Discursivas Flashcards
De acordo com o Banco Central do Brasil, a inflação pode ter várias causas, que podem ser agrupadas em:
pressões de demanda, pressões de custos, inércia inflacionária e expectativas de inflação.
Inflação de demanda (pressões de demanda, choques de demanda)
A inflação de demanda ocorre quando existe um excesso de procura em relação à oferta disponível.
Dentre os fatores que podem causar inflação de demanda, quatro merecem destaque:
(i) aumento da renda disponível, que ocorre pelos aumentos reais dos salários, efeito riqueza ou uma redução da carga tributária, assim como, por meio de políticas de transferência de renda;
(ii) expansão dos gastos públicos, os quais elevam o nível de demanda agregada;
(iii) expansão da oferta de moeda e o crédito e redução das taxas de juros, ambos os fatores influenciam na demanda de consumo e investimentos.
Inflação de custos (pressões de custos, choques de oferta)
decorre […]
de pressões geradas nos custos e consequentemente repassadas aos preços. Este tipo de inflação, também recebe a denominação de choque de oferta, que pode acontecer mesmo quando a demanda permanece estável, onde são alteradas somente as despesas por parte do produtor.
Dentre os inúmeros fatores que podem levar à inflação de custos, podem ser destacados quatro:
(i) elevação da taxa de juros, que acaba por aumentar os custos da produção;
(ii) uma desvalorização cambial, que acaba gerando uma inflação nos produtos que são importados, os preços externos aumentam relativamente, em especial commodities e insumos;
(iii) o custo da mão de obra, onde a inflação pode vir atrelada ao aumento do salário nominal, e por fim o
(iv) aumento de impostos, que pressiona a elevação dos serviços e produtos;
(v) choque de oferta de produtos agrícolas e outros produtos primários.
As expectativas também jogam um papel crucial na inflação.
Se as pessoas ou as empresas preveem uma alta de preços, incorporarão essas expectativas nas negociações salariais e nos ajustes contratuais de preços. No período seguinte, as expectativas se tornam profecias autorealizáveis ao se ajustar os salários ou os preços de acordo com a convenção.
Como as pessoas costumam basear suas expectativas no passado recente, a inflação seguirá um padrão similar através do tempo, gerando-se inércia inflacionária. […]
A inércia também resulta dos mecanismos de indexação formal e informal de preços e rendimentos da economia. Um exemplo é a correção automática dos salários na proporção dos aumentos dos custos de vida.
Inflação de demanda – Teoria Quantitativa da Moeda
A equação quantitativa em sua versão tradicional estabelece uma relação de proporcionalidade entre o nível de preços e o estoque de moeda, atribuindo a taxa de variação dos preços à taxa de expansão da oferta de moeda. Admite-se, em primeiro lugar, que a velocidade de circulação da moeda seja constante. Além disso, supõe-se perfeita independência entre os determinantes da demanda e da oferta de moeda. Estas suposições eram aceitáveis no âmbito da economia neoclássica, onde se admitia a constância de Ve se considerava a renda real como a única variável explicativa da demanda de moeda. A oferta de moeda, por sua vez, era considerada exógena e neutra com relação ao setor real da economia. Todas estas condições, aliadas ao pressuposto neoclássico de flexibilidade de preços, asseguravam a equivalência entre a variação do nível de preços e a expansão (ou redução) do estoque de moeda da economia, deduzido o crescimento da renda real.
Inflação de demanda – Teoria Keynesiana
A teoria keynesiana da inflação prevê a ocorrência de inflação somente quando a economia estiver operando a pleno emprego. Nestas condições, qualquer incremento na demanda efetiva gera um hiato entre oferta e demanda globais, denominado hiato inflacionário. Quando houver capacidade ociosa, uma expansão da demanda deve gerar aumento na renda e nos preços de alguns bens e serviços. Esta situação, no entanto, não era considerada por Keynes como sendo de inflação “verdadeira”, que ocorre quando estímulos à demanda efetiva resultam apenas em crescimento dos preços. À semelhança da teoria quantitativa, o fator que inicia o processo inflacionário é a demanda agregada.
Armadilha da liquidez
Na TK, o instrumento relevante de estímulo à demanda é a política fiscal, e não mais a política monetária, como na TQM. Isto porque, para Keynes, a moeda era demandada não somente para transações, mas também com fins especulativos, o que introduz a taxa de juros como variável explicativa na função demanda de moeda. Neste caso, a expansão do estoque de moeda, ao reduzir a taxa de juros, pode determinar um aumento na demanda especulativa de moeda. Pode-se, inclusive, conceber uma situação limite em que a taxa de juros seja tão baixa, que todo incremento na oferta de moeda será retido pelos demandantes na expectativa de uma elevação na taxa de juros, não ocorrendo, portanto, qualquer alteração na demanda efetiva global. Nesse caso, chamado de armadilha da liquidez, somente a política fiscal é eficaz.
Inflação de custos e estruturalismo
O estruturalismo latino-americano, desenvolvido especialmente a partir da segunda metade dos anos 50, procurou fornecer uma interpretação particular para os processos inflacionários crônicos dos países em desenvolvimento. De acordo com este enfoque, a inflação seria um fenômeno quase inevitável, pois decorre de limitações e inflexibilidades da estrutura da economia, aguçadas pelo processo de desenvolvimento. As pressões inflacionárias advêm principalmente de pontos de estrangulamento, como a insuficiência de infraestrutura e bens de produção, da inadequação entre oferta e demanda de alimentos e do desequilíbrio das contas externas. A urbanização e industrialização resultam em forte aumento da demanda por alimentos enquanto a oferta desses produtos crescia lentamente devido à estrutura fundiária concentrada e à dificuldade de importar. Os recorrentes déficits do balanço de pagamentos levariam a desvalorização cambiais que causavam pressões inflacionárias. Estes fatores, aliados ao funcionamento deficiente do sistema de preços, resultam em aumento do nível geral de preços. A elevação inicial dos preços é sancionada e propagada pelo conflito distributivo, pela tentativa dos diversos setores e grupos econômicos de manterem sua participação na renda ou no gasto agregados, o que leva à expansão monetária e creditícia. Dada a natureza do diagnóstico da escola estruturalista, a inflação somente pode ser debelada mediante mudanças e reformas profundas na estrutura da economia, sendo de pouca utilidade os instrumentos fiscal e monetário tradicionais.
Curva de Phillips e expectativas
Um desenvolvimento importante da teoria da inflação ocorreu no final da década de 50, com a formulação da chamada curva de Phillips. Embora originalmente previsse uma relação inversa entre taxa de variação dos salários nominais e taxa de desemprego, a Curva de Phillips foi depois modificada para permitir a análise da relação entre inflação e desemprego ou inflação e capacidade ociosa da economia.
Uma das alterações mais significativas por que passou a Curva de Phillips foi,
certamente, a introdução da taxa esperada de inflação como variável explicativa adicional do comportamento dos salários e preços. A inclusão desta variável na formulação da curva de Phillips foi importante em pelo menos dois aspectos: permitiu analisar a questão da estagflação como fenômeno derivado do deslocamento da curva de Phillips ao longo do tempo, e deu origem ao debate sobre a possível verticalidade da relação de Phillips no longo prazo.
De acordo com a teoria das expectativas racionais, que supõe que
a expectativa de inflação seja formada com base na inferência dos agentes sobre a trajetória futura das variáveis econômicas relevantes, somente medidas não antecipadas de política econômica podem gerar erros de previsão e, portanto, afetar o setor real da economia. Consequentemente, basta que as autoridades econômicas anunciem um programa consistente de combate à inflação para que a taxa de inflação assuma imediatamente um valor compatível com a estratégia anunciada. Neste caso, a Curva de Phillips é vertical mesmo no curto prazo, eliminando os efeitos desfavoráveis da estabilização mas, ao mesmo tempo, tornando inócua a realização de políticas anticíclicas.
Teoria da Inflação inercial
Processo inflacionário em que a inflação passada determina a inflação presente, o que se atribuiu ao generalizado processo de indexação formal e informal na economia. A teoria da inflação inercial diz que os níveis de inflação se perpetuam devido a um conflito distributivo que ocorre entre os agentes econômicos (não apenas entre empresas e trabalhadores, mas também entre as próprias empresas) que elevam os preços de seus produtos de forma defasada e alternadamente. As expectativas da economia não são alteradas de forma fácil, decorrente da mudança da política monetária, devido ao fato dessas expectativas estarem ligadas a um fenômeno real - a inflação passada –, na qual está ancorado o conflito distributivo.