primeiro período do primeiro parágrafo), embora tal supressão alterasse as relações sintáticas no período.
GABARITO: CERTO.
Esta questão trabalha com o emprego de vírgulas e orações subordinadas adjetivas.
Vale lembrar:
Orações subordinadas adjetivas desempenham a função de adjetivo, sendo geralmente precedidas de um pronome relativo. Sintaticamente, desempenham a função de adjunto adnominal, ou seja, caracterizam um substantivo ou pronome do período. Além disso, podemos classificá-las quanto ao sentido que transmitem em:
- Orações subordinadas adjetivas restritivas limitam o significado do substantivo/pronome. São indispensáveis ao sentido da frase.
Exemplo: As pessoas que são arrogantes não merecem respeito.
Podemos observar, no exemplo, como a oração “que são arrogantes” restringe o substantivo “pessoas”, uma vez que a mensagem transmitida diz respeito apenas às pessoas que são arrogantes.
- Orações subordinadas adjetivas explicativas esclarecem o significado do substantivo/pronome como um aposto. De modo análogo ao aposto, podem ser retiradas do período sem comprometimento de significação, além de estarem sempre isoladas entre vírgulas.
Exemplo: O novo filme de Denis Villeneuve, que será lançado em outubro deste ano, foi filmado em 2019.
Observe que a retirada da oração “que será lançado em outubro deste ano” não afeta o sentido transmitido pela oração.
Observe: “A iniciativa Mãe Servidora, inserida no contexto do programa Pró-Equidade de Gênero, reflete um esforço significativo da ANTT (…)”
A oração “inserida no contexto do programa Pró-Equidade de Gênero” é uma reduzida de particípio que funciona como oração subordinada adjetiva explicativa para a expressão “iniciativa Mãe Servidora”.
Note que, por atuar como uma explicação para o termo anterior, a oração é colocada entre vírgulas; ao serem retiradas as vírgulas, ela passa a atuar de forma restritiva para a expressão anterior - agora, o texto passa a se referir apenas à iniciativa que está inserida no contexto do programa.
Logo, há uma mudança de sentido, mas o texto se mantém correto gramaticalmente. Afirmação CERTA.
A resposta correta é: Certo.
A palavra carreta começou a ser empregada para definir o que até então era chamado de carroça; é possível pensar que fora definido o termo carreteiro para designar quem conduzia as carretas.
As primeiras carretas foram utilizadas para várias finalidades. Em um primeiro momento, auxiliaram no processo de colonização, mas também ajudaram em situações de guerra, quando estavam carregadas de materiais bélicos e demais apetrechos militares. Serviram de apoio ainda para comerciantes, mascates, conhecidos também como vivandeiros, que transportavam os mais variados tipos de mercadorias, desde produtos alimentícios até produtos mais simples, como pentes e espelhos. Dessa maneira, surgia o carreteiro e, junto a ele, as representações que iriam compor a identidade desses profissionais.
Danilo Leite Moreira. Uma breve abordagem histórica do desenvolvimento do rodoviarismo e do transporte rodoviário de cargas no Brasil. In: Faces da História, v. 10, n.º 1, jan.-jun./2023, p. 157 (com adaptações).
Em relação às ideias e a aspectos gramaticais do texto apresentado, julgue o item que se segue.
Conforme exposto no texto, a identidade dos carreteiros é construída a partir de representações plurais que têm relação direta com as várias atividades deles e com os diversos tipos de carretas.
GABARITO: ERRADO.
Em primeiro lugar, é importante lembrar que o Cebraspe dificilmente destacará os termos no texto, por isso é importante ter cuidado com a observação dos períodos do texto para não perder tempo na hora da prova. Ou seja, um período pode ser finalizado por ponto final, ponto de exclamação e ponto de interrogação. Isto é, o período é um enunciado que apresenta sentido completo e é formado por uma ou mais orações (período simples e período composto), que faça sentido e que tenha começo (letra maiúscula) e fim (algum tipo de pontuação: ponto final, ponto de exclamação e ponto de interrogação). Um detalhe importante nesse caso é diferenciar frase (não tem verbo) e oração (tem verbo). Então, quando o Cebraspe falar em períodos, sempre observe as iniciais maiúsculas e os pontos finais.
Vamos à questão:
TRECHO DO TEXTO: “A palavra carreta começou a ser empregada para definir o que até então era chamado de carroça; é possível pensar que fora definido o termo carreteiro para designar quem conduzia as carretas. As primeiras carretas foram utilizadas para várias finalidades. Em um primeiro momento, auxiliaram no processo de colonização, mas também ajudaram em situações de guerra, quando estavam carregadas de materiais bélicos e demais apetrechos militares. Serviram de apoio ainda para comerciantes, mascates, conhecidos também como vivandeiros, que transportavam os mais variados tipos de mercadorias, desde produtos alimentícios até produtos mais simples, como pentes e espelhos. Dessa maneira, surgia o carreteiro e, junto a ele, as representações que iriam compor a identidade desses profissionais.”
O texto menciona que a palavra “carreta” começou a ser empregada para definir o que antes era chamado de “carroça” e que o termo “carreteiro” designa quem conduz as carretas. Conforme o texto, as primeiras carretas foram usadas para várias finalidades, incluindo a colonização, as situações de guerra e o apoio a comerciantes e mascates.
Além disso, o texto esclarece que as carretas transportavam diferentes tipos de mercadorias, desde produtos bélicos até produtos simples. O texto conclui afirmando que, com o surgimento do carreteiro, surgiram também as representações que iriam compor a identidade desses profissionais. Portanto, o erro do item está em afirmar explicitamente que as representações que compõem a identidade dos carreteiros têm relação direta com “diversos tipos de carretas” quando, na verdade, o foco está nas “várias finalidades” e “atividades” para as quais as carretas foram utilizadas.
A resposta correta é:
Errado.
CEBRASPE/LPO/265
O primeiro aspecto em que se concebe um texto é exatamente aquilo que parece significar à primeira vista, nada mais que sua impressão primeira. Por primeira que é, tem foros de ser a única; inscreve-se como tal, produz a ilusão de ser única. Mas não o é. Sua pretensa clareza é ilusória. O segundo aspecto em que se concebe um texto é o das possibilidades de sentido que faculta, desde sua criação, desde a constituição de sua expressividade. Sua presença de texto, não obstante ser sempre a mesma, faz-se diferente a cada novo enfoque, a cada novo uso, a cada mudança de perspectiva, a cada reiteração de sentido, a cada fusão de práticas de sentido, enfim, dentro de circunstancialidades. Essa é a abertura de profundidade que exsurge do remanso abissal das malhas de um texto. O que paira sobre o texto não pode ser mais que o que se inclui em sua profundidade.
Deve-se esclarecer, no entanto, que a chave para a abertura dessa perspectiva de profundidade reside não no texto-em-si, e por si, mas na potencialidade interpretativa e no manejo que cada utente faz do texto. Aqui, faz-se, explicitamente, apelo a uma noção de sentido pragmático, contextualizado, histórico e intersubjetivo do texto. Quer-se mesmo dizer que o texto vive em dialética com seu meio. A pragmática textual simplesmente se depara com o texto tendo-o por unidade de sentido, de onde o sujeito-da-interpretação retirará elementos de muitas origens (circunstanciais, históricos, objetivos, subjetivos, idioletais etc.) para a composição do sentido. O texto, portanto, não pode ser entendido como objeto inerte, estanque, acabado e primigenamente intencionado de maneira a ingenuamente excluir qualquer possibilidade de modificação interpretativa. Todo texto, nessa medida, permite sentidos. O sentido não lhe é imanente; no entanto, excluir da corporeidade de um texto a subjacência necessária da interpretação é privar-lhe de alma e de movimento.
Ainda assim, quando aqui se anuncia que o sujeito-da-interpretação é capaz de forjar-lhe um sentido, não se quer dizer que a prática da significação está submissa à arbitrariedade. Muito antes de se poder dizer que o ato compreensivo se constitui em mero ato arbitrário do intérprete, pode-se dizer que limites há para a significância, dentro dos quais atua o sujeito-da-interpretação. Em verdade, esse sujeito age livremente, mas dentro de um campo de forças. Dizer o contrário é aceitar que o discurso é uma realidade sem fronteiras.
Eduardo C. B Bittar. Linguagem jurídica. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 101 e ss. (com adaptações).
Acerca do texto precedente, julgue o item que se segue.
As relações semânticas construídas no texto permitem atribuir sentido semelhante às expressões “utente” (primeiro período do segundo parágrafo), “sujeito-da interpretação” (quarto período do segundo parágrafo e primeiro e segundo períodos do terceiro parágrafo) e “intérprete” (segundo período do terceiro parágrafo).
GABARITO: CERTO.
A semântica trata da significação das palavras, que podem estar isoladas ou contextualizadas.
A diferença entre significado e sentido mais clássica é esta:
O primeiro diz respeito à noção que a palavra apresenta.
Ex.: Um cachorro atravessou a rua. Comprei um cachorro lindo.
O segundo diz respeito à noção que a palavra pode apresentar.
Ex.: Ele é chato pra cachorro. Já que tive um sonho, amanhã vou jogar no cachorro.
As palavras não só podem ter uma acepção primária, mas também diversas acepções; tudo dependerá do contexto.
A princípio, quando pensamos em cachorro, imediatamente vem uma imagem à nossa cabeça: a de um cão, qualquer cão, um animal doméstico.
Só que a semântica trata de todas as possibilidades de significação, envolvendo nosso conhecimento de mundo, experiência de vida e outros fatores extralinguísticos, como a região em que vivemos, a idade que temos, o grupo social ou profissional a que pertencemos etc. Tudo isso vai influenciar os matizes da palavra.
A palavra isolada tem um significado primário; no entanto, tem vários sentidos secundários dentro de contextos específicos.
Analisando os excertos, temos:
“Deve-se esclarecer, no entanto, que a chave para a abertura dessa perspectiva de profundidade reside não no texto-em-si, e por si, mas na potencialidade interpretativa e no manejo que cada utente faz do texto. (…)
Ainda assim, quando aqui se anuncia que o sujeito-da-interpretação é capaz de forjar-lhe um sentido, não se quer dizer que a prática da significação está submissa à arbitrariedade. Muito antes de se poder dizer que o ato compreensivo se constitui em mero ato arbitrário do intérprete, pode-se dizer que limites há para a significância, dentro dos quais atua o sujeito-da-interpretação. Em verdade, esse sujeito age livremente, mas dentro de um campo de forças. Dizer o contrário é aceitar que o discurso é uma realidade sem fronteiras.”
Sim, as relações semânticas construídas no texto permitem atribuir sentido semelhante às expressões “utente”, “sujeito-da-interpretação” e “intérprete”.
Essas expressões são usadas para se referir àquele que interpreta o texto, ou seja, o leitor ou receptor do texto. Embora as palavras sejam diferentes, elas descrevem o mesmo papel desempenhado pelo indivíduo na compreensão e na atribuição de sentido ao texto.
Portanto, as expressões são sinônimas no contexto do texto.
Significado de Utente
substantivo masculino e feminino
Usuário; pessoa que faz uso de alguma coisa; quem se serve ou desfruta de algo.
INDO ALÉM…
A lexicologia trata do estudo do léxico (vocábulo/palavra), basicamente quanto a sua formação e seu sentido, portanto esta parte da gramática está intrinsecamente ligada à morfologia e à semântica.
O cruzamento entre semântica e lexicologia andam lado a lado. Vejamos algumas definições para nos auxiliar na resolução da questão:
> Sinonímia
Trata de palavras diferentes na forma, mas com sentidos iguais ou aproximados, ou seja, sinônimos.
Obs.: A sinonímia não trata apenas do léxico (palavra ou expressão), mas da frase também.
> Antonímia
Trata de palavras, expressões ou frases diferentes na forma e com significações opostas, excludentes, ou seja, antônimos.
> Homonímia
Trata de palavras iguais na pronúncia e/ou na grafia, mas com significados diferentes, ou seja, homônimos.
Existem três tipos de vocábulos homônimos: homófonos, homógrafos e perfeitos.
Vejamos:
1) Homófonos: apresentam pronúncia igual e grafia diferente.
Acender (iluminar, pôr fogo em) / Ascender (subir, elevar)
Caçar (perseguir, capturar a caça) / Cassar (anular, revogar, proibir)
Censo (recenseamento – estatística) / Senso (juízo claro, percepção)
2) Homógrafos: apresentam grafia igual e pronúncia diferente.
Almoço (timbre fechado: refeição) / Almoço (timbre aberto: forma do verbo almoçar)
Conserto (timbre fechado: reparação, correção) / Conserto (timbre aberto: forma do verbo consertar)
Colher (timbre fechado: verbo) / Colher (timbre aberto: instrumento usado para comer)
3) Perfeitos: apresentam grafia e pronúncia iguais.
Casa (lar, moradia) / Casa (forma do verbo casar)
Janta (refeição) / Janta (forma do verbo jantar)
Cedo (advérbio) / Cedo (forma do verbo ceder)
> Paronímia
Trata, normalmente, de pares de palavras parecidas tanto na grafia quanto na pronúncia, mas com sentidos diferentes.
Vejamos:
Abjeção (baixeza, degradação) / Objeção (contestação, obstáculo)
Absolver (absolvição) / Absorver (absorção)
Acidente (ocorrência casual grave) / Incidente (episódio casual sem gravidade, sem importância)
Aferir (conferir) / Auferir (colher, obter)
Amoral (descaso com as regras de moral) / Imoral (contrário à moral)
Descriminar (inocentar, absolver) / Discriminar (distinguir, especificar, segregar)
Destratar (insultar) / Distratar (romper um trato, desfazer um contrato)
Eminente (que se destaca, notável) / Iminente (que está prestes a ocorrer, pendente)
Referência:
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa: 37º edição atualizada pelo novo Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro: Lucerna, 2009.
Dicio, Dicionário Online de Português. Disponível em: < www.dicio.com.br >. Acesso em: 9 de abril de 2024.
PESTANA, Fernando. A Gramática para Concursos Públicos. Teoria completa e mais de 1.300 questões comentadas. ed. São Paulo: Método, 2007.
A resposta correta é: Certo.
CEBRASPE/LPO/154
Há muitas especulações sobre qual meio de transporte teria sido “inventado” primeiro, desde o início da evolução humana, antes mesmo do surgimento da escrita. Referentemente a esse período, o fato é que muito pouco pode ser comprovado, o que nos deixa com algumas hipóteses e poucas certezas.
É provável que o ser humano tenha pensado em formas de solucionar problemas como transportar sua caça ou transpor obstáculos, mas afirmar com exatidão que isso se transformou em algum meio de transporte da forma como conhecemos hoje é bem mais complicado.
Sabemos que o homem pré-histórico se deslocava em função do clima e da oferta de alimentos. Os pés humanos foram os primeiros responsáveis por esses deslocamentos. A melhor solução para o transporte a partir dessa época surgiu com a domesticação de animais selvagens. O homem pode ter notado a facilidade de lidar com determinadas espécies animais a ponto de utilizar sua força para transportar seus pertences.
Oswaldo Dias dos Santos Junior. Transportes turísticos. Curitiba, InterSaberes, 2014, p. 20 (com adaptações).
Julgue o item subsequente, em relação aos sentidos e aspectos linguísticos do texto precedente.
No primeiro período do terceiro parágrafo, a próclise pronominal em “se deslocava” justifica-se pelo caráter desenvolvido da oração subordinada em que tal trecho se insere.
GABARITO: CERTO.
Esta questão trabalha com colocação pronominal.
Vale lembrar:
Denominamos próclise a colocação do pronome antes do verbo. Utiliza-se próclise nas seguintes condições:
1 - Presença de palavras negativas – por exemplo, “não”, “nunca”, “ninguém” etc. –, quando não há vírgula entre estas e o verbo.
Exemplo: Eu não me assusto facilmente.
2 - Presença de pronomes relativos (que, onde, o qual etc.), pronomes demonstrativos (este, aquele, essa etc.) e pronomes interrogativos (que, quem, qual e quanto) ou advérbios interrogativos (por que, onde, como e quando).
Exemplo: Quem me ligou ontem?
3 - Após advérbios ou locuções adverbiais.
Exemplo: Mal as encontrei, já tive que me despedir.
4 - Após expressões exclamativas ou que exprimem desejo.
Exemplo: Deus te abençoe!
5 - Em orações subordinadas desenvolvidas.
Exemplo: Quando me dei conta, já era tarde demais.
6 - Oração iniciada por objeto direto ou predicativo.
Exemplo: A resposta te dou agora.
7 - Quando o sujeito da oração contém o numeral “ambos” ou um pronome indefinido (tudo, alguém, ninguém, outro, qualquer etc.).
Exemplo: Ambos se redimiram pelos seus erros.
8 - Nas orações alternativas.
Exemplo: Ou me esforço, ou me saio mal na prova.
9 - Gerúndio regido da preposição “em”.
Exemplo: Em se tratando de responsabilidade, ele era um mau exemplo.
Observe o período: “Sabemos que o homem pré-histórico se deslocava em função do clima e da oferta de alimentos.”
Podemos notar que a oração “que o homem pré-histórico se deslocava em função do clima e da oferta de alimentos” é uma oração subordinada substantiva objetiva direta.
Sendo uma oração subordinada desenvolvida, a próclise deve ser escolhida. Alternativa CERTA.
A resposta correta é: Certo.
CEBRASPE/LPO/103
Com o avanço das novas tecnologias da informação e comunicação, observa-se na atualidade um processo de migração dos ambientes reais e analógicos para os virtuais e digitais. Inúmeros são os benefícios do oferecimento de produtos e da prestação de serviços no ambiente digital. No entanto, a exposição em rede costuma atrair riscos que, embora invisíveis, apresentam um potencial destrutivo alto: os ciberataques e o seu impacto para as organizações, as empresas e as pessoas envolvidas.
Os ataques cibernéticos podem ter como alvos pessoas, organizações políticas e sociais, empresas públicas e privadas, postos fiscais, tribunais, bases militares, autarquias e ministérios do Estado, variando conforme a motivação que os ensejou: interrupção de sistemas e serviços essenciais, resgate de valores em troca de arquivos criptografados, extração de dados, repercussão política ou até mesmo a lesão física de pessoas.
Gabriel Cemin Petry; Haide Maria Hupffer. O princípio da segurança na era dos ciberataques: uma análise a partir do escopo protetivo da LGPD. In: Revista CNJ, v. 7, n.º 1, jan.-jun./2023, p. 85-86 (com adaptações).
Com referência às ideias e às estruturas linguísticas do texto apresentado, julgue o item seguinte.
No segundo período do primeiro parágrafo, a flexão dos termos “são” e “benefícios” no plural deve-se à concordância que estabelecem com “Inúmeros”, que funciona como sujeito da oração.
GABARITO: ERRADO.
A sintaxe de concordância estuda a relação gramatical estabelecida entre dois termos. Ela pode ser verbal ou nominal.
> A concordância verbal é aquela que estabelece correta combinação entre o verbo e o sujeito, em número e pessoa.
Ex.: Eu li um livro; Nós lemos um livro; Ele leu um livro.
> Já a concordância nominal refere-se ao gênero e número entre os diversos nomes da oração, ocorrendo - principalmente - entre o artigo, o substantivo e o adjetivo.
Ex.: A amiga bonita; As amigas bonitas.
Analisando o excerto, temos:
“Inúmeros são os benefícios do oferecimento de produtos e da prestação de serviços no ambiente digital.”
Na verdade, o sujeito da forma verbal é “os benefícios”.
Os benefícios (do oferecimento de produtos e da prestação de serviços no ambiente digital) são inúmeros
Sujeito + Verbo de Ligação + Predicativo do Sujeito
A concordância da forma verbal e do predicativo seguem o sujeito “benefícios”.
Portanto, incorreta a assertiva.
INDO ALÉM…
Algumas regrinhas de concordância (verbal) para revisarmos:
Verbo diante de sujeito coletivo
A regra é que o verbo fique no singular.
Ex.: A multidão ultrapassou o limite.
Entretanto, tendo uma especificação ao coletivo, o verbo poderá ser conjugado no plural.
Ex.: A multidão de fãs ultrapassou o limite. A multidão de fãs ultrapassaram o limite.
Coletivos partitivos
É quando existe um termo no plural (pessoas, indivíduos, etc.) em associação com o núcleo do sujeito no no singular que expressa quantidade (parte, maioria).
Neste caso, o verbo pode ser usado no singular ou no plural.
Ex.: A maioria das pessoas imaginava isso.
Diante de expressões como, “mais de”, “menos de”, “cerca de”, o verbo concorda com o numeral.
Ex.: Mais de uma pessoa quis trocar as compras.
Nos casos em que “mais de” indica reciprocidade, o verbo flexiona para o plural.
Ex.: Mais de uma atleta se abraçaram.
Para os nomes de lugar que têm forma de plural
Usaremos o singular se não vierem acompanhados de artigo.
Ex.: “Os Estados Unidos dominaram o mundo” ou “Estados Unidos domina o mundo.”
Referência:
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa: 37º edição atualizada pelo novo Acordo Ortográfico. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2009.
PESTANA, Fernando. A Gramática para Concursos Públicos. Teoria completa e mais de 1.300 questões comentadas. ed. São Paulo: Método, 2007.
A resposta correta é:
Errado.
Texto CB1A1
O Comentário Geral n.º 15 do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (CDESC) da ONU é claro ao apontar para a necessidade de proteger os ecossistemas, em especial o aquático, contra a poluição, pois ter acesso a uma água poluída não representa, de fato, o gozo do direito humano à água. Nessas condições, há risco de comprometimento imediato da saúde individual e coletiva, o que afeta outros direitos humanos, como o direito à saúde e ao bem-estar. Antes disso, a Agenda 21, aprovada na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), em 1992, recomendou que se preservem as funções hidrológicas, biológicas e químicas dos ecossistemas, para que se assegure água com qualidade.
Em uma perspectiva menos antropocêntrica e mais ecocêntrica, em 2000, a Declaração da 4.ª Cúpula do P7, composto dos sete países mais pobres do mundo, em seu primeiro princípio, trouxe a ideia de que a água é uma fonte de vida não substituível, a que todos os seres vivos têm direito, e sua conservação seria uma responsabilidade coletiva fundamental.
A mesma declaração complementa o raciocínio, defendendo a necessidade de as culturas que defendem a água como um bem comum serem protegidas e reinventadas. E, nesse ponto, a Declaração da 4.ª Cúpula do P7 e o Comentário Geral n.º 15 do CDESC convergem entre si, pois este último se refere à preocupação com o respeito à cultura e o acesso à água, nas formas tradicionais de uso por comunidades antigas e originárias, o que valoriza o componente da independência no conceito de segurança hídrica. O que aqui se chama simplisticamente de independência corresponde na verdade à minimização de uma relação de dependência e sujeição, por meio de mecanismos formais de cooperação, tanto interbacias como intrabacias hidrográficas. O quarto princípio da Declaração da 4.ª Cúpula do P7 afirma que “a água deve contribuir para a solidariedade entre comunidades, países, sociedades, gerações e sexos”. Ao mesmo tempo reconhece que a água doce é distribuída de forma desigual em torno da Terra, e afirma que isso não deve ser utilizado como fator de exercício de poder.
Carlos Hiroo Saito. Segurança hídrica e direito humano à água. In: Ruscheinsky, Calgaro & Weber. Ética, direito socioambiental e democracia. Caxias do Sul: Educs, 2018, p. 100-101 (com adaptações).
Com base nas ideias veiculadas no texto CB1A1, julgue o item a seguir.
De acordo com o texto, a Declaração da 4.ª Cúpula do P7 distingue-se do Comentário Geral n.º 15 do CDESC e da Agenda 21 por ampliar o direito à água a todas as formas de vida.
GABARITO: CERTO.
Esta questão trabalha com interpretação de texto.
Ao mencionar a perspectiva do Comentário Geral n.º 15 do CDESC, o texto menciona que a Declaração da 4ª Cúpula do P7 apresenta uma perspectiva menos antropocêntrica, ao mencionar a água como fonte de vida à qual todos os seres vivos têm direito.
Observe, no 2º parágrafo:
“Em uma perspectiva menos antropocêntrica e mais ecocêntrica, em 2000, a Declaração da 4.ª Cúpula do P7, composto dos sete países mais pobres do mundo, em seu primeiro princípio, trouxe a ideia de que a água é uma fonte de vida não substituível, a que todos os seres vivos têm direito, e sua conservação seria uma responsabilidade coletiva fundamental.”
Sendo assim, a afirmação está CERTA.
A resposta correta é: Certo.
exto CB1A2-I
A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em sua 41.ª sessão, reconhece os impactos profundos e dinâmicos, positivos e negativos da inteligência artificial (IA) nas sociedades, no meio ambiente, nos ecossistemas e nas vidas humanas, inclusive na mente humana, em parte devido às novas formas como seu uso influencia o pensamento, a interação e a tomada de decisões e afeta a educação, as ciências humanas, sociais e naturais, a cultura, a comunicação e a informação.
A Conferência considera que as tecnologias de IA podem ser de grande utilidade para a humanidade e podem beneficiar todos os países, mas também suscitam questões éticas fundamentais, por exemplo, em relação às distorções que podem incorporar e exacerbar, o que resultaria potencialmente em discriminação, desigualdade, exclusão digital, exclusão em geral e ameaça à diversidade cultural, social e biológica, além de divisões sociais ou econômicas. Suscitam, ainda, questões relativas à necessidade de transparência e compreensibilidade do funcionamento dos algoritmos e dos dados com que eles foram alimentados, além de seu potencial impacto sobre, entre outros aspectos, a dignidade humana; os direitos humanos e as liberdades fundamentais; a igualdade de gênero; a democracia; os processos sociais, econômicos, políticos e culturais; as práticas científicas e de engenharia; o bem-estar dos animais; o meio ambiente e os ecossistemas.
A Conferência reconhece, ainda, que as tecnologias de IA podem aprofundar as divisões e as desigualdades existentes no mundo, dentro dos países e entre eles, e que a justiça, a confiança e a equidade devem ser defendidas para que nenhum país e nenhum indivíduo sejam deixados para trás, seja em razão do acesso justo às tecnologias de IA e de seus benefícios, seja em razão de medidas de proteção contra suas implicações negativas. Reconhecem-se as diferentes circunstâncias de diferentes países e respeita-se o desejo de algumas pessoas de não participar de todos os desenvolvimentos tecnológicos.
Com base nas considerações acima, entre outras, a UNESCO aprova a presente Recomendação sobre a Ética da Inteligência Artificial.
UNESCO. Recomendação sobre a Ética da Inteligência Artificial (com adaptações).
Julgue o item seguinte, referente aos sentidos e a aspectos linguísticos do texto CB1A2-I.
A correção gramatical do texto e a coerência de suas ideias seriam mantidas caso o segundo período do terceiro parágrafo fosse reescrito da seguinte forma: A Conferência reconhece as variadas circunstâncias de diferentes países; ademais, respeita o desejo que algumas pessoas têm de não participar de todos os desenvolvimentos tecnológicos.
GABARITO: CERTO.
A questão exige conhecimentos sobre paráfrase textual.
O enunciado expõe um texto, em seguida, apresenta um item a ser julgado como certo ou errado, afirmando que a correção gramatical do texto e a coerência de suas ideias seriam mantidas caso o segundo período do terceiro parágrafo fosse reescrito da seguinte forma: “A Conferência reconhece as variadas circunstâncias de diferentes países; ademais, respeita o desejo que algumas pessoas têm de não participar de todos os desenvolvimentos tecnológicos.”
O item está certo.
Veja que as orações apresentadas no texto estão na voz passiva sintética (reconhecem-se e respeita-se). Nesse caso, a expressão “A conferência” é empregada como agente da passiva, isto é, corresponde ao sujeito da voz ativa. Já, na reescritura, foi usada a voz ativa, por isso ela veio como sujeito dos verbos correspondentes. Logo, a frase é colocada na voz ativa, onde “A Conferência” se torna o sujeito explícito das ações “reconhece” e “respeita”.
Além disso, a expressão “ademais” passa uma ideia de acrescentamento, assim como o conectivo “e”, e o termo “variadas” substitui “diferentes”, não alterando o sentindo original.
Portanto, a frase reescrita mantém a integridade gramatical e a coerência das ideias do texto original.
- Texto: “A Conferência reconhece, ainda, que as tecnologias de IA podem aprofundar as divisões e as desigualdades existentes no mundo, dentro dos países e entre eles, e que a justiça, a confiança e a equidade devem ser defendidas para que nenhum país e nenhum indivíduo sejam deixados para trás, seja em razão do acesso justo às tecnologias de IA e de seus benefícios, seja em razão de medidas de proteção contra suas implicações negativas. Reconhecem-se as diferentes circunstâncias de diferentes países e respeita-se o desejo de algumas pessoas de não participar de todos os desenvolvimentos tecnológicos.”
A resposta correta é: Certo.
Texto CB1A1-II
Há 70 anos, em 3 de outubro de 1953, era criada a PETROBRÁS, uma empresa estatal que detinha o monopólio da prospecção e exploração do petróleo no território brasileiro. A criação da empresa foi fruto da campanha “O petróleo é nosso”, iniciada após a eleição de Getúlio Vargas para seu segundo período na Presidência.
Sete décadas após sua criação, ficaram para trás o acento agudo e o foco exclusivo no território brasileiro. A PETROBRAS do século XXI opera em 14 países, prioritariamente nas áreas de exploração, produção, refino, comercialização e transporte de petróleo, gás natural e seus derivados, e ganhou reputação internacional no desenvolvimento de tecnologia avançada para a exploração petrolífera em águas profundas e ultraprofundas. Ficou para trás também o caráter 100% estatal. Atualmente, a PETROBRAS está organizada como sociedade de economia mista, submete-se às regras gerais da administração pública e não mais detém o monopólio da exploração do petróleo em território nacional. Seu papel, no entanto, vai além da obtenção de lucro e envolve aspectos como geração de emprego e renda, além da promoção do desenvolvimento local nos lugares onde instala suas unidades e empreendimentos. Estes, muitas vezes, se situam em regiões remotas, que não despertam o apetite de companhias privadas. Permanece, assim, uma empresa estratégica para diversos aspectos do desenvolvimento econômico do país.
Renato Coelho. Jornal da UNESP, 3/10/2023 (com adaptações).
Considerando ainda os aspectos linguísticos do texto CB1A1-II, julgue o item seguinte.
Em “Estes, muitas vezes, se situam em regiões remotas” (penúltimo período do texto), é obrigatória a próclise do pronome “se” em razão da expressão adverbial “muitas vezes”.
GABARITO: ERRADO.
A questão exige conhecimento sobre colocação pronominal.
O termo “muitas vezes” não funciona como fator atrativo, tendo em vista que está entre vírgula, isolando o termo.
Nesse caso, a próclise é facultativa nessa oração, tendo em vista que a CESPE/CEBRASPE adota a seguinte regra:
- o uso do pronome depois da vírgula, formando próclise, deve ser evitado, mas não é proibido.
Desta forma, podemos afirmar que o enunciado está errado a partir do momento que afirma ser obrigatória a próclise nessa oração.
Vamos a um breve resumo sobre o assunto:
> PRÓCLISE: é quando devemos usar o pronome antes do verbo. Usamos a próclise:
- quando houver advérbio, pronome, conjunção subordinada. Chamamos de elementos atrativos. Ou seja, eles atraem o pronome para perto. Exemplo: “Não me diga que chegará atrasado”. “Não”: é um advérbio de negação. “Quando me viu, chorou de saudade”. “Quando” é uma conjunção subordinada temporal.
- quando temos a estrutura “preposição + pronome + verbo no gerúndio”. Exemplo: “Em se tratando de tecnologias, ele não compreende”.
- quando o verbo principal estiver no particípio. Exemplo: “tenho me lembrado daquela festa todos os dias”.
> MESÓCLISE: é quando devemos usar o pronome no meio do verbo. Usamos quando o verbo está no futuro. Exemplo: “calar-me-ei até que a verdade apareça”.
> ÊNCLISE: é quando devemos usar o pronome depois do verbo. Usamos a ênclise:
- verbos no gerúndio. Exemplo: “Ele estava fazendo-se de despreocupado”.
- no início de frase. Exemplo: “Diga-me sobre o seu trabalho”. Não devemos iniciar uma frase com o pronome, por isso usamos ênclise.
Cuidado com a banca CESPE: ela diz que o uso do pronome depois da vírgula, formando próclise, deve ser evitado, mas não é proibido.
A resposta correta é:
Errado.
A vida em sociedade trouxe para os seres humanos um aprendizado extremamente importante: não se poderiam resolver todas as questões pela força, era preciso usar a palavra para persuadir os outros a fazer alguma coisa. Por isso, o aparecimento da argumentação está ligado à vida em sociedade e, principalmente, ao surgimento das primeiras democracias.
Todo discurso tem uma dimensão argumentativa. Alguns se apresentam como explicitamente argumentativos (por exemplo, o discurso político, o discurso publicitário), enquanto outros não se apresentam como tal (por exemplo, o discurso didático, o discurso romanesco, o discurso lírico). No entanto, todos são argumentativos: de um lado, porque o modo de funcionamento real do discurso é o dialogismo; de outro, porque sempre o enunciador pretende que suas posições sejam acolhidas, que ele mesmo seja aceito, que o enunciatário faça dele uma boa imagem.
José Luiz Fiorin. Argumentação. 2.ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Editora Contexto, 2022, p.11 (com adaptações).
Considerando as ideias e os aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item a seguir.
O emprego do presente do indicativo no segundo parágrafo do texto sinaliza que as ações apresentadas tiveram início no passado e se estendem até o momento atual.
GABARITO: ERRADO.
No contexto em que o presente do indicativo foi empregado, no texto acima, ele sugere que as ações e condições descritas são vistas como universais, atemporais ou habituais. Esse tempo verbal é frequentemente utilizado para expressar verdades gerais, estados permanentes ou ações habituais, que não estão associadas a um período específico no passado. Por esse motivo, o item está incorreto.
A resposta correta é:
Errado.
Texto CB1A1-I
Com o avanço científico e tecnológico ocorrido na Europa durante o Renascimento, os inventores começaram a demandar reconhecimento oficial de suas criações, a fim de impedir a imitação de seus inventos. Assim, em 1421, foi concedida ao inventor Filippo Brunelleschi, em Veneza, a primeira patente, com prazo de três anos, pela invenção de um modelo de embarcação para transportar mármore. Nesse contexto de criação de um sistema de concessão de privilégios como forma de proteção de um invento, em 1474, foi promulgado na República de Veneza o Estatuto de Veneza, garantindo ao inventor a exploração comercial do seu invento pela concessão do privilégio da invenção pelo prazo de dez anos.
No começo do século XVII, em 1623, a Inglaterra promulgou o Estatuto dos Monopólios, que consistiu na primeira base legal para concessão de patentes no país para uma invenção efetivamente nova. O estatuto contribuiu para a promulgação da Lei de Patentes de 1624, que, por sua vez, instituiu o sistema de patentes britânico. Em 1790, os Estados Unidos da América promulgaram a sua primeira lei de patentes, intitulada Patent Act, na qual era autorizada a concessão de direitos exclusivos aos inventores sobre as suas obras, estabelecendo um prazo de quatorze anos de duração. Nessa mesma conjuntura, em 1791, a França promulgou sua primeira lei de patentes, denominada Décret d’Allarde, considerada uma das principais leis publicadas durante a Revolução Francesa.
No Brasil, o príncipe regente Dom João VI promulgou o Alvará de 28 de abril de 1809, tornando o país um dos primeiros no mundo a reconhecer a proteção dos direitos do inventor, atrás apenas da República de Veneza (1474), da Inglaterra (1623), dos Estados Unidos da América (1790) e da França (1791).
Flávia Romano Villa Verde et al. As invenções no Brasil contadas a partir de documentos históricos de patentes. Rio de Janeiro: Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Brasil) – INPI, Diretoria de Patentes, Programas de Computador e Topografia de Circuitos Integrados – DIRPA, Coordenação Geral de Estudos, Projetos e Disseminação da Informação Tecnológica – CEPIT e Divisão de Documentação Patentária – DIDOC, 2023, p. 20-21 (com adaptações).
Considerando aspectos linguísticos do texto CB1A1-I, julgue os próximos itens.
No segundo período do primeiro parágrafo, o segmento “a primeira patente” funciona como complemento direto da locução verbal “foi concedida”.
GABARITO: ERRADO.
Assim, em 1421, foi concedida ao inventor Filippo Brunelleschi, em Veneza, a primeira patente.
A expressão ‘a primeira patente’, na verdade, não é complemento direto de verbo algum. Nesse caso, tal expressão funciona como sujeito paciente da expressão ‘foi concedida’. O que foi concedida? Resposta: A primeira patente.
A resposta correta é:
Errado.
Embora haja relação entre os conceitos, racismo difere de preconceito racial e de discriminação racial. O preconceito racial é o juízo que se baseia em estereótipos acerca de indivíduos que pertençam a determinado grupo racializado e que pode ou não resultar em práticas discriminatórias. As ideias de que negros são violentos e inconfiáveis, de que judeus são avarentos ou de que orientais são “naturalmente” preparados para as ciências exatas são exemplos de preconceitos.
A discriminação racial, por sua vez, é a atribuição de tratamento diferenciado a membros de grupos racialmente identificados. Portanto, a discriminação tem como requisito fundamental o poder, ou seja, a possibilidade efetiva do uso da força, sem o qual não é possível atribuir vantagens ou desvantagens por conta da raça. Assim, a discriminação pode ser direta ou indireta.
A discriminação direta é o repúdio ostensivo a indivíduos ou grupos, motivado pela condição racial, exemplo do que ocorre em países que proíbem a entrada de negros, judeus, muçulmanos, pessoas de origem árabe ou persa, ou ainda em lojas que se recusem a atender clientes de determinada raça. Adilson José Moreira afirma que o conceito de discriminação direta “pressupõe que as pessoas são discriminadas a partir de um único vetor e também que a imposição de um tratamento desvantajoso requer a existência da intenção de discriminar”. Por isso, conclui Moreira, o conceito de discriminação direta é “incompleto” para lidar com a complexidade do fenômeno da discriminação.
Já a discriminação indireta é um processo em que a situação específica de grupos minoritários é ignorada — discriminação de fato —, ou sobre ela são impostas regras de “neutralidade racial”, sem que se leve em conta a existência de diferenças sociais significativas — discriminação pelo direito ou discriminação por impacto adverso. A discriminação indireta é “marcada pela ausência de intencionalidade explícita de discriminar pessoas. Isso pode acontecer porque a norma ou prática não leva em consideração ou não pode prever de forma concreta as consequências da norma.”, segundo Moreira.
A consequência de práticas de discriminação direta e indireta ao longo do tempo leva à estratificação social, um fenômeno intergeracional em que o percurso de vida de todos os membros de um grupo social — o que inclui as chances de ascensão social, de reconhecimento e de sustento material — é afetado.
Silvio Almeida. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019, p. 22-23 (com adaptações)
Considerando as ideias veiculadas no texto apresentado e seus aspectos linguísticos, julgue o seguinte item.
O sentido e a correção gramatical do primeiro período do quarto parágrafo seriam mantidos caso o trecho “sem que se leve” fosse alterado para sem se levar.
GABARITO: CERTO.
Trata-se de uma questão de reescritura textual que demanda a manutenção dos aspectos semânticos e gramaticais.
Vejamos a definição de paráfrase, segundo Fernando Pestana:
É uma reescritura em que se ratifica, positivamente, a ideologia do texto original, ou seja, é dizer o mesmo com outras palavras:
A escola, embora não tenha plena consciência do processo que desencadeia, é a base para a evolução profissional do ser humano.
As instituições de ensino, apesar de não se darem conta da interferência na psique alheia, são o alicerce do desenvolvimento secular do homem.
Veja, portanto, que se trata de uma interpretação que o autor procura seguir mais o sentido do texto que a sua letra.
É uma reescrita que mantém o sentido do conteúdo original. É um recurso que requer habilidade na interpretação textual.
Analisando o excerto, temos:
Já a discriminação indireta é um processo em que a situação específica de grupos minoritários é ignorada — discriminação de fato —, ou sobre ela são impostas regras de “neutralidade racial”, sem que se leve em conta a existência de diferenças sociais significativas — discriminação pelo direito ou discriminação por impacto adverso
A reescrita de “sem que se leve” para “sem se levar” apenas passa uma oração desenvolvida para uma oração reduzida de infinitivo.
Sentido e correção são mantidos.
Portanto, correta a assertiva.
As orações reduzidas têm as seguintes características:
- apresentam o verbo numa das formas nominais (gerúndio, particípio e infinitivo);
- nunca são iniciadas por conjunções (no caso das substantivas e adverbiais) nem por pronomes relativos (no caso das adjetivas);
- normalmente podem ser reescritas (desenvolvidas) com esses conectivos;
- podem ser iniciadas por preposição ou locução prepositiva.
Veja exemplos:
– Saí da religião, sem ser incomodado. (reduzida)
– Saí da religião, sem que me incomodassem. (desenvolvida)
– Agindo Deus, quem pode impedi-lo? (reduzida)
– Se Deus age, quem pode impedi-lo? (desenvolvida)
– Terminada a prova, fomos ao restaurante. (reduzida)
– Quando terminou a prova, fomos ao restaurante. (desenvolvida)
INDO ALÉM…
> > > SEMÂNTICA «<
A semântica trata da significação das palavras, que podem estar isoladas ou contextualizadas.
A diferença entre significado e sentido mais clássica é esta:
O primeiro diz respeito à noção que a palavra apresenta.
Ex.: Um cachorro atravessou a rua. Comprei um cachorro lindo.
O segundo diz respeito à noção que a palavra pode apresentar.
Ex.: Ele é chato pra cachorro. Já que tive um sonho, amanhã vou jogar no cachorro.
As palavras não só podem ter uma acepção primária, mas também diversas acepções; tudo dependerá do contexto.
A princípio, quando pensamos em cachorro, imediatamente vem uma imagem à nossa cabeça: a de um cão, qualquer cão, um animal doméstico.
Só que a semântica trata de todas as possibilidades de significação, envolvendo nosso conhecimento de mundo, experiência de vida e outros fatores extralinguísticos, como a região em que vivemos, a idade que temos, o grupo social ou profissional a que pertencemos etc. Tudo isso vai influenciar os matizes da palavra.
A palavra isolada tem um significado primário; no entanto, tem vários sentidos secundários dentro de contextos específicos.
> > > CORREÇÃO GRAMATICAL «<
A correção linguística é uma qualidade esperada em textos escritos, em especial nas correspondências oficiais, em que a pessoa que escreve ocupa uma posição institucional. Ora, se problemas de ortografia, concordância, regência e pontuação podem causar dificuldades de leitura e “arranhar” a imagem do produtor de um bilhete, imagine como será prejudicial para a instituição que uma pessoa que escreva um ofício que contenha incorreções no uso formal da língua.
A gramática normativa trata da sistematização do registro culto da língua, em seus níveis fonológico (som), mórfico (forma), sintático (organização), semântico (sentido) e léxico (vocabulário).
A língua culta (ou registro culto), conforme dizia o conceituadíssimo gramático Celso Cunha, “trata de uma descrição do português atual na sua forma culta, isto é, da língua como a têm utilizado os escritores portugueses, brasileiros e africanos, do Romantismo para cá, dando naturalmente uma situação privilegiada aos autores dos nossos dias”. Como se pôde perceber com os grifos que dei, é simplesmente a maneira como as pessoas que gozam de prestígio social usam a língua. Não é a língua pura ou correta (apesar de ainda muitos sustentarem tal dis- curso!), mas tão somente uma maneira de usar a língua. A partir do modelo de escrita de pessoas conceituadas, estudiosos dessa modalidade linguística criaram padrões de “bom uso” da língua. De modo simplista, é por isso que a língua culta é também chamada de língua padrão, ou registro culto, ou ainda registro formal.
Referência:
PESTANA, Fernando. A Gramática para Concursos Públicos. Teoria completa e mais de 1.300 questões comentadas. ed. São Paulo: Método, 2007.
A resposta correta é: Certo.
Texto 11A1
Trabalho e educação são atividades especificamente humanas. Isso significa que, rigorosamente falando, apenas o ser humano trabalha e educa. Assim, a pergunta sobre os fundamentos ontológicos da relação trabalho-educação traz imediatamente à mente a questão: quais são as características do ser humano que lhe permitem realizar as ações de trabalhar e de educar? Ou: o que é que está inscrito no ser do humano que lhe possibilita trabalhar e educar?
Perguntas desse tipo pressupõem que o ser humano esteja previamente constituído como ser que possui propriedades que lhe permitem trabalhar e educar. Pressupõe-se, portanto, uma definição de ser humano que indique em que ele consiste, isto é, sua característica essencial a partir da qual se possa explicar o trabalho e a educação como atributos desse ser. E, nesse caso, fica aberta a possibilidade de que trabalho e educação sejam considerados atributos essenciais do ser humano, ou acidentais.
Na definição de ser humano mais difundida (animal racional), o atributo essencial é dado pela racionalidade, consoante o significado clássico de definição estabelecido por Aristóteles: uma definição dá-se pelo gênero próximo e pela diferença específica. Pelo gênero próximo, indica-se aquilo que o objeto definido tem em comum com outros seres de espécies diferentes (no caso em tela, o gênero animal); pela diferença específica, indica-se a espécie, isto é, o que distingue determinado ser dos demais que pertencem ao mesmo gênero (no caso do ser humano, a racionalidade). Consequentemente, sendo o ser humano definido pela racionalidade, é esta que assume o caráter de atributo essencial desse ser.
Ora, assim entendido o ser humano, vê-se que, embora trabalhar e educar possam ser reconhecidos como atributos humanos, eles o são em caráter acidental, e não substancial. Com efeito, o mesmo Aristóteles, considerando como próprio do ser humano o pensar, o contemplar, reputa o ato produtivo, o trabalho, como uma atividade não digna de seres humanos livres.
Diversamente, Bergson, ao analisar o desenvolvimento do impulso vital na obra Evolução criadora, observa que “torpor vegetativo, instinto e inteligência” são os elementos comuns às plantas e aos animais. E, definindo a inteligência pela fabricação de objetos, fenômeno identificado como comum aos animais, encontra no ser humano a particularidade da fabricação de objetos artificiais, o que lhe permite avançar à seguinte conclusão: “Se pudéssemos nos despir de todo orgulho, se, para definir nossa espécie, nos ativéssemos estritamente ao que a história e a pré-história nos apresentam como a característica constante do ser humano e da inteligência, talvez não disséssemos Homo sapiens, mas Homo faber. Em conclusão, a inteligência, encarada no que parece ser o seu empenho original, é a faculdade de fabricar objetos artificiais, sobretudo ferramentas para fazer ferramentas, e de diversificar ao infinito a fabricação delas.”.
Demerval Saviani. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos.
Internet: <www.scielo.br> (com adaptações).</www.scielo.br>
Em relação às ideias apresentadas no texto 11A1 e às relações de coerência nele presentes, julgue o item que se segue.
As ideias do texto se desenvolvem a partir da premissa indicada no período inicial: trabalho e educação são atividades intrínsecas da espécie humana.
GABARITO: ERRADO.
Esta questão trabalha com interpretação de texto.
Observe o penúltimo parágrafo:
“Ora, assim entendido o ser humano, vê-se que, embora trabalhar e educar possam ser reconhecidos como atributos humanos, eles o são em caráter acidental, e não substancial. Com efeito, o mesmo Aristóteles, considerando como próprio do ser humano o pensar, o contemplar, reputa o ato produtivo, o trabalho, como uma atividade não digna de seres humanos livres.”
Podemos notar que, segundo o texto, o ato de trabalhar e educar, apesar de relacionados ao ser humano, não o são em caráter substancial - ou seja, não faz parte da substância, da composição do ser humano. Não são, portanto, intrínsecos à espécie humana.
Observe como o autor utiliza o pensamento de Aristóteles para embasar esse ponto de vista.
Sendo assim, a afirmação está ERRADA.
Um balanço feito pelo Instituto Sou da Paz e pelo INSPER mostrou que, em 2021, o Distrito Federal registrou a menor taxa de homicídios dos últimos 45 anos, mesmo com o aumento da população. Em Alagoas, os indicadores do mesmo crime caíram 14,8%. De acordo com o Segundo Balanço das Políticas de Gestão para Resultados na Segurança Pública, em São Paulo reduziu-se em 49% o roubo de veículos entre 2014 e 2021.
O documento evidencia iniciativas estaduais que representam boas práticas na área de segurança pública. Segundo a diretora executiva do Instituto Sou da Paz, a pesquisa encontrou 11 estados com programas de gestão de resultado. O destaque é o Espírito Santo, que tem uma ação mais longeva e consegue manter um programa central que envolve as polícias com resultados importantes na redução dos homicídios. “São programas que, embora não sejam uma panaceia, conseguem contribuir muito para a integração das polícias, dão uma ferramenta para o secretário de segurança coordenar, dão uma visão de longo prazo para a segurança pública nos estados, o que não é algo trivial”, disse a diretora.
“O estabelecimento de diretrizes baseadas em evidências é essencial para a promoção de melhorias na segurança pública dos estados brasileiros”, afirmou um professor do Centro de Gestão e Políticas Públicas do INSPER. Ele acrescentou que o balanço apresentado pelo instituto e pelo Sou da Paz buscou analisar o que funciona para a área, quais estados alcançaram sucesso nos últimos anos e como os gestores podem orientar propostas para conseguir os melhores resultados possíveis.
Internet: https://agenciabrasil.ebc.com.br (com adaptações).
Em relação às ideias e a aspectos linguísticos do texto apresentado, julgue o item a seguir.
No primeiro parágrafo, a substituição da forma verbal “caíram” (segundo período) por caiu alteraria o sentido do texto, porém sua correção gramatical seria preservada.
Vale lembrar:
A regra geral da concordância verbal dita que sujeito e verbo devem concordar em número e pessoa.
Exemplo: O menino correu. - Os meninos correram.
Observamos como o verbo “correr” concorda em número e pessoa com o sujeito “menino”, flexionando ora na terceira pessoa do singular, “correu”, ora na terceira pessoa do plural, “correram”.
Observe a construção: “Em Alagoas, os indicadores do mesmo crime caíram 14,8%.”
Podemos notar que a forma verbal “caíram” deve flexionar na 3ª pessoa do plural, concordando com o núcleo do sujeito, “indicadores”.
Logo, não seria possível trocar a forma “caíram” pela forma “caiu”, sem que a correção gramatical fosse preservada. Afirmação ERRADA.
A resposta correta é:
Errado.
Em abril de 1968, um grupo de cientistas de dez países se juntou para estudar o futuro da humanidade. O grande assunto da época era o crescimento populacional: naquela década, a taxa média de natalidade havia ultrapassado a marca de cinco filhos por mulher, a maior já registrada.
O grupo, que ficou conhecido como clube de Roma (a primeira reunião ocorreu na capital italiana), passou quatro anos debruçado sobre essa e outras questões, e, em 1972, transformou as conclusões em livro: Os limites do crescimento. A obra usava dados históricos e modelos matemáticos para mostrar como, além de aumentar as emissões de CO₂ e esquentar a atmosfera, o forte crescimento da população — que acontecia devido à alta natalidade combinada à “redução, muito bem-sucedida, na taxa de mortalidade global” — poderia ter outras consequências catastróficas, como o esgotamento dos recursos naturais. E apresentava duas possíveis soluções: ou a humanidade diminuía voluntariamente seu ritmo de crescimento, ou o próprio planeta acabaria fazendo isso, reduzindo a população por meio de um colapso ambiental.
Os limites do crescimento tiveram enorme repercussão — foi traduzido para dezenas de idiomas e vendeu mais de 30 milhões de exemplares pelo mundo —, mas suas advertências não foram ouvidas. A população global, que, em 1972, era de 3,8 bilhões, mais que dobrou: em 2022, a Terra cruzou a marca de 8 bilhões de habitantes.
Hoje, o aquecimento global e outros problemas ambientais são temas dominantes e urgentes. Todo ano, a organização americana Global Footprint Network calcula o chamado dia da sobrecarga da Terra, a data em que ultrapassamos a capacidade do planeta de reequilibrar seus sistemas ecológicos e regenerar recursos naturais.
Esse indicador é calculado desde 1971; naquele ano, a humanidade atravessou o limite em dezembro. Já em 2023, isso aconteceu em 2 de agosto. Isso significa que, no ano de 2022, usamos 75% mais recursos do que o planeta pode suportar.
Ao mesmo tempo, há algo diferente acontecendo. Nada menos que 124 países estão com natalidade inferior a 2,1 filhos por mulher. Essa é a chamada “taxa de reposição”, que, segundo a ONU, é necessária para manter a população estável (2 pessoas novas substituem os pais, e o 0,1 adicional compensa o número de indivíduos que não geram descendentes).
Internet: <super.abril.com.br> (com adaptações).</super.abril.com.br>
Julgue o item a seguir, relativo a aspectos linguísticos do texto anterior.
Os vocábulos “muito” (segundo período do segundo parágrafo) e “mais” (terceiro período do quinto parágrafo) classificam-se gramaticalmente no texto, respectivamente, como advérbio e adjetivo.
GABARITO: CERTO.
Esta questão trabalha com emprego de advérbios e adjetivos.
Vale lembrar:
O advérbio é uma classe gramatical constantemente confundida com a classe dos adjetivos; há porém uma diferença fundamental entre ambas: enquanto o advérbio modifica verbos, adjetivos e outros advérbios, o adjetivo modifica nomes.
Exemplo:
Ele corre rapidamente. - o termo “rapidamente” é um advérbio, pois modifica o verbo “corre”.
A menina é inteligente. - o termo “inteligente” é um adjetivo, pois modifica o substantivo “menina”.
Vale lembrar também que, enquanto o advérbio é invariável, o adjetivo pode flexionar em número e gênero, conforme o nome que modifica.
Observe: “redução, muito bem-sucedida”.
Podemos observar que o termo “muito” intensifica o adjetivo “bem-sucedida”, configurando-se como advérbio.
Observe: “usamos 75% mais recursos”.
Podemos observar que o termo “mais” atua sobre o substantivo “recursos”, configurando-se como adjetivo.
Sendo assim, a afirmação está CERTA.
A resposta correta é: Certo.
O senso comum é acumulado ao longo da vida de cada um de nós e acaba sendo transmitido de geração em geração. É um tipo de conhecimento não científico, formado pelas nossas impressões subjetivas sobre o mundo, fruto das nossas experiências pessoais.
Embora esse seja um tipo de conhecimento popular e prático que nos orienta no dia a dia, por não ser testado, verificado ou analisado por uma metodologia científica, permanece um alto grau de incerteza sobre a sua validade, ou seja, é um conhecimento tradicionalmente bem aceito, que pode ou não estar correto ou em consonância com a realidade. Trata-se, contudo, apenas de um mito, assim como muitos outros ensinados e perpetuados pela força da tradição e da crença, tal qual afirma Tolstói em sua obra Uma confissão: “Sei que a maior parte dos homens raramente são capazes de aceitar as verdades mais simples e óbvias se essas os obrigarem a admitir a falsidade das conclusões que eles, orgulhosamente, ensinaram aos outros, e que teceram, fio por fio, trançando-as no tecido da própria vida.”.
É claro que a maioria das pessoas reconhece também que a ciência é importante e necessária, mas, ainda assim, temos dificuldade em abrir mão das nossas crenças e do nosso senso comum, mesmo quando necessário. Tendemos a nos manter fiéis àquilo que “testemunhamos com nossos próprios olhos”.
Confiar nos “nossos olhos” — na nossa percepção pessoal — é um processo natural e compreensível, uma vez que essa é a ferramenta com que somos equipados “de fábrica” e que nos ajudou a sobreviver até aqui ao longo da nossa evolução.
André Demambre Bacchi. Afinal, o que é ciência: … E o que não é? São Paulo: Editora Contexto, 2024, p. 10-11 (com adaptações).
Julgue o item subsequente, referente às características textuais e aos aspectos linguísticos do texto precedente, bem como às ideias nele veiculadas.
De acordo com o texto, pairam dúvidas sobre a validade do senso comum como uma forma legítima de conhecimento por ser ele um conhecimento de natureza tradicional e popular
GABARITO: ERRADO.
A questão exige conhecimentos sobre compreensão textual.
O enunciado expõe um texto, em seguida, apresenta um item a ser julgado como certo ou errado, afirmando que pairam dúvidas sobre a validade do senso comum como uma forma legítima de conhecimento por ser ele um conhecimento de natureza tradicional e popular.
O item está errado. Observe que o texto deixa expresso que a causa da incerteza sobre a validade do senso comum, como forma de conhecimento, é outra: “por não ser testado, verificado ou analisado por uma metodologia científica”.
Portanto, o erro ocorre por contradição com as ideias textuais.
- Texto: “Embora esse seja um tipo de conhecimento popular e prático que nos orienta no dia a dia, por não ser testado, verificado ou analisado por uma metodologia científica, permanece um alto grau de incerteza sobre a sua validade, ou seja, é um conhecimento tradicionalmente bem aceito, que pode ou não estar correto ou em consonância com a realidade.”
Vamos aproveitar para revisar o assunto, sobre compreensão e interpretação de textos, com os ensinamentos da professora Adriana Figueiredo:
Existem dois tipos de questão de interpretação: recorrência (compreensão de textos) e inferência (interpretação de textos). Na recorrência, você recorre ao texto e encontra a resposta, que não virá exatamente com as mesmas palavras do texto, mas sob a forma de paráfrase.
INFERÊNCIA é aquela em que você é levado a inferir, deduzir, concluir algo sobre o que leu, com base em pressupostos textuais.
O erro da recorrência e da inferência são as extrapolações: extrapolar é ir além do que diz o texto, normalmente com base em experiência e opiniões próprias.
Fonte: FIGUEIREDO, Adriana. Gramática Comentada para Concurso Público. 5ª. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2017, pág. 669.
A resposta correta é:
Errado.