CICLO 01 O Brasil colonial - A América Portuguesa do século XVI ao século XVIII: As primeiras formas de exploração da América Portuguesa, a sociedade do açúcar e o período minerador. Flashcards
Os velhos, as mulheres, os meninos que não têm forças, nem armas com que se defender, morrem como ovelhas inocentes às mãos da crueldade herética, e os que podem escapar à morte, desterrando-se a terras estranhas, perdem a casa e a pátria. […] Não fora tanto para sentir, se, perdidas fazendas e vidas, se salvara ao menos a honra; mas também esta a passos contados se vai perdendo; e aquele nome português, tão celebrado nos anais da fama, já o herege insolente com as vitórias o afronta, e o gentio de que estamos cercados, e que tanto o venerava e temia, já o despreza.
VIEIRA, A. Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra a Holanda. In: BOSI, A. (org.) Essencial Padre Antônio Vieira. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 248.
Item 1
Condenada por intelectuais da igreja como Antônio Vieira, a escravidão indígena foi proibida logo no primeiro século de colonização da América portuguesa. Sintomas da mudança do padrão de mão de obra indígena para o africano ao longo do século 16 foram o fim das bandeiras, na capitania de São Vicente, e o início da edificação de reduções jesuíticas, como a de Sete Povos das Missões.
Item errado!
O item está errado pois data o fim das bandeiras no século XVI, quando, na realidade, elas se iniciam. O fim das bandeiras ocorre duzentos anos depois, no século XVIII. Mesmo com a proibição da escravização indígena, ainda havia as bandeiras de apresamento, de monções e de sertanismo por contrato.
A escassez de meios, nas forças armadas regulares de Portugal, para guarnecer suas possessões no ultramar motivou as elites coloniais a organizarem meios de defesa próprios, geralmente sem instrução militar formal. Exemplos disso são a construção, com mão de obra indígena, de um enorme galeão a mando de Salvador Correia de Sá e Benevides para a própria empresa de reconquista de Angola, e a expulsão, pelas ordenanças da cidade do Rio de Janeiro, dos invasores franceses liderados por Jean-François Duclerc.
Item correto!
O Rio de Janeiro tinha uma grande relação com o tráfico de escravos no Atlântico, por isso, os cariocas ajudaram a expulsar os holandeses de Angola. Além disso, a cidade do Rio de Janeiro foi invadida por corsários franceses entre 1710-1711, liderados Jean-François Duclerc.
A descoberta de ouro e a consequente circulação de riquezas na capitania das Minas Gerais atraiu grande número de migrantes para a região, propiciando o surgimento de um ambiente cosmopolita e intelectualmente sofisticado. Nesse contexto, a abertura das primeiras gráficas na América portuguesa – autorizadas pelo Marquês de Pombal no âmbito de um conjunto de medidas ditas esclarecidas, que visavam a atualizar a relação entre Metrópole e Colônia – contribuiria para catalisar a circulação dos ideais revolucionários do Iluminismo francês entre a elite letrada local.
Item errado!
Pombal não abriu gráficas na América Portuguesa, o que faz do excerto incorreto. As gráficas somente chegaram ao Brasil por ação de D. João VI com a criação da Imprensa Régia, o primeiro jornal editado e impresso no Brasil.
Tal como a Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana, de 1798, também conhecida como Revolução dos Alfaiates, foi uma sublevação formada pela elite econômica local descontente com os altos impostos cobrados na colônia. No caso da Conjuração Baiana, um dos principais pleitos dos revoltosos era a abertura dos portos brasileiros, com vistas a permitir a aquisição de algodão britânico a preços mais econômicos.
Item errado!
A questão está errada, pois afirma que a Revolução dos Alfaiates foi uma sublevação das elites. De forma contrária, a Revolução dos Alfaiates foi formada principalmente por membros das camadas baixas (mulatos, negros livres ou libertos, alguns escravos e brancos de origem popular). Além disso, tal revolução tinha como principais pleitos a abolição da escravidão e a proclamação da república.Item errado!
(CESPE/TPS/2017)
A configuração territorial da América portuguesa colonial foi alcançada por meio de um processo histórico dinâmico, iniciado no século XVI. A respeito desse tema, julgue (C ou E) os seguintes itens. No final do século XVI, os portugueses tinham posições fortificadas na foz do rio Amazonas e na margem oriental do rio da Prata.
Item errado!
As fortificações não existiam no século XVI. Apenas no século XVII os portugueses iniciaram a construção de fortes e vilas para proteger os litorais amazônicos e a margem oriental do Prata. Exemplos: Forte do Presépio, em 1616; Colônia de Sacramento, em 1680.
Com a finalidade de garantir a efetiva ocupação da região de São Vicente, no atual litoral paulista, Martim Afonso de Souza deu início, por ordem da Coroa portuguesa, às concessões hereditárias de terras a portugueses que trazia, com esse objetivo, em sua expedição.
Item errado!
Considerações políticas levaram a Coroa Portuguesa à convicção de que era necessário colonizar a nova terra. A expedição de Martim Afonso de Sousa (1530-1533) representou um momento de transição entre o velho [arrendamento para Fernão de Noronha, entre 1503 e 1505, e exploração de pau-brasil diretamente pela Coroa] e o novo período [introdução das Capitanias Hereditárias]. Tinha por objetivo patrulhar a costa, estabelecer uma colônia através da concessão não-hereditária de terras aos povoadores que trazia (São Vicente, 1532) e explorar a terra, tendo em vista a necessidade de sua efetiva ocupação.
As capitanias hereditárias foram concedidas a militares portugueses, que recebiam as doações como reconhecimento por serviços prestados à Coroa, bem como para reforçar a defesa do território colonial e facilitar a sua exploração.
Os beneficiários das capitanias hereditárias não eram militares portugueses, mas membros da baixa nobreza de Portugal.
A doação de terras pelos capitães-donatários a sesmeiros deu origem à formação de latifúndios.
Item certo!
As sesmarias recebidas pelos sesmeiros foram estruturadas para a produção de monoculturas visando o mercado externo, dando início à formação de grandes latifúndios de terra no Brasil.
O colonizador português tolerou bem e conviveu harmoniosamente com as diferenças culturais da sociedade, evitando impor a hegemonia de sua cultura a indígenas e africanos.
Item errado!
Não faz sentido algum essa afirmativa. Os colonizados (índios, africanos e homens livres pobres) foram submetidos à hegemonia econômica e cultural portuguesa, inclusive religiosa.
Antônio Vieira, de olhos no futuro, aconselhava o fortalecimento do poder monárquico luso, tendo como um dos instrumentos a máquina mercantil do Estado, com o fim de vencer a concorrência entre os impérios europeus.
Item certo!
Exatamente. No contexto da União Ibérica, o padre Antônio Vieira pregou a retomada do poder político por parte de Lisboa, além de advogar pelo fortalecimento do aparato mercantil do Estado, propôs a transferência da capital da Metrópole para o Brasil.
O padre João Antônio Andreoni, o Antonil, amante da estatística e do cálculo, escreveu obra importante acerca da economia colonial no Brasil.
Item certo!
Exato. Sua obra de maior êxito, Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas promoveu minucioso estudo a respeito das atividades econômicas da Colônia, especialmente em relação aos lucros e os custos dos engenhos de açúcar.
A colonização do Brasil, desde as origens, em 1500, até a transferência da Corte portuguesa, em 1808, orientou-se apenas pelo modelo estatal, sem recorrer ao setor privado ou à cooperação entre o setor público e o privado.
Item errado!
Desde o início da colonização portuguesa no Brasil houve atuação do poder estatal em conjunto com o setor privado. O maior exemplo disso são as capitanias hereditárias, criadas em 1532, e cedidas à nobres portugueses para ocupar, explorar e defender a colônia em nome do Estado.
A descoberta das minas de ouro no interior da colônia decorreu, essencialmente, da ação dos bandeirantes, expressão clássica de movimento expansionista de uma região — neste caso, São Paulo — cujo elevado dinamismo econômico requeria a incorporação de novas áreas ao seu processo de crescente desenvolvimento.
Item errado!
À época das bandeiras, São Paulo não apresentava elevado dinamismo econômico, muito pelo contrário. As bandeiras eram expedições de exploração que foram estimuladas como alternativa econômica à falta de produtividade na região paulista, além do sonho em encontrar ouro no território português.
Por suas características, a atividade mineradora possibilitou o aparecimento de núcleos urbanos, de uma estrutura social menos impermeável, quando comparada ao patriarcalismo nordestino, e de outras atividades econômicas voltadas para o abastecimento das áreas de mineração.
Item certo!
Exatamente. O item lista algumas das alterações sociais introduzidas pela atividade mineradora no Brasil. O Ciclo do Ouro proporcionou o rápido surgimento de arraiais, vilas e cidades, que demandava mão de obra menos estratificada que a existente nos canaviais. Além disso, a nova conjuntura de concentração populacional demandava o suprimento de alimentos, que deu origem a um novo dinamismo econômico de produção para o mercado interno.
Na mineração, diferentemente do ocorrido no Nordeste açucareiro, a presença do Estado metropolitano como agente econômico foi preponderante, evidenciada no elevado nível de investimento financeiro na região, na exploração estatal das minas e na adoção de mecanismos diretos de arrecadação de impostos.
Item errado!
Havia presença reguladora do Estado na economia mineradora (diferentemente do que ocorria na economia açucareira); no entanto, a Coroa não investiu diretamente na região, deixando à iniciativa privada a exploração das riquezas minerais.
A mineração contribuiu para o esvaziamento econômico do Nordeste e transferiu para o Centro-Sul o eixo político da colônia, de que seria exemplo marcante a mudança da capital, de Salvador para o Rio de Janeiro.
Item certo!
É isso mesmo. O deslocamento do eixo dinâmico da economia colonial para o Centro-Sul do Brasil é acompanhado da concentração de poder político nessa região. Tudo isso contribuiu para o esvaziamento da economia e da representação política nordestina.
O processo de colonização do Brasil, tal como o ocorrido nas demais colônias ibero-americanas, subordinou-se, em linhas gerais, ao processo de surgimento do capitalismo europeu de base mercantil e de sua afirmação ao longo da Idade Moderna.
Item correto!
Exatamente. As companhias de exploração e de extração de riquezas coloniais foram, em larga medida, as instituições do capitalismo mercantilista que se estabeleceu na América ibérica durante a colonização.
Latifúndio, escravidão e monocultura foram os traços definidores da colonização portuguesa em terras americanas, nela prevalecendo a produção voltada para o mercado externo.
Item correto!
Isso mesmo. O item descreve, brevemente, as características do sistema de plantation estabelecido pelos portugueses no Brasil.
À época da independência, a economia colonial podia ser descrita de maneira simplificada. Era composta por: latifúndios voltados para a produção de mercadorias exportáveis, como o açúcar, o tabaco, o algodão; fazendas dedicadas à produção para o mercado interno (feijão, arroz, milho) e à criação de gado, estas sobretudo no norte e no sul; e centros mineradores já em fase de decadência. Acrescente-se, ainda, grande número de pequenas propriedades voltadas para a agricultura e a pecuária de subsistência. Nas cidades costeiras, capitais de províncias, predominavam o grande e o pequeno comércio. Os comerciantes mais ricos eram os que se dedicavam ao tráfico de escravos. A única alteração importante nessa economia deu-se com o desenvolvimento da cultura do café. Já na década de 30, o produto assumira o primeiro lugar nas exportações. Mas o café não mudou o padrão econômico anterior: era também um produto de exportação baseado no trabalho escravo. Esse modelo sobreviveu ainda por mais cem anos. Só começou a ser desmontado após 1930. As conseqüências da hegemonia do café foram principalmente políticas. O fato de se ter ela estabelecido a partir do Rio de Janeiro ajudou a consolidar o novo governo do país, sediado nesta província. Se não fosse a coincidência do centro político com o centro econômico, os esforços da elite política para manter a unidade do país poderiam ter fracassado.
J. M. de Carvalho. Fundamentos da política e da sociedade brasileiras. In: L. Avelar e A. O. Cintra (orgs.). Sistema político brasileiro: uma introdução. Rio de Janeiro: Fundação Konrad-Adenauer-Stiftung; São Paulo: Fundação UNESP, 2004, p. 23.
Item 7
Infere-se do texto que a existência de um mecanismo definidor das relações de dominação e de dependência entre metrópoles e colônias — o pacto colonial — inviabilizava, na prática, o desenvolvimento, na colônia, de atividades econômicas não diretamente voltadas para a exportação.
Item errado!
O item está errado porque o “pacto colonial” não impedia atividades econômicas alheias ao mercado externo. No Brasil, por exemplo, havia intensa atividade produtiva voltada para o mercado interno, com grande produção de charque, roupas para escravos e alimentos para a subsistência da população.