Bloqueadores Neuromusculares Flashcards

Questões para fixação de conteúdo relacionado a bloqueadores neuromusculares. Material de Referência: Ciências Básicas em Anestesiologia, Vol. 1. Capítulo 11: Bloqueadores Neuromusculares e Reversores. Sociedade Brasileira de Anestesiologia, Rio de Janeiro, 2022.

1
Q

Quais as características dos neurônios motores somáticos?

A

Grande diâmetro, mielinizados e de condução rápida.

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2
Q

Onde estão localizados os corpos celulares dos neurônios motores inferiores?

A

No corno ventral da medula espinhal.

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3
Q

Quais elementos constituem a junção neuromuscular (JNM)?

A

Neurônio motor pré-sináptico, fibra muscular pós-sináptica e fenda sináptica.

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4
Q

Qual é o tamanho da fenda sináptica? Qual enzima está localizada no seu interior?

A

De 50 a 70 nm, contém a enzima acetilcolinesterase.

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5
Q

Como ocorre o estímulo para a contração muscular na JNM?

A

O potencial de ação do nervo motor é convertido em sinal químico pela acetilcolina (ACh), que é transformada em um evento elétrico - a despolarização da membrana pós-sináptica - e provoca a resposta mecânica da contração muscular.

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6
Q

O que é a razão de inervação e o que esta determina?

A

Corresponde ao número de fibras musculares que cada neurônio inerva e determina a precisão da contração muscular. Por exemplo, grupos musculares de controle fino têm razão de inervação próxima a 1:2, já os responsáveis por movimentos mais grosseiros se aproxima de 1:2000.

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7
Q

A quais receptores a acetilcolina se liga na JNM e onde estão localizados?

A

Aos receptores nicotínicos da acetilcolina do tipo muscular (nAChRs), localizam-se nas dobras da membrana pós-sináptica do músculo.

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8
Q

Quais as diferenças estruturais entre nAChRs imaturos e maduros?

A

Os imaturos estão presentes antes do nascimento, em baixa densidade e são compostos por cinco subunidades de proteínas: duas alfa, uma beta, uma gama e uma delta. Tornam-se maduros após o nascimento, com a substituiçãoa da subunidade gama por uma subunidade épsilon, com aumento da densidade de receptores.

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9
Q

Onde ocorre a ligação da ACh nos nAChRs? O que esta ligação induz?

A

Nas duas subunidades alfa dos nAChRs, induzindo uma mudança conformacional do receptor, que abre o poro, permitindo o influxo de sódio e o efluxo de potássio. Assim ocorre a despolarização da membrana da célula muscular.

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10
Q

O que é quanta de ACh e como esta é liberada?

A

A quanta é a quantidade de móleculas de ACh liberadas por exocitose das vesículas pré-sinápticas, por volta de 5000-1000. Com a despolarização do neurônio motor, os canais de cálcio controlados por voltagem se abrem e a exocitose ocorre para a fenda sináptica.

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11
Q

Quais os fatores antagonizam a liberação da quanta de ACh?

A

Hipocalcemia e hipermagnesemia.

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12
Q

Como a ACh funciona como substrato para sua ressíntese?

A

Após a ligação aos receptores pós-sinápticos, a ACh é hidrolisada pela acetilcolinesterase em colina e acetato. A colina entra novamente no terminal pré-sináptico para a ressíntese da ACh.

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13
Q

Quais as diferenças funcionais entre os nAChRs imaturos e maduros?

A

Os imaturos têm maior sensibilidade aos agonistas (ACh e SCh), são menos sensíveis aos BNM adespolarizantes e o tempo de abertura de seus canais é até dez vezes maior do que o dos receptores maduros.

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14
Q

Quais situações clínicas levam ao aumento (up-regulation) de nAChRs imaturos?

A

Quando a frequência de estimulação da JNM diminui, como nos casos de queimaduras graves, imobilização prolongada, sepse, acidentes cerebrovasculares e uso prolongado de BNMs.

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15
Q

Qual o risco associado à utilização de BNM despolarizante em pacientes com aumento de nAChRs imaturos?

A

O tempo de abertura do canal de nAChRs imaturos é dez vezes superior ao de nAChRs maduros, o que implica em liberação sistêmica de quantidades maiores e até letais de potássio intracelular com a administração de SCh.

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16
Q

Quais situações clínicas levam à diminuição (down-regulation) de nAChRs maduros?

A

Quando há estimulação sustentada por agonista, como uso crônico de acetilcolinesterásicos (miastenia gravis, por exemplo) e intoxicação por organofosforados.

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17
Q

Quais as consequências clínicas do down-regulation de nAChRs maduros?

A

Resistência à SCh e sensibilidade intensa aos BNMs adespolarizantes.

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18
Q

Qual o mecanismo de ação dos BNMs despolarizantes? Quais as substâncias disponíveis deste grupo?

A

Os BNMs despolarizantes possuem estrutura química semelhante à ACh e agem como agonistas nos nAChRs, levando à despolarização A succinilcolina (SCh) é o único BNM despolarizante disponível na prática clínica.

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19
Q

Qual o mecanismo de ação dos BNM adespolarizantes?

A

Competem com a ACh pelos sítios de ligação nas duas subunidades alfa, impedindo o funcionamento dos nAChRs.

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20
Q

Qual a definição de DE50% para BNMs?

A

Uma dose de BNM que deprime a intensidade da contração muscular basal em 50% (dose efetiva 50%).

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21
Q

Como a potência dos BNMs é expressa?

A

Pela dose necessária para deprimir a contração basal em 95% durante a estimulação nervosa em 50% dos indivíduos - DE95%.

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22
Q

Quais fatores afetam o início de ação dos BNMs? E como?

A
  • Dose (maior dose, menor o tempo de início de ação)
  • Velocidade da mólecula ao local de ação (fluxo sanguíneo, velocidade de injeção) (maior velocidade, menor início de ação)
  • Afinidade ao receptor (maior afinidade, menor início de ação)
  • Potência da substância ( maior potência, maior tempo de início de ação)
  • Mecanismo de ação (despolarizantes têm início de ação mais rápido)
  • Depuração plasmática
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23
Q

Qual a definição da duração total da ação dos BNMs?

A

O tempo decorrido desde a administração do medicamento até a recuperação espontânea da força muscular basal (TOF>=90%).

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24
Q

Ao que se relaciona a duração de ação do BNM?

A

À dose total admnistrada.

25
Q

Qual a definição de índice de recuperação para BNMs? Qual sua implicação clínica?

A

É o tempo de recuperação espontânea de 25-75% da força muscular basal em relação aos valores de controle, não é afetada significativamente pela dose administrada de BNM.

26
Q

Quais as classificações dos BNMs adespolarizantes em relação à estrutura química? Quais as características de cada grupo? Cite representantes.

A
  • Aminoesteroides: possuem pelo menos um grupamento amônio quaternário ligado a um anel esteróide. Eles tendem a não causar liberação de histamina e a sua maioria é metabolizada em um
    órgão-alvo antes da excreção. Exemplos: vecurônio, rocurônio, pancurônio.
  • Benzilisoquinolíticos: consistem de dois grupamentos amônios quaternários ligados entre si por uma cadeia de
    grupos metil. São mais suscetíveis à hidrólise no plasma e causam liberação de histamina. Exemplos: mivacúrio, atracúrio, cisatracúrio.
27
Q

Quais são as características exclusivas do bloqueio com BNMs adespolarizantes?

A
  • Fenômeno da fadiga
  • Potenciação pós-tetânica
28
Q

O que é o fenômeno da fadiga? Como ocorre?

A

Ocorre fadiga da magnitude de resposta durante os padrões de
estimulação em sequência de quatro estímulos e contagem pós-tetânica. A fadiga ocorre devido à ação dos BNMs adespolarizantes nos receptores pré-sinápticos, que antagonizam a ação da ligação da ACh a estes (impedindo a mobilização de ACh por mecanismo de feedback).

29
Q

O que é o fenômeno de potenciação pós-tetânica? Como ocorre?

A

Amplificação transitória da resposta aos estímulos após um período de estimulação tetânica. O estímulo padronizado é de 5 segundos e a facilitação da transmissão dura de 2 a 3 minutos. Ocorre pela liberação de quantidades crescentes de ACh na fenda sináptica após a estimulação tetânica.

30
Q

Qual a implicação clínica relacionada aos BNMs adespolarizantes possuírem moléculas ionizáveis e hidrossolúveis?

A

Por este motivo, distribuem-se principalmente no líquido extracelular (LEC). Portanto, em situações clínicas que cursam com o aumento de LEC (insuficiência renal ou hepática), doses maiores dessas substâncias podem ser necessárias inicialmente.

31
Q

Qual a relação do início de ação dos BNMs adespolarizantes com a potência do agente específico?

A

Agentes menos potentes necessitam da infusão de mais moléculas para alcançar a DE95%, gerando maior gradiente de concentração entre plasma e biofase, implicando em início de ação mais rápido para agentes menos potentes (menor potência, menor tempo de início de ação).

32
Q

Como ocorre a resolução do bloqueio muscular por BNMs adespolarizantes?

A

Por não serem metabolizados na JNM, a resolução do bloqueio é decorrente de um efeito dilucional da droga à medida em que o tempo passa.

33
Q

Sobre o atracúrio:
- qual a DE95%?
- tempo de início de ação?
- duração de ação?
- metabolização?

A
  • DE95%: 0,2 mg/kg
  • 3 a 5 minutos
  • 20 a 40 minutos
  • dois terços por esterases plasmáticas, um terço por mecanismo de Hoffmann
34
Q

Sobre o cisatracúrio:
- qual a DE95%?
- tempo de início de ação?
- duração de ação?
- metabolização?

A
  • 0,05 mg/kg
  • 3 a 5 minutos
  • 20 a 40 minutos
  • 100% pelo mecanismo de Hoffmann
35
Q

Sobre o mivacúrio:
- qual a DE95%?
- tempo de início de ação?
- duração de ação?
- metabolização?

A
  • 0,15-0,2 mg/kg
  • 2 a 3 minutos
  • 10 a 20 minutos
  • hidrolisado pela colinesterase plasmática.
36
Q

Quais as principais características da liberação histaminérgica do:
- atracúrio?
- cisatracúrio?
- mivacúrio?

A
  • Atracúrio: dependente da dose e da velocidade de infusão.
  • Cisatracúrio: muito menor do que com o uso de atracúrio, não é clinicamente significativa.
  • Mivacúrio: pode ser intensa em doses maiores que 0,2 mg/kg, causando hipotensão significativa.
37
Q

Sobre o rocurônio?
- qual a DE95%?
- tempo de início de ação?
- duração de ação?
- metabolização?

A
  • 0,3 mg/kg
  • 1 a 2 minutos
  • 20 a 60 minutos
  • Metabolizado pelo fígado, excretado na bile e pelo rim (30%).
38
Q

Sobre o vecurônio:
- qual a DE95%?
- tempo de início de ação?
- duração de ação?
- metabolização?

A
  • 0,05 mg/kg
  • 3 a 5 minutos
  • 20 a 60 minutos
  • Metabolizado pelo fígado, excretado na bile e pelo rim (30%).
39
Q

Sobre o pancurônio:
- qual a DE95%?
- tempo de início de ação?
- duração de ação?
- metabolização?

A
  • 0,07 mg/kg
  • 3 a 5 minutos
  • 60 a 120 minutos
  • Metabolizado pelo fígado, excretado pelo rim.
40
Q

Qual BNM possui ação vagolítica? Qual o mecanismo?

A

Pancurônio. Tem ação vagolítica e simpaticomimética por inibição da recaptação pré-sináptica da noradrenalina.

41
Q

Quais os BNMs com maior incidência de reações alérgicas?

A

SCh e rocurônio.

42
Q

Quais pacientes podem apresentar maior potência do rocurônio?

A

Mulheres e idosos.

43
Q

Sobre a succinilcolina:
- qual a DE95%?
- tempo de início de ação?
- duração de ação?
- metabolização?

A
  • 0,3 mg/kg
  • 60 segundos (após a dose de 1 mg/kg)
  • 9 a 13 minutos ( respiração espontânea pode retornar após 5 min)
  • colinesterase plasmática.
44
Q

O que é o bloqueio de fase II e quando é possível ser obtido com SCh?

A

O bloqueio de fase II é típico do bloqueio adespolarizante, quando há fadiga progressiva. Com o uso de SCh, é visto com doses maiores que 3 a 5 mg/kg.

45
Q

Quais condições clínicas reduzem a atividade da colinesterase plasmática ?

A

Hepatopatia
Idade avançada
Alguns ACO
Desnutrição
Queimadura
Doença neoplasica
Metoclopramida
Esmolol (redução mínima)
Anticolinesterásicos
Gestação

46
Q

Qual a implicação do uso de anticolinesterásicos após a administração de SCh?

A

Os anticolinesterásicos têm a capacidade de prolongar o efeito relaxante da SCh por inibição direta da pseudocolinesterase, permitindo que uma quantidade maior do fármaco alcance as fibras musculares, amplificando sua duração.

47
Q

Quais os efeitos cardiovasculares da SCh? Quem está mais vulnerável a esses efeitos?

A

A SCh pode mimetizar a ACh no coração e causar bradicardia e até assistolia, especialmente adultos após a segunda dose e crianças.

48
Q

Qual alteração nos níveis de potássio é esperada após administração de SCh?

A

Elevação dos níveis de potássio de 0,1 a 0,5 meq/L.

49
Q

Quais situações clínicas estão relacionadas a maior risco de hipercalemia grave com a administração de SCh?

A

Queimaduras
Politrauma com mais de 24-72h
Hemiplegia ou paraplegia
Guillain-barre
Distrofias musculares
Imobilidade por mais de 48h
Infecção abdominal grave
Acidose metabólica grave
Sepse
TCE

50
Q

Qual a chance de anafilaxia na administração de SCh?

A

1:10.000 administrações

51
Q

Qual a manifestação clínica da despolarização após o uso de SCh? Quais eventos se seguem?

A

Fasciulações musculares, seguida por dessensibilização dos receptores, implicando em paralisia flácida.

52
Q

O que é considerado recuperação adequada do bloqueio neuromuscular?

A

Resposta motora a um estímulo TOF maior ou igual a 0,9. Neste nível, a maioria das funções respiratórias e motoras retorna ao estado basal.

53
Q

Qual a consequência da administração de anticolinérgicos na ausência de bloqueio neuromuscular?

A

Pode comprometer a função muscular do geniglosso e assim, o diâmetro das vias aéreas superiores.

54
Q

Qual o mecanismo de ação dos agentes anticolinesterásicos?

A

Inibem a hidrólise da ACh com a inibição da acetilcolinesterase. O aumento resultante da ACh na fenda sináptica gera antagonismo competitivo com os BNMs adespolarizantes.

55
Q

Em quais situações não é indicado reversão do bloqueio neuromuscular com anticolinesterásicos?

A
  • em bloqueios musculares profundos, pela alta taxa de ocupação dos receptores pelos BNMs.
  • em bloqueios musculares despolarizantes (uso de SCh), pela inibição da pseudocolinesterase pode prolongar a duração da SCh.
56
Q

Quais os efeitos colaterais dos anticolinesterásicos?

A

Os anticolinesterásicos não apresentam seletividade para os receptores muscarínicos da JNM, agindo em todas as sinapses colinérgicas e resultando em atividade parassimpaticomimética.
- prolongamento do intervalo QT
- risco aumentado de náuseas e vômitos pós-operatórios
- broncoespasmo
- sialorreia e broncorreia
- alteração da motilidade intestinal

57
Q

Qual a importância da associação de anticolinérgicos aos anticolinesterásicos?

A

Para atenuar os efeitos parassimpaticomiméticos dos anticolinesterásicos.

58
Q

Quais anticolinérgicos podem ser associados, suas características e doses?

A
  • atropina: 0,01-0,02 mg/kg. Início de ação precoce, maior elevação da frequência cardíaca e passagem da barreira hematoencefálica.
  • glicopirrolato: 0,005- 0,01 mg/kg. Sem passagem pela barreira hematoencefálica.